Hormônios vegetais, compostos orgânicos não nutrientes produzidos por plantas, geralmente em um local diferente daquele onde são usados. Tais hormônios, em baixas concentrações, regulam o crescimento e as reações fisiológicas das plantas. Recentemente, uma grande quantidade de hormônios vegetais foi sintetizada e alguns são usados comercialmente para matar ervas daninhas ou cultivar frutas.
Ainda não se conhece muito bem o funcionamento dos hormônios vegetais em termos da química celular das plantas. Entretanto, atualmente, acredita-se que um local de atuação dos hormônios vegetais seja próximo ao gene, onde promovem a formação de moléculas específicas de ARN-mensageiro. Essas moléculas, por sua vez, são as mediadoras da síntese de enzimas específicas, isto é, moléculas protéicas que controlam a bioquímica e a fisiologia do organismo. Ver Ácidos nucléicos; Biologia molecular.
Visto que os hormônios vegetais só foram descobertos na década de 1920, o conhecimento de sua natureza e ação é bastante recente. Entretanto, a existência de hormônios vegetais foi postulada por Julius von Sachs e Charles Darwin em torno de 1880. Após ter estudado os efeitos da exposição à luz sobre o crescimento de plantas, Darwin escreveu no seu livro The Power of Movement in Plants: "Quando os brotos são expostos livremente à luz lateral, há alguma transmissão de influência da parte superior à inferior, o que faz com que a última se curve." Ao observar os efeitos da gravidade sobre raízes das plantas, anotou: "É somente o topo que recebe a ação, e esta parte exerce alguma influência sobre as partes adjacentes, fazendo com que se curvem para baixo."
Durante as décadas de 1920 e 1930, o hormônio intermediador das reações que Darwin havia percebido foi isolado e identificado como ácido indolil-3 acético, ou AIA. Esse trabalho foi realizado por Fritz W. Went, F. Kogl e A. J. Hagen-Smit, na Holanda. Mais ou menos na mesma época, o cientista japonês E. Kurosawa estudava substâncias isoladas de um fungo que ataca o arroz e que provocam aumentos marcantes no crescimento dos brotos. Essas substâncias são hoje conhecidas como giberelinas; uma delas é o ácido giberélico. Mais tarde, outros pesquisadores, ao tentar criar tecidos e órgãos vegetais em condições assépticas, descobriram que, quando se adicionavam pequenas quantidades de leite de coco às culturas de tecido vegetal, provocava-se um aumento do crescimento da planta. A busca pelo fator que induz esse crescimento aumentado levou à descoberta dos hormônios conhecidos como citoquininas.
PRINCIPAIS CLASSES DE HORMÔNIOS VEGETAIS
Os hormônios vegetais podem ser agrupados em diversas classes principais. Essas classes são determinadas pelas características químicas dos hormônios ou pelos efeitos que exercem sobre as plantas.
Auxinas: São os compostos que provocam o alongamento nas células dos brotos de plantas. As auxinas são sintetizadas e apresentam as concentrações mais altas nas áreas meristemáticas do broto e da raiz, áreas nas quais as células se dividem rapidamente para renovar o seu crescimento. As auxinas são deslocadas por toda a planta a partir dessas áreas.
Quando aplicada externamente às extremidades de caules incisos, a auxina estimula sua formação. Em dosagens excessivas, porém, inibe a formação de raízes. Em geral, o tecido da raiz é consideravelmente mais sensível à auxina do que o tecido do caule. Portanto, as concentrações de auxina mais favoráveis para o alongamento do caule normalmente resultam na inibição do desenvolvimento da raiz.
Essa sensibilidade diferenciada faz com que as extremidades do broto das plantas apresentem um geotropismo negativo, isto é, fiquem voltadas para cima, quando colocadas em posição horizontal; nessas mesmas condições, as extremidades da raiz apresentam um geotropismo positivo, ou seja, ficam voltadas para baixo, para dentro do solo. Quando a gravidade faz com que a auxina se acumule na parte inferior do caule, as células mais baixas se alongam mais do que as de cima, fazendo com que a extremidade que está em crescimento se volte para cima. No caso da raiz, entretanto, a situação é inversa. A concentração maior de auxina na parte inferior inibe o alongamento das células naquele local, e o alongamento relativamente maior das células superiores faz com que a extremidade da raiz se volte para baixo.
A auxina também provoca reações fototrópicas, ou seja, reage à luz. Visto que a luz aparentemente tende a destruir uma auxina no meristema, a parte do broto que fica distante da luz sofrerá um maior alongamento celular, e fará com que a extremidade do broto se curve na direção da luz.
