FOTOGRAFIAS

AS FOTOS DOS EVENTOS PODERÃO SER APRECIADAS NO FACEBOOCK DA REVISTA.
FACEBOOK: CULTURAE.CIDADANIA.1

UMA REVISTA DE DIVULGAÇÃO CULTURAL E CIENTÍFICA SEM FINS LUCRATIVOS
(TODAS AS INFORMAÇÕES CONTIDAS NAS PUBLICAÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DE QUEM NOS ENVIA GENTILMENTE PARA DIVULGAÇÃO).

domingo, 25 de março de 2012

Arquitetura Futuro 2012




Zaha Hadid lembra que era ainda “uma criança crescendo na República do Iraque” quando o Brasil vivia seu momento de maior ênfase na arquitetura. Eram os anos 1950, e Zaha sentia que também em Bagdá havia um sentimento de “construção da nação”. Hoje, aos 61 anos, ela é a única mulher da História a ter recebido o Pritzker (em 2004), considerado o prêmio Nobel da arquitetura, e desembarca no Rio, nesta semana, num momento que, afirma, é muito semelhante ao dos anos 1950: há um “orgulho renovado na estrutura das cidades” somado a “ideais de mudança”.
Será a quarta vez de Zaha Hadid no Rio desde os anos 1980. Agora, irá falar ao público no Arq.Futuro, encontro que trará ao Rio, além dela, o arquiteto japonês Shigeru Ban e os economistas Edward Glaeser, de Harvard, e José Alexandre Scheinkman, de Princeton — ambos pensadores do espaço urbano. Zaha fará palestra no dia 30, às 18h, no Espaço Tom Jobim.
Declaradamente influenciada por Niemeyer (que também recebeu o Pritzker, em 1998), a iraquiana radicada em Londres diz que, como ele, “despeja o concreto em formas fluidas” para criar construções em que a integração de espaços e as curvas são os elementos mais marcantes. São dela projetos como a Guangzhou Opera House, na China, o museu MAXXI, em Roma (pelo qual recebeu prêmio Riba Stirling 2010), e o London Aquatics Centre, o parque aquático das Olimpíadas de Londres.

Segundo a própria o primeiro veículo da América do Sul para o qual fala, Zaha diz que a arquitetura precisa entrar no século XXI, ir além dos “compartimentos do século XX” e abandonar conceitos de separação para integrar “complexidades da vida contemporânea”. Ela também afirma que o Rio precisa aprender com o modelo das Olimpíadas de Londres e acredita que, hoje, o Brasil “deve ser um dos países mais estáveis da Terra”.



 A senhora já veio várias vezes ao Rio. O que a impressiona?

ZAHA HADID: O Rio justapõe e opõe: paisagens marítimas e picos, modernidade e desordem, riqueza e pobreza. A solidão das florestas urbanas contrasta com multidões de pessoas e lojas no Centro da cidade. A integridade das favelas contrasta com a opulência e a perfeição de Copacabana e Ipanema. Essas adjacências extremas são o que tornam a cidade tão incrivelmente única. Eu acredito que as cidades precisam de lugares para que as coisas possam encolher e crescer — precisamos permitir e planejar um crescimento orgânico — e temos muito a aprender com essa expansão orgânica da cidade. Com sua energia e seu ritmo, o Rio é absolutamente de tirar o fôlego.
Muito se diz sobre a beleza natural da cidade. A senhora vê aqui peculiaridades?

A cidade tem o presente da topografia. Os morros do Rio cumprem o mesmo papel que os arranha-céus em Nova York ou Xangai, são referências polares. O desequilíbrio criado pelos declives naturais das montanhas é transferido para toda a cidade, gerando uma qualidade elástica e maleável no tecido urbano do Rio que estimula uma arquitetura dinâmica e fluida, que pode explorar conceitos radicais e extremos. Há uma maravilhosa porosidade e complexidade, a cidade tem muitas camadas ricas, e as construções refletem isso.

