Uma pesquisa sobre a atual situação socioeconômica de Roraima revela que o estado registrou indicadores positivos de atividade econômica e diversificação no período de intensificação dos fluxos venezuelanos. Os números estão reunidos no estudo “A economia de Roraima e o fluxo venezuelano: evidências e subsídios para políticas públicas”. Elaborado por pesquisadores da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getulio Vargas (FGV DAPP), do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra) e da Universidade Federal de Roraima (UFRR), o trabalho foi desenvolvido com financiamento da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e da Escola Superior do Ministério Público da União (ESMPU).
A partir da análise de dados oficiais, verificou-se o crescimento do comércio varejista e das exportações, com um aumento de 25% da arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), que entre o final de 2018 e primeiro semestre de 2019. O trabalho dos pesquisadores ainda observa que, entre 2016 e 2017, o PIB da região cresceu 2,3%, acima da média dos demais Estados (1,4%).
De acordo com a pesquisa, entre 2017 e 2018, o estado registrou o maior aumento de área plantada do Brasil (28,9%). Além disso, outros setores registraram aumento da atividade econômica no mesmo período, o que se refletiu em um crescimento do grau de diversificação produtiva em Roraima de 8%, movimento não notado para a média dos estados brasileiros.
Nos últimos sete anos, mais de 250 mil venezuelanos solicitaram refúgio ou residência no Brasil – a grande maioria entrando por Roraima. Desde abril de 2018, com a intensificação do fluxo, o país liberou mais de R$ 500 milhões para a Operação Acolhida, a resposta humanitária do governo federal em conjunto com agências da ONU e organizações da sociedade civil.
O estudo ressalta que o salário médio da população roraimense não sofreu redução, apresentando, pelo contrário, tendência de crescimento desde 2016. Dentre os trabalhadores com carteira assinada, não se observa mudança nos salários de brasileiros em Roraima no período em que se intensificam os fluxos venezuelanos.
Embora a taxa de desemprego tenha aumentado em Roraima em 2018 e 2019, considerando a análise da atividade econômica, não é possível descartar a hipótese de que esse efeito é meramente mecânico, devido à contagem dos venezuelanos que chegam, em grande parte, desempregados e vulneráveis.
Considerando o cenário nacional, o relatório sugere que, em 2018, a contribuição fiscal dos venezuelanos é da mesma ordem dos gastos correntes adicionais do Estado brasileiro, ambos na casa de R$ 100 milhões. Sendo assim, o setor público brasileiro não gastou mais dinheiro do que arrecadou com o acolhimento de refugiados e migrantes da Venezuela, entre 2017 e 2018.
Recomendações
Por fim, o estudo aponta alguns direcionamentos para políticas públicas, como a urgente necessidade de reforço à interiorização e de programas de qualificação profissional voltados tanto para a população refugiada e migrante como para o poder público nos municípios de acolhida.
Destaca-se também a necessidade do aumento da ação da rede de proteção social, em especial a partir da promoção de ações de integração social nos locais de destino, além de ferramentas de monitoramento, avaliação e levantamento de informações sobre os venezuelanos antes e após a interiorização, de modo a dar melhor capacidade de resposta à emergência dos fluxos de refugiados e imigrantes e aproveitar as potencialidades econômicas da integração plena de venezuelanos ao mercado de trabalho.
O estudo completo está disponível no site das Nações Unidas.