Pelo quarto ano consecutivo, o Centro de Referência Prof. Hélio Fraga (CRPHF/ENSP) promoveu um encontro entre profissionais de saúde, gestores e pesquisadores com o objetivo de difundir as informações sobre a tuberculose (TB). A IV Mostra ENSP de mobilização nacional na luta contra a tuberculose, uma das ações realizadas pela Fiocruz na semana de conscientização sobre TB, expôs um panorama das pesquisas realizadas pela instituição sobre a doença. O evento reuniu o coordenador do Programa Nacional de Controle da Tuberculose (PNCT), Draurio Barreira; o diretor da ENSP, Hermano Castro; o chefe do Hélio Fraga, Otavio Porto; a gerente de Pneumologia Sanitária da Secretaria de Estado de Saúde (RJ), Ana Alice Bevilaqua; e Raquel Piler, do Programa Municipal de Controle da Tuberculose (PMCT/RJ).
A programação da Mostra apresentou as novas drogas para tratamento da TB, as ações de vigilância da tuberculose drogarresistente (TBDR) a descoberta de uma nova espécie de micobactéria no Brasil e a plataforma FIO-Tb, que irá mapear competências em tuberculose na Fiocruz.
Na abertura, o diretor da ENSP, Hermano Castro, apontou aspectos alarmantes sobre a doença. “O estado do Rio de Janeiro possui a maior incidência de casos do país e temos muito o que fazer. A região de Manguinhos, por exemplo, conta com taxas elevadas”, alertou. O diretor enfatizou a missão do Centro de Referência no enfrentamento da doença, detalhando as contribuições realizadas, mas advertiu que o momento não é de comemoração, e sim de convocar a sociedade para refletir sobre o problema.
Otavio Porto, chefe do CRPHF, também destacou a necessidade de alerta. “Devemos pensar no tamanho da nossa missão e dos nosso desafios. Além de compartilhar conhecimento, devemos estar atentos aos problemas que norteiam o controle da tuberculose”, admitiu.
Em sua palestra, Draurio Barreira destacou a importância da doença para os portadores de HIV, as modificações na forma de enfrentamento e a necessidade de propostas mais ousadas para o controle. Dentre elas, o acesso universal e o tratamento gratuito. Segundo o coordenador, ainda este ano será adotado um esquema reduzido de tratamento para infecção latente. “Hoje, a recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS) é para não cobrar o tratamento da tuberculose, reduzir pela metade os indicadores de TB, a mortalidade e a incidência até 2025”, afirmou Draurio.
Segundo ele, com base na campanha de 2014 da OMS, dos 9 milhões de casos de tuberculose estimados no mundo, 3 milhões não são detectados. O Brasil está alinhado ao conjunto de esforços globais em parceria com a Organização para diagnosticar e curar esses casos. Foram 71.123 casos novos de TB em 2013, uma queda de 20,4% de taxa de incidência desde 2003, com 4.406 mortes pela doença em 2012 (queda de 23,3%). A taxa de mortalidade no país foi 2,3 óbitos para cada 100 mil habitantes.
O teste rápido
Atualmente, o país ocupa a 16ª posição entre os 22 com maior carga de tuberculose e a 111ª posição em taxa de incidência. A tuberculose é a 4ª causa de morte por doença infecciosa e a 1ª dentre as doenças infecciosas definidas dos pacientes com aids. Hoje, o país conta com a ampliação do diagnóstico (teste rápido para TB) e universalização da cultura; com um enfrentamento prioritário nas populações vulneráveis, por meio de ações intra e intersetoriais; de articulações com a sociedade civil organizada, movimentos sociais e frente parlamentar (subcomissão de doenças determinadas pela pobreza) e o protagonismo na formulação de uma estratégia global de controle da tuberculose (pós 2015).
Draurio Barreira reforçou a iniciativa do Ministério da Saúde, que disponibilizará, gratuitamente, a partir de abril, o teste rápido para diagnóstico de tuberculose - que tem capacidade de detectar a presença do bacilo causador da doença em apenas duas horas. Cinco estados e o Distrito Federal recebem, a partir desta semana, equipamentos de teste rápido de tuberculose. Todos os municípios e capitais do país, com mais de 130 casos de tuberculose em 2012, receberão o tratamento inicialmente. Destes, 92 municípios concentram mais de 55% de casos novos de tuberculose no Brasil.
