A 19ª Mostra de Cinema de Tiradentes apresenta filmes inéditos de realizadores em início de carreira, em produções de quatro estados que disputam o título de melhor filme a ser eleito pelo Júri da Crítica e apresentam o vigor da produção brasileira independente
A Mostra Aurora, dedicada à exibição de longas inéditos de realizadores em início de carreira é uma das seleções mais aguardadas da19ª Mostra de Cinema de Tiradentes, que este ano acontece entre os dias 22 e 30 de janeiro. A Aurora, em sua nona edição, mantém o perfil de apostar em filmes de invenção e experimentação da produção contemporânea brasileira, exibindo títulos de realizadores com no máximo três longas-metragens no currículo. Eles são avaliados pelo Júri da Crítica e concorrem ao Troféu Barrocoe a prêmios de parceiros do evento.
Na 19ª edição do evento na cidade histórica mineira, a Aurora exibirá sete filmes inéditos de quatro Estados do país: “Animal Político”(PE), de Tião; “Aracati” (RJ), de Aline Portugal e Julia De Simone (RJ); “Banco Imobiliário” (SP), de Miguel Antunes Ramos;“Filme de Aborto” (SP), de Lincoln Péricles; “Índios Zoró – Antes, Agora e Depois?” (PE), de Luiz Paulino dos Santos; “Jovens Infelizes ou Um Homem que Grita não é um Urso que Dança” (SP), de Thiago B. Mendonça; e “TaegoAwa” (GO), de Marcela Borela e Henrique Borela.
A seleção, a cargo do curador Cléber Eduardo e do curador assistente Francis Vogner dos Reis, foi feita a partir de 59 filmes inscritos para seleção com perfil e requisitos para a Aurora, o que mostra a solidificação da mostra e o constante interesse de cineastas e público por uma produção de risco e de criação plena. “Em linhas muitos gerais, são filmes de reação e de reflexo, tendo o mundo contemporâneo como motivador”, destaca Cléber, relacionando as escolhas à temática central da 19ª edição da Mostra Tiradentes definida Espaços em Conflito no cinema brasileiro. “Essa reação pode vir por meio da fuga do mundo urbano e tecnológico, da beleza da natureza ou da crítica à sua ameaça. Esses universos, rompidos com nossa atualidade metropolitana e cosmopolita, artificiosa e virtual, parecem estimular os realizadores a olharem para outros modos de existência, de funcionamento e de problemas sociais/políticos”.
Nesses embates, destacam-se os universos urbanos, nos quais, a cada filme, diferem-se os segmentos sociais abordados. “O espírito é critico em todos deles, sempre problematizador,sem o modo e sem a moda de afetividades e negociações entre as diferenças. As problematizações podem estar presentes num filme situado na vida de moradores de periferias amplas, num filme sobre mercado imobiliário em São Paulo, numa vaca em crise com o vazio burguês urbano de seu entorno e num grupo de teatro as voltas com perrengues e potências. Os tons diferem entre uns e outros, mas o conjunto estabelece uma linha de conflitos e de convergências, mesmo quando se opõem”, enumera o curador, já provocando algumas apreensões aos filmes da mostra.
Uma das presenças aguardadas da Aurora 2016 é a de Luiz Paulino dos Santos, lendário cineasta baiano que, aos 83 anos, exibirá seu terceiro longa-metragem como diretor, Índios Zoró – Antes, Agora e Depois?”. Paulino foi diretor de primeira hora de “Barravento” (1961), que viria a se tornar o primeiro longa de Glauber Rocha, e esteve presente em diversos projetos ao longo das últimas décadas, como ator, consultor ou mesmo inspiração a várias gerações. Sua presença na Aurora, tão caracterizada pela invenção de novas formas, atesta a pluralidade do recorte e a preocupação constante com o risco e a experimentação.
