20 de novembro é o Dia da Consciência Negra, data que suscita reflexões e discussões sobre os vários aspectos que envolvem o papel e a participação dos afrodescendentes em nossa sociedade, incluindo avanços importantes e problemas que ainda precisam ser superados. A data marca o aniversário da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695.
Mas como se estabelecem as identidades afro-brasileiras em um contexto de valorização hegemônica da cultura europeia? O que isso representa em termos de construção cultural e histórica dos negros e negras brasileiros? Essas e outras questões constituem o tema do Café Controverso “Identidades afro-brasileiras: o que isso significa?”, a ser realizado neste sábado, 23 de novembro, a partir das 11h, na cafeteria do Espaço do Conhecimento UFMG. O debate conta com as presenças do Doutor em Antropologia Social e Professor da ECI- (Escola da Ciência de Informação) da UFMG, Rubens Alves da Silva, e do Coordenador do NEGA (Núcleo Experimental de Arte Negra e Tecnologia), o músico e arte-educador Gil Amâncio.
“Se o bom é a pluralidade, porque definir?”, questiona Gil Amâncio, um dos convidados do Café Controverso. A pergunta instiga outros olhares sobre o tema. Amâncio avalia que a questão da subvalorização da identidade afro-brasileira é o resultado direto da ausência de poder econômico e político, o que faz com que determinada produção simbólica ocupe um lugar marginal em relação às outras. Ele ressalta que o que mais desperta sua curiosidade quando se depara com um terreiro de candomblé, por exemplo, é como aquela forma de manifestação conseguiu resistir tanto tempo em um universo cultural em que é constantemente negada. “Esse é um dos pontos principais: entender quais ‘negociações’ foram feitas para que aquele costume sobrevivesse. O que foi agregado? O que se perdeu?”, indaga Amâncio, referindo.
Segundo o educador, muitos hábitos e costumes sobrevivem como resultado do que ele chama de “negociação”, ou seja, adaptações feitas para que a referência cultural seja aceita pelo grupo social hegemônico.
“Quando penso nisso me lembro do rap, que é a música do hip-hop. As letras, sempre extensas, costumavam ocupar três páginas. Hoje vejo que essa música é finalmente aceita, com veiculação em emissoras de rádio e tudo o mais. Mas o texto é bem menor, então avalio quais concessões foram feitas para que essa manifestação ocupasse este espaço, e o que foi perdido ou conquistado neste processo”, conclui, analisando os processos de construção das identidades africanas no país.
Para o professor Rubens Alves da Silva, autor do livro A Atualização de Tradições: performances e narrativas afro-brasileiras, as identidades são resultantes de uma população diversa e heterogênea. “Todo o processo histórico levou a uma construção negativa da identidade dos negros e negras, até pela forma como o africano chega ao Brasil, como um escravo, um objeto. E nesta situação ele constrói estratégias para preservar a sua humanidade, buscando elementos que tragam alguma referência de uma memória coletiva que remeta à África, seja na música ou na religião”, explica.
Sobre o papel do 20 de novembro e a “consciência negra”, o professor enfatiza que é uma questão de posicionamento político. “A consciência, neste caso, ocorre quando ultrapassa a percepção de que há algo errado e de que os espaços são socialmente construídos, nada é natural. É necessário que essa tomada de consciência envolva alguma forma de ação para mudar o estado das coisas”, afirma, enfatizando a importância das mobilizações para o avanço das questões referentes à comunidade negra.
Os Cafés do Espaço
Com o intuito de gerar um ambiente de encontro e intercâmbio de informações, o Espaço do Conhecimento UFMG promove atividades aos sábados em seu café, sempre no final da manhã, às 11 horas. O Café Controverso tem a participação de dois convidados com pontos de vista distintos sobre a temática discutida. Já o Café com Conhecimento é a oportunidade de conhecer e conversar mais sobre um determinado assunto, a partir da contribuição de uma pessoa especializada na questão. Em ambos, o público tem um papel fundamental para a dinâmica das discussões, uma vez que não atua somente como ouvinte, mas como participante ativo.
O Espaço do Conhecimento UFMG estimula a construção de um olhar crítico acerca da produção de saberes através da utilização de recursos tecnológicos e lúdicos. Sua programação diversificada inclui exposições, cursos, oficinas e debates. Integrante do Circuito Cultural Praça da Liberdade, o Espaço do Conhecimento é fruto da parceria entre a operadora TIM, a UFMG e o Governo de Minas. O Espaço conta com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG e com o patrocínio da Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais – CODEMIG.
Serviço
Café Controverso – IDENTIDADES AFRO-BRASILEIRAS: O QUE ISSO SIGNIFICA?
Data: 23 de novembro, 11h
Local: Espaço do Conhecimento UFMG - Circuito Cultural Praça da Liberdade
Entrada Franca
Mais informações: www.espacodoconhecimento.org. br
Informações para a Imprensa: (31)- 3409-8351 ou imprensa@espacodoconhecimento. org.br