Plataforma FIO-Tb
Miguel Aiub, ex-chefe do CRPHF, abordou a plataforma FIO-Tb, cujo objetivo busca formular uma proposta institucional, a ser encaminhada ao Conselho deliberativo da Fiocruz (CD), que terá como tema principal a tuberculose. A iniciativa busca fortalecer a cooperação institucional, consolidar a eficiência da pesquisa e seu potencial científico, além de estimular o desenvolvimento de projetos que dêem o esperado retorno à sociedade quanto aos atuais desafios da tuberculose, com ênfase nas ações desenvolvidas no âmbito do SUS.
O FIO-Tb irá mapear competências em tuberculose na Fiocruz, definir a constituição do programa institucional de tuberculose e as potencialidades para o desenvolvimento de projetos de pesquisa direcionados para prevenção, diagnóstico e tratamento da TB no Brasil. "A criação da plataforma é a resposta da Fiocruz à necessidade de uma instância de articulação, convergência e otimização entre suas diversas unidades para enfrentamento, de forma coletiva e inovadora, da tuberculose nas suas várias dimensões: técnico-cientifica, política, humana e social”, explicou Aiub.
Mycobacterium fragae
O pesquisador do CRPHF Jesus Ramos apresentou a nova espécie de micobactéria (encontrada em ambientes hospitalares) não causadora da tuberculose. A nova espécie, batizada como Mycobacterium fragae, foi descrita a partir de um caso de pneumopatia em um paciente no estado do Ceará.
A descoberta foi realizada pela equipe do Laboratório de Referencia Nacional em Tuberculose e outras Micobacterioses do Hélio Fraga em parceria com integrantes do Lacen do Ceará, do Hospital Carlos Alberto Stuart Gomes (Ceará) e do o pesquisador italiano Eurico Tortoli. “A partir dessa descoberta poderá se identificado novos casos dessa espécie no Brasil e no mundo”, disse Jesus Ramos. Ele contou ainda que a identificação da nova espécie se deu em amostra de pacientes que não estavam respondendo ao tratamento contra a doença, enviada do Ceará.
Observatório TB
O coordenador da área de advocacy, comunicação e mobilização social do Observatório Tuberculose Brasil, Carlos Basília, destacou a criação do Observatório em fevereiro de 2013. A iniciativa tem a proposta de articular as atividades de pesquisa e serviço da Fundação na área. Segundo Carlos, o Observatório desenvolve ações em advocacy communication and social mobilization (ACMS) e monitora movimentos sociais no que se refere à execução dos compromissos assumidos oficialmente pelas três esferas do governo. Para Basília, o Observatório da ENSP se fundamenta nas demandas do movimento social de luta contra a doença e da necessidade de realizar estudos e desenvolver estratégias conjuntas e articuladas entre os diversos atores, setores e políticas públicas, de modo a enfrentar os determinantes sociais relacionados à tuberculose. Ele ainda apresentou a campanha publicitária lançada pelo Ministério da Saúde.
Na última apresentação da Mostra, o pesquisador Jorge Rocha fez uma atualização sobre tuberculose e droga resistente, manejo clínico e operacional da tuberculose extensivamente resistente (XDR). Segundo Jorge, com uma boa gestão de caso clínico e operacional, todas as formas de tuberculose resistente a medicamentos TBDR tem potencial de cura. O pesquisador apresentou todos os medicamentos disponíveis no mundo para o tratamento da tuberculose XDR (de alta, moderada e baixa eficácia), além das novas drogas. Apontou também a classificação racional dos medicamentos anti-TB para o desenho do esquema de tratamento para TBXDR. Terminou enfatizando que a cirurgia é cada vez menos indicada, somente em casos onde existe lesões localizadas.
Com o auditório cheio, além dos colaboradores do Hélio Fraga, estiveram presentes vários profissionais de saúde da Área programática 4 (CAP 4) e do Hospital Municipal Raphael de Paula e Souza.