Como em todos os anos, os filmes da Mostra Aurora são avaliados pelo Júri da Crítica, composto de cinco profissionais do pensamento acadêmico e crítico cinematográfico. Na 19ª edição da Mostra de Tiradentes, o Júri da Crítica será formado pela professora e pesquisadora da UFPE, Angela Prysthon (PE); pelo professor e pesquisador da Universidade Federal de São Carlos, Arthur Autran(SP); pelo crítico e pesquisador, Carlos Alberto Mattos (RJ); pelo crítico Marcelo Ikeda (PE); e pelo jornalista Paulo Henrique Silva(MG).
CONFIRA OS FILMES SELECIONADOS PARA A MOSTRA AURORA 2016
ANIMAL POLÍTICO
FICÇÃO, COR, DCP, 75MIN, PE, 2016
Direção: Tião
Uma vaca tenta se convencer de que é feliz. Ela vive entre as pessoas e tem uma vida vazia e consumista. Numa noite, véspera de natal, a vaca confronta-se com uma sensação estranha de vazio, algo forte que ela nunca havia vivido. Essa crise a faz começar uma jornada por iluminação, em busca do seu verdadeiro eu. O vazio é um novo território para a sua alma.
ARACATI
DOCUMENTÁRIO, COR, DCP, 62MIN, RJ, 2015
Direção: Aline Portugal e Julia De Simone
Vale do Jaguaribe, Ceará. Seguindo a rota do vento Aracati, o filme parte do litoral e adentra pelo interior do estado. Nesse percurso, observa a relação entre homem e paisagem, as transformações do espaço e os limites entre natureza e artifício.
BANCO IMOBILIÁRIO
DOCUMENTÁRIO, COR, DIGITAL, 75MIN, SP, 2015
Direção: Miguel Antunes Ramos
Brian caminha por seu bairro de infância, procurando novas áreas para uma incorporação imobiliária. Romeo, em seu escritório envidraçado, desenha uma estratégia de marketing. Carla planeja seus novos investimentos vendo a cidade do alto. Um jogo de tabuleiro. Uma imagem de futuro. Um projeto de cidade.
FILME DE ABORTO
DOCUMENTÁRIO, COR, DIGITAL, 63MIN22, SP, 2016
Direção: Lincoln Péricles
Proletária e proletário refletem sobre seus trabalhos e lidam com uma impossível gravidez.
ÍNDIOS ZORÓ – ANTES, AGORA E DEPOIS?
DOCUMENTÁRIO, COR, DCP, 70MIN, PE, 2015
Direção: Luiz Paulino dos Santos
Em 1982, Luiz Paulino dos Santos realizou o curta documental Ikatena? Vamos Caçar (registro poético do Povo Zoró). 30 anos depois ele retorna e reencontra os Zoró, agora evangelizados.
JOVENS INFELIZES OU UM HOMEM QUE GRITA NÃO É UM URSO QUE DANÇA
FICÇÃO, P&B, DCP, 125MIN, SP, 2016
Direção: Thiago B. Mendonça
Pra começar de novo é preciso destruir.
TAEGO AWA
DOCUMENTÁRIO, COR, DCP, 70MIN, GO, 2016
Direção: Marcela Borela e Henrique Borela
Cinco fitas VHS encontradas na antiga Faculdade de Comunicação da UFG disparam o desejo desse filme. Anos depois, munidos de mais imagens fotográficas e audiovisuais vamos ao encontro dos Ãwa, levar essas imagens para serem vistas, e discutir a possibilidade de um filme ser feito. Mais imagens surgem desse encontro.
***
A cidade de Tiradentes, localizada a 180km de BH e com apenas 7 mil habitantes, recebe durante a Mostra Tiradentes toda infraestrutura necessária para sediar uma programação cultural abrangente e gratuita, que reúne todas as manifestações da arte. São instaladostrês espaços de exibição: o Cine BNDES na Praça, no Largo das Fôrras (espaço para mais de 1.000 espectadores); o Complexo de Tendas, que sedia a instalação do Cine-Tenda (com 600 lugares), e o Cine-Teatro (com plateia de 120 lugares), que funciona no Sesi Tiradentes- Centro Cultural Yves Alves – sede do evento.
Toda programação é oferecida gratuitamente ao público.