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segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Internacionalização da ciência é tema de edição do CSP


A internacionalização da ciência vem sendo objeto de grandes debates no Brasil, e mais do que isto, de grande investimento, por meio do programa Ciência sem Fronteiras. Segundo dados apresentados em artigo publicado na Nature há uma grande ampliação da colaboração internacional na última década, principalmente em alguns países desenvolvidos. No Reino Unido, por exemplo, a proporção de artigos com participação de autores de mais de um país aumentou de 20% para 50% entre 1981 e 2012. No Brasil, essa proporção oscilou em torno de 25% em todo o período, com o máximo na década de 90, quando alcançou pouco mais de 30%. A questão é: internacionalizar para quê, ou talvez, para quem? E em que direção? Esses são os questionamentos apresentados pelas editoras de Cadernos de Saúde Pública (CSP) no editorial do volume 30, número 8, da publicação de agosto de 2014, que está disponível para leitura on-line.

De acordo com as editoras, Marilia Sá Carvalho, Claudia Travassos e Cláudia Medina Coeli, esse padrão de colaboração científica liderada pelos países ocidentais desenvolvidos impacta positivamente os índices de citação de suas publicações. A revista Cadernos de Saúde Pública continua aprofundando a política de internacionalização ampla, apresentada no editorial de dezembro de 2012. Segundo as editoras, além de aceitar artigos em três idiomas, o quadro de editores da revista conta agora com a colaboração de dois editores associados portugueses: o professor da Faculdade de Desporto da Universidade do Porto, Jorge Mota e o professor da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra, João Arriscado Nunes. Além da colaboração do professor brasileiro da University of Massachusetts Boston, Carlos Eduardo Siqueira.

“Apoiamos a internacionalização, tal como é pensada no Brasil, também voltada para os países do mundo em desenvolvimento. Em 2013, publicamos 33 artigos de autores latino-americanos, e em 2014, até o fascículo 6 (junho), 44 artigos. Nos últimos 12 meses recebemos 97 submissões de dez diferentes países latino-americanos, entre os quais 37 estão em avaliação ou já aprovados. Mas dentre todos esses, somente cinco tinham coautorias com brasileiros. O que nos traz de volta ao ponto inicial: a importância de se incentivar a cooperação internacional por meio da criação de redes de pesquisa, para que aumente a produção de artigos internacionalizados. É nossa intenção que Cadernos Saúde Pública seja não apenas um veículo de estímulo à publicação científica, com espaço substancial para autores não oriundos dos países centrais, mas que seja uma porta aberta aos cientistas de todo o mundo na geração de conhecimentos novos e relevantes”, destacaram as editoras.

volume 30, número 8 do CSP aborda, na seção Perspectivas, o debate sobre A regulação da maconha no Senado Federal: uma pauta da Saúde Pública no Brasil. Assinado pela pesquisadora da ENSP Angela Esher e pelo mestrando em Saúde Pública da Escola André Kiepper, o texto aponta que o modelo proibicionista de combate às drogas demonstra um esgotamento que pode ser visto na violência associada ao narcotráfico, no comércio ilegal de substâncias adulteradas, nas receitas fiscais perdidas, no desperdício de recursos públicos, no desvio da atenção dos problemas reais da sociedade para uma falsa solução e na ausência de pesquisas clínicas sobre a eficácia e efetividade das plantas medicinais proscritas. Segundo os autores, o Poder Legislativo, entretanto, parece atento às mudanças de percepção da população sobre o tema. Recentemente, Senado Federal e Câmara dos Deputados iniciaram a discussão sobre a regulação da maconha no Brasil, impulsionados por uma proposta popular de fevereiro de 2014.


Fechando a edição, na seção Resenha, a pesquisadora da ENSP Cristiani Vieira Machado, fala sobre o livro Democracy and the Left: Social Policy and Inequality in Latin America, de Evelyne Huber e John D. Stephens. Para ela, a publicação não é apenas o produto de uma pesquisa abrangente e cuidadosa, a obra também resulta da brilhante carreira de dois cientistas políticos que há décadas vêm desenvolvendo estudos histórico-comparativos de grande envergadura e densidade. Segundo a pesquisadora, os autores desenvolvem e aprofundam argumentos que haviam sido levantados em trabalhos anteriores. O foco do trabalho atual, entretanto, é a relação entre democracia, políticas sociais e redistribuição na América Latina.

“O livro é inovador do ponto de vista teórico e metodológico, além de apresentar resultados interessantes de pesquisa acerca da trajetória recente de transformações na política nos países latino-americanos, com ênfase nos seus efeitos sobre a mudança social”, explica. Segundo Cristiani, em resumo, os argumentos centrais dos autores – que as desigualdades não são imutáveis; e que a política, em um contexto democrático, pode trazer mudanças redistributivas na América Latina – são sustentados ao longo da obra por um debate teórico denso e por pesquisa consistente. Para a pesquisadora, sem dúvida, o livro é essencial para cientistas sociais, estudiosos das políticas sociais e, de forma mais ampla, para todos aqueles engajados na compreensão das transformações políticas e sociais recentes na América Latina.