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quinta-feira, 9 de julho de 2015

Crise econômica domina pauta da VII Cúpula do BRICS

Líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul se reúnem nesta quinta-feira, 9 de julho, em Ufá (Rússia), para a VII Cúpula do BRICS. O encontro marca a inauguração do Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), anunciado em 2014, e a ampliação do diálogo entre esses países em momentos de crise econômica e instabilidade política. Professores da FGV, Evandro Carvalho e Oliver Stuenkel analisaram o impacto do encontro.
“Havia muitas dúvidas se os Estados conseguiriam aprovação de seus poderes nacionais para inaugurá-lo efetivamente neste ano de 2015. O nosso Congresso Nacional, a despeito da crise política que vivemos, resguardou o interesse brasileiro e aprovou o comprometimento do Brasil nesta iniciativa. Este é um sinal importante para os parceiros do BRICS, na medida em ele que evidencia que sabemos separar os problemas de conjuntura política interna dos arranjos estruturais no âmbito da política externa brasileira”, afirma o professor da FGV Direito Rio, senior foreign expert e professor do Center for BRICS Studies da Fudan University (Shanghai), Evandro Carvalho.
Já o professor de Relações Internacionais da Escola de Ciências Sociais (FGV/CPDOC) Oliver Stuenkel destaca que os chefes de governo buscam maneiras de aumentar a cooperação do ponto de vista comercial como forma de atenuar os efeitos da recessão que atinge Brasil e Rússia. “Um dos grandes desafios que os países enfrentam é o crescimento baixo. Reduzir os obstáculos ao comércio é visto como uma maneira para ajudar as economias do grupo a retomarem o crescimento. Vemos um debate amplo sobre medidas que podem ajudar na retomada do crescimento”, disse.
As dificuldades econômicas de brasileiros e russos se somam à forte queda de ações da bolsa chinesa, como questões que podem levantar dúvidas sobre o futuro do BRICS e sua capacidade de ser um indutor de reformas das instituições econômicas e financeiras internacionais. Ambos os professores, porém, acreditam que o bloco já tem sua influência consolidada, independentemente da situação econômica atual.
“A recente notícia da queda do mercado de ações na China soou como um alarme no mundo. E com algum grau de exagero, pois se sabe que havia ali uma bolha e que o governo chinês tem muita margem de manobra para superar a situação”, analisa Evandro, que mora há dois anos na China.
Stuenkel, por sua vez, destaca que o baixo crescimento dos países bloco não reduz sua importância, visto que o BRICS têm contribuído com mais da metade do crescimento global nos últimos anos. Segundo ele, o grupo já está consolidado no cenário global como uma importante alternativa à influência do grupo dos países desenvolvidos. “Tradicionalmente, todas as decisões importantes sobre economia global e crises internacionais ficam a cargo do G7, o grupo dos países ricos (EUA, Alemanha, Reino Unido, Japão, França, Itália e Canadá). Esse grupo simboliza a desconcentração de poder e a chegada de um mundo cuja estrutura é feita em rede e não mais em linha entre os países da União Europeia e EUA com o resto do mundo”, explica o professor.
Mais do que rivalizar com as potências do G7, Evandro enxerga o papel de liderança exercido pela China dentro do bloco como uma forma de expansão da influência chinesa. Segundo ele, o BRICS é tratado como prioridade e muitos centros de pesquisa sobre o tema atuam em consonância com os interesses do governo chinês.
“A criação do Banco BRICS também se insere em uma agenda chinesa de criação de bancos de investimento e financiamento, a exemplo do Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB). Fala-se, agora, que a Organização de Cooperação de Shanghai também planeja criar um banco de desenvolvimento. Esta rede de instituições financeiras internacionais lideradas pela China estão preparando o terreno para um passo fundamental para a China e seu futuro: a internacionalização do yuan”, completa.