Recentemente, arquitetos da Universidade de Columbia vieram ao Rio. Há, aliás, um braço da escola de arquitetura de Columbia aqui. Por que o Rio tem atraído arquitetos renomados?
Nas últimas décadas, a América do Sul sofreu com um grau de isolamento e imprevisibilidade. É claro que isso permite uma liberdade de criação inimaginável, mas também traz restrições para arquitetos que trabalham com projetos de construções a longo prazo. A indústria da construção depende de certa estabilidade. No passado, houve momentos maravilhosos na arquitetura da América do Sul. Nos anos 1950, quando eu era uma criança crescendo na República do Iraque, era um momento de construção da nação, com muita ênfase na arquitetura, não apenas no mundo árabe, mas também na América do Sul. Havia uma crença inabalável no progresso e um senso de otimismo. Era um momento semelhante ao de agora, havia um orgulho renovado na estrutura da cidade, com ideais de mudança.

Na sua opinião, o que mudou nos últimos anos?

Com a internet, cidades da América do Sul, especialmente do Brasil, não estão mais muito isoladas do resto do mundo. O recente e longo período de estabilidade política e econômica do Brasil pode também ser considerado um importante fator. É sempre uma luta trabalhar por tanto tempo num projeto em que você coloca seu coração e sua alma em cada parede e coluna, e, então, vê-lo cancelado devido à instabilidade política ou econômica. Esse não é mais o caso, o Brasil hoje deve ser um dos países mais estáveis da Terra!
O que a arquitetura pode fazer por uma cidade?
Sinto que a arquitetura é um veículo que pode abordar questões sociais importantes da atualidade. A sociedade contemporânea não está estática, e os edifícios precisam evoluir com os novos padrões de vida para satisfazer às necessidades de seus usuários. Acho que o que a nossa geração traz de novo é um nível maior de complexidade social, que deve estar refletido na arquitetura. As complexidades e o dinamismo da vida contemporânea não podem ser relegados aos ângulos retos e aos blocos da arquitetura do século XX. Por isso, um dos grandes desafios da arquitetura e do urbanismo contemporâneos é ir além da arquitetura do século XX, aquela da compartimentação, em direção à arquitetura do século XXI: uma arquitetura de espaços flexíveis, que reflete os processos complexos da vida, do trabalho, e a fluidez muito maior das carreiras e das corporações.




A arquitetura do século XX não serve mais?
A repetição e a separação que definiam as construções do século XX foram superadas por construções que unem e adaptam. Esses novos sistemas permitem a organização e o planejamento de complexos processos de vida que assimilam nossos aspectos de trabalho, educação, entretenimento, habitação e transporte. Elementos na nossa arquitetura se ajustam para formar um continuum, criando uma ordem, uma diferenciação lógica de componentes que têm elegância e coerência.


O Rio se prepara para as Olimpíadas de 2016, em que há muitos investimentos e, por outro lado, o risco de usá-los de forma equivocada. Como aproveitar esse momento?
Acho que seria interessante para o Rio estudar o modelo adotado por Londres. Os organizadores dos Jogos Olímpicos de lá decidiram promover as Olimpíadas mais sustentáveis da História. Portanto, a ideia é desenhar e construir espaços que sejam um legado a longo prazo, depois dos jogos. Esses novos locais são, então, temporariamente adaptados para as Olimpíadas. Essa é a chave para a sustentabilidade de todo o desenvolvimento olímpico e muito importante para Londres, já que a cidade não pode arcar com muitos locais caros, superdimensionados e subutilizados. Com 17.500 lugares, nosso projeto para o Centro Aquático de Londres tem capacidade de receber mais espectadores que qualquer outra piscina olímpica da História. Vai, então, ser reduzido para um local de menor capacidade depois dos jogos (apenas 2.500 lugares). Fora das Olimpíadas, eventos de natação no Reino Unido atraem pouco mais de mil espectadores. Então, não há necessidade futura de um lugar com tantos lugares.

A senhora costuma declarar que foi muito influenciada por Oscar Niemeyer. Como essa influência surge nos projetos?
Muitos arquitetos daquele período experimentaram com a forma, mas Niemeyer elevou seu trabalho a um nível superior, usando todas as vantagens da capacidade de o concreto ser despejado em formas fluidas, como eu faço no meu trabalho com as muito mais avançadas tecnologias de que dispomos hoje. Nossos projetos, como o MAXXI, o Phaeno Science Centre Germany e o Centro Aquático de Londres, capturam movimento e vida por meio da fluidez.