A auxina também controla a dominância apical, o fenômeno através do qual o crescimento dos botões laterais ao longo do caule de uma planta é controlado pela presença de um botão terminal, ou apical. As pesquisas indicam que as concentrações de auxinas produzidas no botão fazem com que a extremidade do caule cresça, mas, quando deslocadas para baixo no caule, inibem o crescimento de botões laterais. As coníferas, árvores nas quais a dominância apical se expressa com força, têm uma verticalidade diferente da de árvores tais como olmos e bordos maduros.
Após a polinização de uma flor, os tecidos da parede do ovário e um receptáculo crescem rapidamente, resultando no desenvolvimento de um fruto grande e polpudo. Esse crescimento é gerado pelo crescimento celular, um processo mediado pela auxina. Sabe-se que algumas frutas podem ser produzidas sem polinização ao se aplicar auxina artificialmente e no momento certo a um órgão floral, como, por exemplo, o estigma. Este processo de produção de frutas sem polinização é conhecido como desenvolvimento partenocárpico e resulta em frutas sem sementes.
À medida em que as frutas ou as folhas amadurecem, elas produzem camadas especializadas de células nos seus talos, chamadas de zonas de abscisão. Com o tempo, o tecido de ligação entre duas das camadas dessas células se dissolve, e a fruta ou a folha cai. Essa separação natural das folhas e das frutas da planta, chamada de abscisão, é acionada por alterações na concentração de auxina em toda a área de abscisão.
Embora a auxina natural mais amplamente encontrada nas plantas seja o ácido indolil-3 acético, ou AIA, este é muito menos usado na agricultura que as auxinas sintéticas, tais como o ácido indolbutírico (AIB), o ácido naftalenacético (ANA) e o ácido 2,4-diclorofenoxiacético (2,4-D). O motivo é que o AIA é continuamente quebrado por sistemas de enzimas na planta, ao passo que os compostos sintéticos não são sujeitos a tal degradação. Conseqüentemente, pequenas doses de auxinas sintéticas podem resultar em efeitos amplos e duradouros.
As auxinas sintéticas têm uma ampla gama de usos. São empregadas para aprimorar a formação de raízes de brotos de plantas que, de outro modo, teriam dificuldade para criar raízes; para induzir o desenvolvimento de frutas partenocárpicas, tais como tomates de estufas em baixas condições de polinização; e para tornar esparsos flores e frutos jovens ao induzir a abscisão no início da época de crescimento, o que aumenta o tamanho e a qualidade dos frutos restantes. As auxinas sintéticas também são usadas para evitar a queda de frutos cítricos e de maçãs antes da época da colheita. Outro emprego comum das auxinas sintéticas é erradicar alguns tipos de ervas daninhas seletivamente.
Giberelinas: são amplamente distribuídas nas plantas e regulam muitas funções importantes. Em 1965, 13 formas moleculares levemente diferentes que se distinguem muito em termos de atividade biológica já haviam sido descobertas. A giberelina mais produzida comercialmente é o ácido giberélico, conhecido por AG3.
As giberelinas exercem um papel importante no crescimento das plantas. Por exemplo, o nanismo vegetal genético resulta em entrenós muito curtos, isto é, em pedaços de caules curtos entre os nódulos onde surgem as folhas. O crescimento reduzido de caules de plantas geneticamente anãs é provocado pelo bloqueio genético da produção normal de giberelina pelo metabolismo vegetal. Quando se fornece giberelina externamente a plantas anãs, a planta cresce e se desenvolve normalmente.
Muitas plantas bienais requerem exposição a um período de baixas temperaturas ou a dias longos, ou a ambos, para produzir um talo alongado para florescer. Muitas dessas plantas, sob condições que normalmente provocariam um crescimento vegetativo contínuo, podem ser forçadas a produzir esse talo com a aplicação de ácido giberélico.
Além disso, demonstrou-se que as giberelinas, assim como as auxinas, são capazes de provocar o desenvolvimento partenocárpico de frutas. São aplicadas com regularidade e comercialmente na produção de cachos de uvas maiores e mais bem proporcionados.
Durante a germinação das sementes, as giberelinas e as auxinas interagem de maneira delicada. Depois que a semente capturou a água, o embrião produz a giberelina, que aciona a síntese de enzimas responsáveis pela produção da auxina. A giberelina também promove o alongamento da raiz primária ao mesmo tempo em que os níveis mais altos de auxinas fazem com que o tegumento da semente enfraqueça e a planta embrionária cresça. Como está um passo à frente no ciclo, a raiz emerge primeiro da semente, seguida pela copa da planta. Altos níveis de auxina podem provocar a expansão rápida do caule primário, o que, por fim, faz o topo do broto atravessar a superfície do solo.
