A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz), por intermédio do Laboratório de Monitoramento Epidemiológico de Grandes Empreendimentos (LabMep), está desenvolvendo ações de vigilância em saúde nos municípios de Aperibé, Cantagalo, Itaocara, Pirapetinga e Santo Antônio de Pádua, localizados na área de influência da Usina Hidrelétrica Itaocara. A atuação baseia-se na elaboração do diagnóstico epidemiológico e entomológico das doenças transmitidas pelo Aedes aegypti nos últimos dez anos (entre 2006 e 2015). A iniciativa é coordenada pelo pesquisador Luciano Toledo, que participou de um workshop com os secretários de Saúde dos cinco municípios envolvidos, e o superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da SES/RJ, Mario Sergio Ribeiro, na quarta-feira (18/5).
O diagnóstico desenvolvido pela Fiocruz apresenta dados sobre o histórico da contaminação por dengue em relação à distribuição temporal e territorial, identificação da sazonalidade, além de índices de contaminação por faixas etárias e sexo. Os pesquisadores do laboratório, que identificaram fragilidades na vigilância ambiental e discutiram com os municípios melhores estratégias para combater as doenças causadas por arbovírus, auxiliarão os técnicos locais no Levantamento de Índice Rápido para o Aedes aegypti (LIRAa). A cooperação também prevê a realização de atividades abertas à população, trazendo informações sobre as formas de prevenção e eliminação dos criadouros de larvas do mosquito
"Os municípios apresentaram alguma fragilidade no controle vetorial, e isso preocupa. A implantação de um empreendimento do porte da usina trará mudanças na paisagem urbana e ecológica que impactarão as características de morbidade e mortalidade da região. Dentro desse perfil, entram as doenças transmitidas pelo Aedes”, detalhou Gerusa Gibson, pesquisadora colaboradora do LabMep/ENSP e professora do Iesc/UFRJ.
Entender a evolução das doenças nos últimos dez anos, ainda de acordo com ela, auxiliará o planejamento de ações futuras. "A ideia desse diagnóstico foi entender a evolução e o comportamento das doenças nesses últimos dez anos. O processo de transformação do espaço e do território trazidos pelo empreendimento exige melhores estratégias para aperfeiçoar as ações de monitoramento, controle, educação e mobilização social”, afirmou Gerusa, que teve a companhia do pesquisador Alexandre San Pedro.
A expertise da Fiocruz
Superintendente de Vigilância Epidemiológica e Ambiental da SES/RJ, Mário Sergio Ribeiro destacou o trabalho de investimento e fortalecimento das ações de saúde nos municípios localizados da área de influência da UHE Itaocara, desenvolvido pela Fiocruz, sobretudo pelo fato de a localidade apresentar elevados índices de transmissão das arboviroses.
"Toda e qualquer ação que eleve a capacidade de resposta dos municípios deve ser exaltada. Investir em conhecimento e experiências, como a dos técnicos da Fiocruz, agrega todo esforço desenvolvido pela Secretaria Estadual de Saúde. A ENSP/Fiocruz entra num momento oportuno, uma vez que temos o incremento de mais duas arboviroses na região”, ressaltou Mário, egresso do mestrado profissional em Vigilância em Saúde na região Leste do Estado do Rio de Janeiro, da Escola.
O secretário municipal de Saúde de Itaocara, Ney Trindade Sayão Júnior, disse ser a bagagem da Fundação Oswaldo Cruz no controle de vetores fundamental no auxílio aos municípios. "A experiência dos pesquisadores do LabMep nessa área traz mais conforto para planejar ações e providenciar atitudes seguras. Nesse momento de surto da dengue, zika e chikungunya, é importante agilidade e efetividade”, garantiu.
O coordenador do projeto, Luciano Toledo, fez questão de relembrar o trabalho de monitoramento realizado há vinte e oito anos nos municípios da área de influência das hidrelétricas de Sapucaia, Simplício e Itaocara, na região média do Paraíba do Sul. Naquela ocasião, os resultados do monitoramento destacavam que a construção de hidrelétricas no Vale do Rio Paraíba do Sul determinaria, indubitavelmente, mudanças no padrão de saúde das populações direta ou indiretamente envolvida com as obras. "Esse trabalho é uma retomada da abordagem que construímos lá atrás", destacou o pesquisador.
O workshop
"Sem saneamento não há solução para conter o avanço de doenças como a dengue, chikungunya e zika vírus". Essa foi a principal mensagem do professor Luciano de Toledo durante o workshop promovido na quarta-feira. O pesquisador do departamento de Endemias da ENSP acredita ser a situação de hoje, em relação às doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti, o resultado de erros graves das administrações públicas do passado, que negligenciaram questões relativas ao saneamento básico, em especial nos centros urbanos. Para ele, as soluções estão em investimentos que garantam à população abastecimento de água de qualidade, tratamento de esgoto, além da destinação correta e do tratamento eficiente dos resíduos.