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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ENSP discute pedagogia das ruas no Fórum Social Mundial

Com a intenção de discutir o nível de compreensão dos processos político-pedagógicos surgidos em consequência dos movimentos de massa que vêm ocorrendo em nosso país desde junho de 2013, o pesquisador do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental (DSSA/ENSP), Paulo Roberto de Abreu Bruno levou este debate ao Fórum Mundial de Educação (FME). O encontro, que faz parte do Fórum Social Mundial (FSM), teve foco em projetos de educação popular e de enfrentamento ao neoliberalismo, seja em esferas públicas, governamentais ou não, coletivas ou de pesquisa. O trabalho de Paulo Bruno Elementos para a análise da pedagogia das ruas: um esboço sobre a contrapartida à ‘Pedagogia do Terror’, foi apresentado no eixo temático Pedagogia, Territórios e Resistências. 
 
Paulo Bruno, que vem desenvolvendo pesquisas no campo dos movimentos populares urbanos, passou quatro dias detido pela polícia em decorrência de sua participação na manifestação a favor dos professores, realizada em outubro de 2013, no Rio de Janeiro. Além de sua prática teórica na área em que atua, o pesquisador acrescentou à suas pesquisas a experiência empírica vivida na ocasião. Paulo Bruno foi detido nas escadarias da Câmara Municipal do Rio de Janeiro enquanto colhia material de campo e fazia registros fotográficos e em vídeo da manifestação.
 
O trabalho de Paulo Bruno no Fórum discutiu o contexto político e social no qual os processos se desenvolvem e ainda as formas como eles se expressam. O pesquisador argumentou que, “estas formas estão relacionadas e/ou são, de certo modo, influenciadas por uma outra pedagogia, cujas origens encontram-se em períodos mais distantes da história da sociedade brasileira, caracterizada pela utilização do terror como mecanismo de imposição de valores e de comportamentos”. 
 
Na discussão proposta em sua apresentação, comentou Paulo bruno, “a ‘Pedagogia do Terror’ corresponderia à repressão estatal aos movimentos que se realizam nos espaços públicos”. Segundo ele, esta repressão realiza-se através de atos sistemáticos de violência física e psicológica. “Nesse sentido, a pedagogia das ruas constitui-se, em certa medida, na contrapartida à essas formas de repressão. Daí o título da comunicação”, explicou ele.
 
O trabalho apresentado no FME corresponde a uma etapa do estudo sobre a pedagogia das ruas. De acordo com Paulo Bruno, ao apresentá-lo num ambiente de debate, como o propiciado nesse Fórum, buscou-se estabelecer um espaço de diálogo ampliado necessário para a construção de pesquisas que não se restrinjam aos gabinetes dos seus autores ou, apenas, aos ambientes acadêmicos.
 
O pesquisador detalhou que as observações e registros produzidos ao longo dos últimos sete meses têm sido objetos de análise, com o apoio da revisão sistemática de literatura específica sobre movimentos sociais e seus processos político-pedagógicos. Ele destacou que pelo tempo de desenvolvimento da pesquisa e pela dinâmica própria das manifestações populares em nossa cidade, as conclusões tem, ainda, um caráter fundamentalmente preliminar.
 
Para Paulo Bruno, “é possível observar que as pedagogias em questão se opõem, muito embora parte considerável dos seus agentes seja oriundo de segmentos de classes sociais comuns. Assim sendo, o pertencimento à determinada classe social não se constituiria no fator determinante do papel desempenhado por cada um dos atores sociais envolvidos em tais processos de ensino e aprendizagem”.
 
Ele analisou que a repetição de palavras-de-ordem e cantos, por exemplo, é algo recorrente nas manifestações. “Através dessa prática as formas de pensar a realidade ganham outros significados, não necessariamente positivos, pois muitas, inclusive, tem caráter discriminatório. No entanto, elas se mantêm ativas até hoje. Ou seja, poderíamos considerar que nem sempre houve o desenvolvimento adequado de um ponto de vista que, na verdade, constitui-se como a própria autocrítica dos movimentos”.
 
O pesquisador diz que, em contrapartida, pode-se observar a propagação de manifestações em diferentes regiões da cidades em decorrência de demandas variadas. Situações caracterizadas pela interrupção no fornecimento de energia elétrica, de água, pela ocorrências de assassinatos, de remoções, entre outras, têm resultado em atos de protestos que guardam muitas semelhanças com as manifestações que se massificaram a partir de junho de 2013. 
 
“A presença de faixas, palavras-de-ordem e, em alguns casos, de enfrentamento com as forças policiais nesses protestos tornaram-se comuns nos últimos meses. Nesse contexto, é lícito considerar a ocorrência de um aprendizado coletivo, principalmente entre os segmentos mais empobrecidos da população carioca, acerca de formas de mobilização, resistência e reivindicações”, defendeu Paulo Bruno. 
 
Por outro lado, continuou ele, “as respostas do Estado – representado neste caso, basicamente pelos governos estadual e municipal – têm se dado na forma de repressão. Assim, a intimidação através do terror define o método principal adotado com relação às questões sociais. É óbvio, que tal procedimento deve ser contextualizado como parte de um processo histórico caracterizado pelo avanço do neoliberalismo fomentado pelo próprio governo central”. 
 
O Fórum Mundial de Educação foi um espaço aberto de encontro, que buscou o aprofundamento da reflexão, o debate democrático de ideias, a formulação de propostas, o intercâmbio livre de experiências e a articulação para as ações de organizações e movimentos sociais que se opõem ao neoliberalismo, ao domínio do mundo pelo capital e por qualquer construção de outra educação para outro mundo possível, centrada no ser humano e pela justiça social e ambiental. O encontro foi realizado nos dias 21, 22 e 23 de janeiro, em Canoas, Porto Alegre, Rio Grande do Sul. 
 
Paulo Bruno comentou que, apesar de ter sido menos concorrido do que nos outros anos, tanto o Fórum Social Mundial quanto o FME contaram com a presença maciça de militantes vinculados à centrais sindicais na marcha de abertura do FSM e nas mesas de debates. Outro ponto ressaltado pelo pesquisador foi a participação governamental em vários espaços de discussão dos dois Fóruns, seja através dos seus ministros ou de pessoas diretamente ligadas à programas de governo.