O júri do Pritzker, quando anunciou sua vitória, disse que a senhora se mantinha firme no compromisso com o modernismo. A senhora mantém tal compromisso? Sua obra mudou nos últimos dez anos?
As camadas e a porosidade estavam sempre no meu trabalho, fatiar tudo muitas vezes, fazer algumas coisas deslizarem sobre o projeto e outras desaparecerem. Recentemente, nós olhamos para a geologia e a arqueologia, a morfologia orgânica, células, biologia. Eu diria que o design ficou mais extremo porque as construções ficaram mais complexas, tendo que acomodar tantos usos diferentes em apenas uma solução. É obviamente uma geometria não euclidiana. As pessoas dizem: “Por que não há linhas retas, por que não há 90 graus?” Isso é porque a vida não é feita num quadrado. Uma paisagem, por exemplo, não é sequer regular. Mas as pessoas vão até as paisagens e acham que é muito natural, muito relaxante. Acho que podemos conseguir esse efeito na arquitetura.


Evento discute as metrópoles

Em sua segunda edição, o Arq.Futuro troca São Paulo pelo Rio e traz à cidade, além de Zaha Hadid, o arquiteto japonês Shigeru Ban, além dos economistas Edward Glaeser, professor da Universidade de Harvard, e José Alexandre Scheinkman, da Universidade de Princeton. O evento tem como objetivo discutir como a arquitetura interfere em diferentes aspectos da vida contemporânea. Durante dois dias, nas próximas quinta e sexta-feira, debates e palestras vão analisar soluções urbanísticas para as metrópoles. A proposta é, a partir da arquitetura, pensar como as cidades podem encontrar melhores organizações.

Na quinta, às 12h, reúnem-se num fórum no MAM os economistas Edward Glaeser, que, além de ser professor de Harvard, é diretor do Taubman Center e do Rappaport Institute, e José Alexandre Scheinkman, formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e PhD pela Universidade de Rochester.

Na sexta, às 9h, no Espaço Tom Jobim, o palestrante será Shigeru Ban. Com escritórios em Tóquio e em Paris, Ban é conhecido por criar edificações temporárias, em papelão e materiais alternativos, para cidades que enfrentam desastres naturais. Às 11h, Ban participa de fórum com os arquitetos Augusto Ivan Pinheiro, que integra a equipe responsável pelo planejamento de ações das Olimpíadas de 2016, Sérgio Magalhães, consultor de urbanismo do BID e presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB) do Rio, e Lauro Cavalcanti, doutor em Antropologia Social e curador do Arq.Futuro. Às 18h, Zaha Hadid fala ao público. As vagas para o evento estão esgotadas.

O GLOBO promove debate extra no Arq. Futuro

Apoiador da programação oficial de encontros do Arq.Futuro no Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio e no Espaço Tom Jobim, o GLOBO vai promover um debate adicional, batizado de O GLOBO no Arq.Futuro. Com entrada gratuita, no dia 31, às 17h, na Casa do Saber, o jornal reunirá a americana Karen Stein, escritora e consultora de arquitetura, e o economista carioca José Alexandre Scheinkman para um debate com mediação do jornalista Mauro Ventura.

Integrante do júri do prêmio Pritzker, Karen Stein foi editora-chefe da Phaidon Press, editora especializada em livros de arte. É formada em Arquitetura pela Universidade de Princeton, membro da Architectural League, de Nova York, e copresidente do Círculo de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna (MoMA), de Nova York.

Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e PhD pela Universidade de Rochester, o economista José Alexandre Scheinkman é professor de Economia da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, desde 1999 . Foi chefe do Departamento de Economia da Universidade de Chicago e vice-presidente em estratégias financeiras da Goldman Sachs.


Com 50 lugares disponíveis para o público, o evento do GLOBO terá distribuição de senhas na própria Casa do Saber, uma hora antes de seu início. O encontro terá tradução simultânea.