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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Palestras alertam para risco provocado pela exposição à radiação de celulares e antenas de telefonia

Depressão, falta de sono, déficit de atenção, fadiga e câncer. De acordo com a engenheira Adilza Condessa Dode, todos esses sintomas estão fortemente associados à radiação não-ionizante provocada por celulares e antenas de telefonia. Palestrante do Centro de Estudos da ENSP da última quarta-feira (22/8), ela apresentou dados de sua tese de doutorado no Programa de Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, da Universidade Federal de Minas Gerais, cujo resultado constatou que mais de 80% das pessoas que morreram de cânceres relacionados à radiação eletromagnética - emitida pelos celulares - moravam a cerca de 500 metros de distância de alguma antena. O estudo foi publicado na revista internacional Science of the Total Environment, e a atividade foi coordenada pela médica do Centro de Saúde Escola Valéria Lino.
 
Segundo dados divulgados pela empresa Inteligência em Telecomunicações (Teleco - 2015), o Brasil alcançou em janeiro de 2015 o quantitativo de 281,7 milhões de celulares, uma relação de cerca de 138,3 aparelhos celulares para cada 100 habitantes. 
 
O que agrava a situação, na opinião da palestrante, é que exposição também acontece quando o celular está em modo stand-by – pois há comunicação com a antena de telefonia mais próxima para troca de sinal mesmo com o aparelho desligado -, e não somente durante as ligações. 
 
Classificação de risco da Iarc
 
Em maio de 2011, a Agência Internacional de Pesquisas sobre Câncer classificou os campos eletromagnéticos de radiofrequência no grupo 2B, ou seja, como possíveis causadores de câncer para os humanos, com base no aumento do risco de giloma, um tipo maligno de câncer de cérebro associado ao uso de telefones sem fio. 


 
Com base nessa classificação e apoiada nas normas da Comissão Internacional de Proteção contra Radiação Não-Ionizante, Adilza revelou que o tempo médio de uso fixo indicado para celular é de no máximo seis minutos, de preferência com fone de ouvido, ou pelo viva-voz e mensagens de texto, além da consulta ao manual do aparelho para verificar a quantidade e emissão de radiação. Para as crianças, o melhor é proibir. “A exposição é muito pior nas crianças. Os campos eletromagnéticos dos celulares são absorvidos mais profundamente dentro dos seus cérebros do que dos adultos. Quanto mais rápido as células estão crescendo, maior a chance de serem danificadas”, destacou a professora.
 
Óbitos por neoplasias x proximidade das antenas 
 
Entre os 22.543 casos de morte por câncer ocorridos em Belo Horizonte de 1996 a 2006, Adilza Dode selecionou 4.924, cujos tipos – próstata, mama, pulmão, rins, fígado, por exemplo – são reconhecidos na literatura científica como relacionados à radiação eletromagnética. 
 
Na fase seguinte, elaborou metodologia, utilizando o geoprocessamento da cidade, para descobrir a que distância das antenas moravam as 4.924 pessoas que morreram no período. “A até 500 metros de distância das antenas, encontrei 81,37% dos casos de óbitos por neoplasias”, conta a pesquisadora, professora do Centro Universitário Izabela Hendrix e da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais.
 
Para o físico Tarcísio Cunha, também presente no Centro de Estudos, a exposição à radiação é crônica, prolongada, principalmente porque a emissão das torres de telefonia é permanente. “Crianças são geradas embaixo de campo magnético, se desenvolvem na barriga da mãe, nascem e crescem com essa exposição. E a saúde tem que responder”, alertou.
 
Estímulo ao telefone fixo e redução do wi-fi
 
As possíveis respostas, de acordo com sua apresentação, devem contemplar uma gestão de risco em saúde que leve em consideração o direito à informação e ações de precaução que visem à redução de riscos, incluindo o mapa de riscos.
 
Naiara Chirlei Ferreira Martins, que apesentou o diagnóstico ambiental dos campos eletromagnéticos no Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, sugeriu uma reavaliação da Lei Federal sobre a exposição aos campos eletromagnéticos. Ela ainda alertou para adoção de padrões de exposição humana bem mais restritivos, como já são adotados em diversos outros países e cidades.
 
A expositora reforçou a necessidade de medidas de precaução para que os telefones celulares sejam utilizados em caso de extrema necessidade, além do desestímulo ao uso dos aparelhos pelas crianças; que se dê preferência ao telefone fixo, bem como a utilização de internet com cabo, e não via Wi-Fi. “Devemos criar áreas livres destas radiações, devido às pessoas hipersensíveis aos campos eletromagnéticos, e informar o público acerca dos riscos potenciais da energia eletromagnética e de como adotar medidas de prevenção”.


 
Guilherme Franco Netto, da vice-presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, fez o retrospecto de um problema “considerado relativamente novo” pela comunidade científica, que emergiu há menos de 25 anos. “O Brasil entrou de forma relevante na discussão, com conhecimento do que acontece no cenário internacional e sistematizando processos para divulgar a temática”. 
 
A coordenadora da atividade, a médica Valéria Lino, revelou que a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca buscará parcerias para realizar a medição de radiações eletromagnéticas no campus Fiocruz.