Adrianna eu . Lívia Moura . Renato Bezerra de Mello
Curadoria: Isabel Portella
De 19 de fevereiro a 22 de Março de 2014
Entrada gratuita
Um chão para brincar, um céu para voar
Abri curiosa
o céu.
Assim, afastando de leve as cortinas.
Eu queria rir, chorar,
ou pelo menos sorrir
com a mesma leveza com que
os ares me beijam.(...)
Eu queria até mesmo
saber ver,
abraçar com as retinas
cada pedacinho de matéria viva(...)
Eu queria
(só)
perceber o invislumbrável
no levíssimo que sobrevoava
Ana Cristina Cesar
Inconfissões 1968
Porque é tudo tão delicado e frágil, e há tanta luz e tanta sombra, e há céu e chão se encontrando que é possível sentir, nas obras aqui reunidas, a força e a diversidade coerente de uma idéia. Há quem procure o ar, há quem brinque no chão e há também quem busque ascender por escadas improváveis.
Um chão para brincar, um céu para voar reúne três artistas, com produções tão distintas, que nos levam a refletir sobre as possíveis conexões em suas obras, sobre elos invisíveis - o invislumbrável. Três poetas visuais que sobrevoam há tempos o mesmo céu procurando caminhos. Escala e padrões estabelecidos não os interessam. Preferem fios, linhas e algodão, óculos descartados e gaiolas vazias, sobras de papel que poderiam ser jogadas no lixo. E é aí que começa a brincadeira. Novas idéias atraem novos formatos, que perseguem os sons, que correm atrás de materiais, que sobem e descem, que caem pelo chão para depois subir outra vez. E dessa ciranda surgem obras que fazem sorrir com a mesma leveza com que os ares [nos] beijam. As lentes engaioladas desejam voar para outras dimensões, escadas de linha almejam alcançar nuvens de algodão enquanto finos rolos de papel tentam, em vão, ficar de pé. Chão e céu, brincar e voar são constantes nas obras dos artistas que procuram nos mostrar, em diferentes escalas, mas sempre com delicada sutileza, outras possibilidades, outros vôos, novas brincadeiras.
Adriana Eu, Lívia Moura e Renato Bezerra de Mello, artistas que usam técnicas diferenciadas, uniram-se para esta exposição, escolhendo cuidadosamente as obras e criando assim relações de afeto que aproximam artista e público. Coube à curadoria alinhavar e estabelecer os pontos exatos desta costura, juntando fragmentos para formar um conjunto extremamente prazeroso. E como bem diz a poesia É preciso saber ver, abraçar com as retinas cada pedacinho da matéria viva.
Isabel Sanson Portella