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sábado, 2 de junho de 2012

Artigos: O Envelhecimento e os Processos Degenerativos



O envelhecimento da população é um fenômeno mundial e tem conseqüências diretas nos sistemas de saúde pública. No Brasil, os idosos que representavam apenas 3,2% da população geral de 1900 e 4,7% em 1960, poderão atingir 13,8% no ano de 2025. No período de 1960 a 2025, espera-se que o crescimento da população idosa seja de 917% enquanto o ritmo de aumento da população total deverá cair para 250%. Hoje, temos aproximadamente 11 milhões de pessoas com mais de 60 anos e projeções indicam que seremos o 6º país do mundo em número de idosos com aproximadamente 32 milhões no ano de 2020. Uma das principais conseqüências do crescimento desta parcela da população é o aumento da prevalência das demências, caracterizadas por quadros de amnésia (perda de memória). Podemos elencar diversos fatores associados à perda de memória, tais como: stress, obesidade, depressão, fumo, drogas, diabetes, etc, os quais aceleram a perda de densidade cerebral.


Ivan Izquierdo, cientista argentino, radicado no Brasil e professor emérito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, define memória como “aquisição, conservação e evocação de informações”. Ou seja, é um processo pelo qual adquirimos, ou seja, aprendemos uma determinada informação; consolidamos, ou seja, guardamos tal informação e, por último, nos recordarmos. Seguindo essa lógica, a falha ou falta de evocação denominar-se-ia esquecimento. Uma falha mais geral, em linguagem técnica seria chamada de amnésia. 


É bom lembrar que um dos fatores determinantes para a ocorrência de episódios demenciais é a perda de memória, o que é um evento altamente dramático não só para quem sofre o processo amnésico, mas também para os familiares/cuidadores. Larry Squire e Eric Kandel, neurocientistas que têm se dedicado ao estudo da 
memória reforçam a idéia da dramaticidade dos episódios demenciais ao afirmarem que “a perda da memória conduz à perda do sentimento de si, à perda da nossa história de vida e à perda de interações duradouras com os outros seres humanos”.






 









Ivan Izquierdo reforça essa idéia ao afirmar que: “somos aquilo que recordamos”. Algumas observações para entendermos o processamento de memória são importantes. Primeiro, os estados emocionais são os principais moduladores para a formação de memória. Ou seja, na maioria das vezes não temos autonomia para decidir o que vai ser armazenado. Em segundo lugar, memória e aprendizagem são fenômenos intimamente relacionados. Terceiro, conforme William Scoville e Brenda Milner e seus colaboradores da Universidade McGill do Canadá, existem diferentes sistemas de memória, os quais podem ser classificados quanto à duração (imediata; de curta duração e de longa duração) e quanto ao conteúdo ou função (memória de trabalho, memória de procedimento e memórias declarativas, as quais podem ser autobiográficas ou semânticas). Os diferentes sistemas de memória são processados em diferentes regiões do cérebro, o que nos leva a crer que não há um ‘local’ ou um ‘disco rígido’ onde a memória é armazenada. Cabe salientar que, em relação à formação de novas memórias, duas estruturas, entre outras, são fundamentais: o córtex entorrinal (hipocampo) e o córtex pré-frontal; a primeira fundamental na formação de novas memórias e, a segunda, relacionada a diversos tipos de demência. Por fim, temos que considerar que, a media que aprendemos, modificamos a estrutura de nosso cérebro. 



Estudos realizados no sentido de demonstrar que atividades intelectuais podem modificar a estrutura do nosso cérebro datam década de 70. Mais recentemente, na década de 90, Mark Rosenzweig e seus colaboradores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, têm demonstrado, a partir de estudos com modelos animais, que a experiência e o treino alteram a estrutura do cérebro. Tal fenômeno recebe o nome de plasticidade neural. Isso nos leva a considerar que atividades físicas e intelectuais, não só em pessoas mais jovens, mas também e, principalmente em idosos, são fundamentais para a manutenção de uma memória saudável. Tal afirmação pode ser justificada pelos seguintes fatores: 



1) Atividades físicas melhoram a circulação sanguínea e, consequentemente a irrigação cerebral, prevenindo assim o acidente vascular encefálico; quadros demenciais e depressivos. 



2) É fato natural que, com o envelhecimento, nossa capacidade de formar novas memórias torna-se, em decorrência de diversos fatores, prejudicado, ao passo que, em situações normais, as memórias consolidadas, ou seja, antigas, são preservadas. Nesse contexto, atividades intelectuais colaboram para manter os sistemas de memória ativos. 



3) A plasticidade é um fenômeno que, mesmo em menor escala, continua por toda a vida e, portanto em pessoas idosas. Portanto, em condições normais, somos responsáveis não só pela construção, mas também pela manutenção de nossa memória.