Em solenidade realizada no dia 25 de fevereiro, o pesquisador da ENSP e presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), Paulo Amarante, foi homenageado pela Câmara de Vereadores de Campinas por sua vida dedicada em defesa do Sistema Único de Saúde e pela atuação na luta antimanicomial no Brasil e pelo mundo. No mesmo dia, Amarante proferiu a aula inaugural para os recém-ingressantes do programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental e Coletiva da Faculdade de Ciências (FCM) da Unicamp. O evento marcou, também, a conclusão da primeira turma de residentes. A homenagem - Voto de Aplausos da Câmara de Vereadores de Campinas -, foi articulada pelo vereador Pedro Tourinho.
Quem é Paulo Amarante
Paulo Duarte de Carvalho Amarante formou-se em medicina pela Escola de Medicina da Santa Casa de Misericórdia no ano de 1976. Possui especialização em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria da UFRJ (1978). Mestrado em Medicina Social pelo Instituto de Medicina Social da Uerj (1982), doutorado em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (1994) e pós-doutorado pelo Dipartimento di Salute Mental di Imola (1996). Tem ainda título de especialista em Psiquiatria pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP). Possui um trabalho sem precedentes na luta antimanicomial e pela reforma psiquiátrica. Atualmente, Paulo Amarante coordena o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (Laps/ENSP/Fiocruz), é presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental (Abrasme), editor científico da revista Saúde em Debate, do Centro Brasileiro de Estudos da Saúde (Cebes) e coordenador do grupo de trabalho em Saúde Mental da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Coletiva (Abrasco).
Campinas e a luta antimanicomial
Campinas possui uma tradição histórica na saúde, sendo pioneira na implantação do SUS e trazendo importantes nomes da Saúde Coletiva brasileira como Nelson Rodrigues dos Santos (Nelsão), Gastão Wagner e Sergio Arouca. Segundo Amarante, o município começou a desenvolver uma experiência inovadora em Saúde Mental, em 1991, em um hospital psiquiátrico em Souzas, distrito de Campinas, que tinha graves irregularidades, sofrendo uma intervenção a exemplo do que havia ocorrido dois anos antes na cidade de Santos.
“Entretanto, Campinas tomou um caminho próprio. Em vez de intervenção e exoneração da Direção ou desapropriação do local, o município passou a experimentar uma cogestão pública de um hospital que era filantrópico. Foi uma das experiências mais ricas da Reforma Psiquiátrica brasileira”, explicou Paulo Amarante.
Atualmente, a cidade possui uma rede ampla, com importantes Centros de Atenção Psicossocial (Caps), Caps com leitos 24 horas, residências, um projeto de economia solidária que promove oficinas de papel e corte e costura, por exemplo, envolvendo centenas de usuários deste sistema que trabalham e injetam recursos na economia local. “Há uma residência multiprofissional em Saúde Mental, além de cursos de especialização, aprimoramento e mestrado, todos com muita expressão na luta contra a medicalização. Campinas foi pioneira na regulamentação da ritalina, antes mesmo da regulamentação da prefeitura de São Paulo (confira aqui entrevista com Paulo Amarante sobre o tema). A prescrição deste medicamento caiu de mais de 20 mil comprimidos por mês para menos de mil comprimidos. Algo bem expressivo”, concluiu o pesquisador.