São notórios os debates várias vezes travados em busca do melhoramento do currículo escolar existente, visto, principalmente, a elevação assombrosa do índice de evasão escolar. Mas, o que se ver se olhamos mais afundo é a necessidade de conceber um currículo forjado no calor dos anseios de uma educação espelhada nos fenômenos da globalização e da diversidade.
Currículo e Escola Flexíveis
Esse currículo, nascente em dias atuais, deverá ser concebido num modelo escolar totalmente renovado. Ele deverá surgir no seio de uma escola nova, capaz de conviver com a diversidade do seu aluno e proporcionar-lhes a maleabilidade necessária para ser garantido o direito de escolha, seja de seu futuro nas plataformas acadêmicas ou até mesmo no mercado de trabalho.
É fato que uma escola única para todos não oferta uma educação que surta um efeito positivo. Na verdade esse perfil de escola promove uma educação farsante, sem resultados promissores visíveis, incapaz de formar um aluno autônomo e detentor de um pensamento criativo e livre. Por isso, não há motivos para manter essa estrutura escolar tradicionalista. O que deve haver é uma ruptura paradigmática viabilizando o nascimento de uma escola nova, totalmente desnuda dos pensamentos fracassados de outrora. “(…) essa escola única, inflexível, igual para todos e com inúmeras disciplinas faz com que se criem o aluno entediado e o perdido”. (Costa 2012)
Talvez o debate sobre os êxitos ou fracassos do currículo escolar brasileiro deva ganhar um novo rumo e repensar sobre sua real existência. Quando partimos para uma discussão dessa natureza, largamos do pressuposto de que existe um currículo em nosso sistema educacional, por mais que sua existência seja insuficiente para solucionar os problemas atuais. Será que estamos no caminho certo, quando tentamos corrigir um currículo de existência questionável? Qual o referencial curricular vigorante no país? Quais os conhecimentos que os aprendizes deverão alcançar ao final de cada ciclo/etapa?
As avaliações externas nacionais, que seriam responsáveis por diagnosticar as mazelas contraídas no processo de ensino-aprendizagem, apontam cada vez mais para a inexistência de um currículo, seja ele bom ou ruim. Além disso, com a cobrança acirrada que elas causam nos docentes, estes passam a ensinar baseados em suas exigências, levando o ensino para um nível totalmente mecânico, que não proporciona o desenvolvimento investigativo do discente, característica que faria nascer o conhecimento global, sem fronteiras.
O bom currículo define os objetivos a serem avaliados ao final de cada ciclo/etapa. O que temos hoje é a omissão dessa função, o que deixa uma lacuna entre o que é ensinado, o que era para ser ensinado e o que é, mesmo assim, avaliado. “(…) a escrita e a produção de textos não estão incluídas, pelo menos ainda, nas avaliações externas, pela dificuldade de correção objetiva e de expressão dos resultados em números”. Soares (2012).
Isso com certeza reflete a omissão da “cúpula educacional” com a importante missão de alfabetizar, verdadeiramente, os nossos alunos. Como não se sabe como estão os nossos alunos em termos de escrita e leitura, não tem como empreender esforços ou implantar medidas que amenize esse problema recorrente ao longo do tempo. Em vez de se fazer um diagnóstico verídico, prefere-se atirar no escuro e acertar o causador do problema como num jogo de azar.
Este trabalho demonstra suscintamente o debate que se gera a cada dia em torno do currículo escolar brasileiro e o modelo tradicionalista da maioria das nossas escolas. Sem dúvida a discussão não se encerra nesse breve artigo, sendo este, apenas um ensaio advindo de uma pesquisa que empreendi a fim de diagnosticar os elementos do fracasso em nossa educação no que concerne ao desenvolvimento de um aluno crítico desde sua origem, pesquisador por essência, abrangente na busca pelo conhecimento sem fronteiras, reflexivo das questões sociais e educacionais e, não menos importante, capaz de inserir-se no mercado de trabalho.
“Deve haver múltiplos caminhos formativos disponíveis às escolhas dos discentes, pois estes são ‘metamorfos’ em sua natureza e livres em sua essência”.
Referências Bibliográficas
SOARES, Magda. Entrevista. Revista Presença Pedagógica, Belo Horizonte, v.18, n.107, p.5-13, 2012.
COSTA, José Carlos Oliveira. O Currículo de Matemática e a Flexibilidade de Caminhos Formativos. Revista Pátio: Ensino Médio, Profissional e Tecnológico. Porto Alegre, n.13, p.10-13, 2012.