Citoquininas ou quininas: grupo de hormônios que promove a divisão celular ao invés do alongamento celular. As citoquininas surgem nas raízes das plantas e são transportadas para cima até os brotos. É possível que também se originem em algumas folhas e brotos jovens. A primeira citoquinina a ser conhecida, a cinetina, foi isolada de um animal (do ADN do sêmen do arenque). Mas outras têm ampla ocorrência em plantas e já foram isoladas e caracterizadas quimicamente.
As citoquininas parecem ser as grandes "normatizadoras" do crescimento de plantas. Têm um papel importante no desenvolvimento controlado e organizado da forma e da estrutura das plantas superiores. Quando adicionadas a culturas assépticas nas concentrações adequadas, as citoquininas provocam a diferenciação dos grupos de células que formam os tecidos que eventualmente se tornarão as diferentes partes das plantas. A descoberta desse fato na década de 1940 estabeleceu o arcabouço para sucessos experimentais posteriores. No início da década de 1960, já se criavam plantas inteiras suspensas em meios nutritivos artificiais a partir de células únicas e indiferenciadas.
Outra função importante da citoquinina é a inibição da senescência, isto é, do envelhecimento, principalmente em culturas de vegetais de folhas verdes. Os hormônios aumentam a retenção de algumas substâncias, tais como aminoácidos, dentro da célula. Conseqüentemente, tais substâncias podem retornar ao ciclo através da síntese de proteínas, que são essenciais para o crescimento e a reparação de tecidos. Desse modo, o envelhecimento, o amarelecimento e a conseqüente perda de qualidade mercadológica dos produtos colhidos é consideravelmente retardada. Uma citoquinina sintética, a benziladenina, está começando a ser usada experimentalmente como inibidor de senescência em muitos tipos de plantas verdes, tais como alface, brócolis e aipo.
Hormônios do florescimento: são o florigen e a vernalina. O florigen foi postulado e nomeado pelo fisiologista de plantas russo M. K. Cajlachjan em 1937. As pesquisas recentes indicam que o florigen consiste de dois componentes principais: giberelina e outros fatores de formação de flores chamados de antesinas.
A giberelina parece ser necessária para a formação de flores em plantas de dias longos, isto é, plantas que precisam de relativamente muitas horas de luz do dia para florescer. O florescimento em plantas de dias curtos, aquelas que só florescem se houver menos do que uma quantidade máxima de luz do dia, provavelmente é promovido pelas antesinas. Acredita-se que estas são produzidas nas folhas. Estão sendo feitos esforços para isolá-las e caracterizá-las.
Venalina: hormônio que se acredita ser essencial para o florescimento em cultivos bienais que requerem frio, tais como o trigo de inverno. É produzida nos embriões de sementes em fase de germinação ou nas células que se dividem nos meristemas apicais, ou extremidades em crescimento, de plantas maduras. O hormônio, nomeado pelo fisiologista Johann G. F. Melchers em 1939, ainda não foi extraído de plantas, nem mesmo em uma forma rudimentar.
Dorminas: inibem o crescimento de plantas ao fazerem os brotos em crescimento ativo adormecer. Foram descobertas quase que simultaneamente, em 1963 e 1964, por pesquisadores na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. O segundo grupo batizou a principal substância isolada de abscisina II.
Vitaminas B: tiamina, niacina e piridoxina (todas vitaminas do complexo B) às vezes são incluídas entre os hormônios vegetais. Essas substâncias, produzidas nas folhas das plantas, são mais associadas ao crescimento e à nutrição do que a alterações de forma.
Retardadores sintéticos de crescimento: algumas substâncias de crescimento sintéticas, desenvolvidas desde 1950, provocam o encurtamento dos entrenós, o endurecimento de caules e o escurecimento da cor verde na folhagem. Elas também aumentam a resistência das plantas à seca, ao frio e aos poluentes do ar. Em algumas plantas, como macieiras e azaléias, também encorajam a formação de flores ao desacelerar o crescimento vegetativo. Duas dessas substâncias químicas, vendidas sob os nomes Phosphon e Cytocel, são usadas extensamente na produção de frutas e em muitos cultivos de flores de estufa.
À medida em que o conhecimento de muitos tipos de hormônios reguladores de plantas aumenta, o ser humano obtém maior controle sobre o crescimento e o desenvolvimento de produtos agrícolas, aumentando sua capacidade de moldar as características desses produtos às necessidades do consumidor.