A exposição é composta de duas peças de caráter escultórico. Uma, intitulada “Ho-ba-la-lá”, é formada por duas pedras de mármore branco unidas entre si e também presas à parede por finos cabos de aço. A outra, “Felicidade de arranha-céu”, é um arranjo com chapas de zinco, cal e vidro fumê. As peças são posicionadas de modo a estabelecer relações entre o espaço interno da galeria e o espaço da rua.
Há uma instabilidade estrutural em cada uma delas. Em “Ho-ba-la-lá”, as duas metades do mármore fendido são circundadas por um cabo de aço, que as mantém atadas. Um outro cabo prende o conjunto à parede, atravessando-a, sumindo mesmo ali, não deixando entrever o que é que sustenta tamanho peso. O conjunto inclina-se até o limite tenso entre sustentação e queda. Já em “Felicidade de arranha-céu”, o que “está por um fio” é uma grossa chapa de vidro escuro colocada entre o pó e as chapas de zinco. Essas chapas tamanho padrão, de fábrica, posicionadas numa das quinas, rentes à parede, esticam-se do chão quase ao teto. No solo e colado à chapa, o pó de cal solto se amontoa.
Entre os dois, apoiada num único ponto na parte alta, prestes a escorregar pelo zinco, a chapa de vidro fumê equilibra-se fragilmente. Haveria nesse jogo de tensões e oposições algo além da mera justaposição de materiais tomados da arquitetura e da construção. Materiais que costumamos encontrar solidamente postados porque frágeis (e caros ?) estão em risco. E o risco, aqui, exige uma visitação mais atenta. Haveria algo de desconfortável no corpo a corpo com essas peças e materiais, mas também algo de sedutor (e perigoso ?). Os mármores pesados parecem leves e desafiam uma fruição mais próxima. Separados, voltam a juntar-se por um artifício externo: um simples cabo metálico posicionado de forma a unir e manter a peça no seu estado de tensão máxima. Já o vidro, escuro mas também transparente parece pouco à vontade entre o zinco e a cal. Um artifício de outra natureza, prestes a ruir ao mais leve toque. Aparentemente não há nada que o mantenha em segurança nesse estado.
Um corpo estranho, um pouco como se retirássemos a sombra do vão das pedras e a posicionássemos ali, entre o metal e o pó. Se aqui (como a canção de Herivelto Martins insinua) construímos nossas “felicidades de arranha-céu”, é fundamental investigar em que bases se dá esse gesto, e que relações o governa.
Eduardo Climachauska: Felicidade de arranha-céu
22 de maio de 2012› 23 de junho de 2012
Rua Teixeira de Melo, 31c - Ipanema - Rio de Janeiro - Brasil - 22410-010 | t/f + 55 21 2513 2074
© 2011 Galeria Laura Marsiaj
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