Elevado ao status de protagonista no meio cinematográfico internacional, o cinema romeno tem ganho especial atenção da crítica nos últimos anos. Com inúmeros prêmios e indicações em festivais como Berlim, Locarno, Veneza, Sundance e principalmente Cannes, ele vem se destacando como um dos mais importantes expoentes da realização cinematográfica contemporânea.
Emergindo em sua maioria por investidas individuais, o dito cinema romeno contemporâneo deve ser entendido como um fenômeno – e não uma indústria ou um movimento. A “nouvelle vague” do cinema romeno (denominação dada pela crítica internacional) surge com uma geração de jovens realizadores, surgidos no início dos anos 2000, com um conjunto de afinidades estéticas e temáticas entre seus filmes.
Suas obras geralmente se destacam como produções de baixo orçamento, com abordagens realistas e minimalistas, tratando de dramas individuais de personagens ora desolados, ora esperançosos, ora sonhadores e ora pragmáticos. Esses filmes costumam retratar um cotidiano povoado por crises quase sempre ligadas ao regime comunista, ou seu legado. É um cinema que reflete e apresenta um cenário de transição política, social e econômica pelo qual passa o país desde a queda do ditador Nicolae Ceauşescu, em 1989.
Mesmo que já tenha atingido um status de grande importância no cenário mundial, a produção cinematográfica na Romênia ultrapassa, em pouco, uma dezena de títulos anuais. Em sua maioria são filmes independentes, alguns com pequeno financiamento estatal, com orçamentos que giram em torno de 500 mil euros – valor considerado miúro nos contextos europeu e norte-americano.
Perante o retrato de um país assolado por crises políticas, um olhar crítico em relação ao panorama mais amplo de sua produção artística é uma manifestação de resistência cultural importante. Por outro lado, a observação das veredas históricas e culturais que se seguiram após um evento traumático em um país desconhecido do Leste Europeu também pode ajudar a classe artística brasileira a verificar novos rumos possíveis para nossa própria história.
Segundo o cineasta Cristian Mungiu (diretor de 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias), foi preciso aparecer uma nova geração de cineastas para entender o que havia acontecido na Romênia durante o período comunista e na atualidade, na qual o país ainda tenta se adaptar a uma nova realidade capitalista cambaleante.
A influência do novo cinema romeno na história recente do cinema contemporâneo parece tão relevante que obras como A Morte do Senhor Lazarescu, Como Festejei o Fim do Mundo, A Leste de Bucareste e 4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias passaram a ser reconhecidas como exemplos, não apenas de uma geração romena mas de um momento cinematográfico mundial.
Entre os 17 títulos selecionados para a mostra, a maioria teve repercussão bastante significativa nos principais festivais de cinema do mundo, mas poucos tiveram a devida atenção do público brasileiro. Conhecemo-los, no mais das vezes, pelo impacto que causaram na crítica especializada ou pelos raros exemplos que foram exibidos em salas comerciais no Brasil.
Para preencher esta grave lacuna cultural, a mostra pretende oferecer ao público carioca a oportunidade de conhecer um cinema de grande relevância no cenário internacional e pensar como um país com um parque cinematográfico tão pequeno pôde se tornar uma referência paradigmática para o cinema contemporâneo. Entender como esses filmes – e suas opções temáticas e estilísticas – relacionam-se com a produção cinematográfica contemporânea parece fundamental para se discutir o futuro da sétima arte.
*Os filmes serão exibidos em formato digital com a exceção do filme A Leste de Bucareste, que será em 35mm.
DEBATE 1: O CINEMA ROMENO E O SUCESSO DA CRÍTICA
Dia 19/01 – Juliano Gomes e Pedro Henrique Ferreira.
Elevado ao status de protagonista no meio cinematográfico internacional, o cinema romeno tem ganho destaque e especial atenção da crítica nos último anos. Com inúmeros prêmios e indicações em festivais como Berlim, Locarno e principalmente Cannes, ele vem se solidificando como um fenômeno do cinema contemporâneo.
Entender como estes filmes – e suas opções temáticas, narrativas e estilísticas – se relacionam com uma produção européia contemporânea parece fundamental para se discutir o futuro da sétima arte. Sua influência hoje parece tão relevante que algumas de suas obras passaram a ser reconhecidas como exemplos não apenas de uma geração romena, mas de um momento cinematográfico mundial.
A proposta desse encontro é discutir sobre a recepção da crítica internacional, o sucesso desses filmes nos principais festivais do mundo e entender seu lugar dentro da produção contemporânea.
DEBATE 2: A CRISE POLÍTICA DO LESTE EUROPEU, SEU REFLEXO NO CINEMA E AS POSSÍVEIS RELAÇÕES COM O CINEMA BRASILEIRO.
Dia 26/01 – Daniel Caetano e Hernani Heffner
Para se entender um pouco melhor sobre o fenômeno do novo cinema romeno, parece necessário olhar para seu passado recente e entender um pouco mais sobre esse difícil processo de transição política e econômica que passou o país após a queda do ditador Nicolae Ceausescu, em 1989.
Nesse encontro, os debatedores discutirão o reflexo dessas tranformações políticas e econômicas nos filmes – seja no modo de produção, ou seja nas opções narrativas e estéticas – e seus possíveis paralelos com o cinema brasileiro.