A ONU que deveria ser o embrião de um governo mundial foi tolhida e paralisada pelos interesses e vetos das superpotências durante a guerra fria. Em conseqüência dessa debilidade, formou-se uma espécie de estado-maior informal composto pelos dirigentes do G-7 (os EUA, a GB, a Alemanha, a França, o Canadá, a Itália e o Japão), por vezes alargado para dez ou vinte e cinco, cujos encontros freqüentes têm mais efeitos sobre a política e a economia do mundo em geral do que as assembléias da ONU.
Ninguém tem a resposta nem a solução para atenuar este abismo entre os ricos do Norte e os pobres do Sul que só se ampliou. No entanto, é bom que se reconheça que tais diferenças não resultam de um novo processo de espoliação como os praticados anteriormente pelo colonialismo e pelo imperialismo, pois não implicaram numa dominação política, havendo, bem ao contrário, uma aproximação e busca de intercâmbio e cooperação.
O processo de globalização e integração econômica em blocos regionais constitui o elemento dinâmico "construtivo" do atual movimento de reordenação das relações internacionais, rumo a uma Nova Ordem Global. A globalização tem sido apresentada como um fenômeno de abertura simultânea das economias nacionais, gerando como resultado uma mundialização homogeneizada. Contudo, a globalização é seletiva, pois visa a determinadas regiões, atividades e segmentos sociais a serem integrados mundialmente. Desta forma, enquanto certas áreas e grupos são integrados globalmente, outros são excluídos desta gigantesca transformação, conduzindo a uma diversificação cada vez maior do espaço mundial e agravando a concentração de riqueza em termos nacionais e sociais. O colapso do Campo Soviético e o fim da Guerra Fria aprofundaram sobremaneira tais tendências no início dos anos 90, com a ausência de um inimigo externo fomentando ainda mais a competição internacional.
Na falta de oposição significativa, o capitalismo desenvolve forte tendência a radicalizar suas formas, antigamente condicionadas externamente pela Guerra Fria e internamente pela social-democracia. Este fenômeno propicia uma aceleração do processo de reestruturação econômica e, consequentemente, da concorrência e rivalidade interpólos. Uma manifestação desta situação foi a rápida formalização de novos processos de integração, como o Mercosul e o NAFTA (Acordo de Livre Comércio da América do Norte), bem como o aprofundamento da União Européia e o estabelecimento de alianças entre alguns em detrimento de outros.
Apesar da situação vulnerável da economia mundial, o Pacífico apresenta-se como uma região de promissor crescimento econômico, já o Atlântico Norte configura um quadro diverso, com lento crescimento da produção tanto em sua margem americana como européia. Os Estados Unidos, o maior e mais importante país capitalista do planeta, do qual depende a segurança político-militar do sistema, tornou-se, desde fins dos anos 60, uma nação importadora de produtos manufaturados, inclusive alguns bastante sofisticados. Numa fase de relativa estagnação que atinge vários setores, o american way of life é, cada vez mais, sustentado pelo consumo de mercadorias importadas e pelo endividamento externo e interno.
Para fazer frente aos desafios de seus aliados-rivais, econômica e comercialmente mais dinâmicos, além de tecnologicamente mais avançados, bem como à conjuntura do fim da Guerra Fria, os EUA buscam, desde fins dos anos 80, reorientar sua economia, de forma a retomar o crescimento e a competitividade. Um dos aspectos estratégicos desta política consiste na redução das despesas armamentistas, como forma de incrementar os investimentos produtivos. Neste sentido, Washington vive um dilema angustiante: sem reduzir sua presença internacional, os EUA não lograrão reorientar sua economia; mas, sem manter sua liderança mundial, o país não conseguirá obter os meios necessários para retomar o crescimento e a dianteira tecnológica.
Além disso, a crescente globalização da produção das finanças e a intensificação do comércio internacional não se encontram associadas ao multilateralismo (redução em nível global das barreiras ao fluxo de bens e serviços entre as nações).