No dia em que a tragédia ocorrida no município de Mariana, em Minas Gerais, causada pelo rompimento da barragem da Mineradora Samarco, completa seis meses, pesquisadores, profissionais de órgãos governamentais (defesa civil, saúde e meio ambiente), movimentos sociais e representantes dos moradores das regiões afetadas se reunirão para discutir os impactos sofridos e as ações realizadas durante o semestre. O encontro tem como um de seus organizadores o pesquisador da ENSP e coordenador do Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (ENSP/Fiocruz), Carlos Machado de Freitas. Léo Heller, coordenador do grupo de pesquisa de Direitos Humanos e Políticas Públicas em Saúde e Saneamento do Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas), responsável por conduzir as ações relacionadas à tragédia em toda a Fundação também participará das discussões. O seminário será realizado nos dias 5 e 6 de maio em Mariana.
Intitulado O Desastre da Samarco: balanço de seis meses de impactos e ações, o seminário, segundo Heller, objetiva mostrar os avanços do conhecimento sobre o tema disseminando os progressos obtidos. Ele disse, ainda, que a ideia é que todo esse conhecimento possa se transformar em medidas concretas, remediando os efeitos do desastre e gerando políticas públicas.
Durantes os dias do evento, os participantes se debruçarão sobre os efeitos do desastre, considerado o maior já ocorrido no Brasil em termos de danos socioambientais. Temas como a compreensão dos riscos de desastres na mineração, o Marco de Sendai, bem como as lições que podem ser tiradas da tragédia estarão em debate. Os participantes também discutirão novas dinâmicas de desenvolvimento econômico e social sustentável com projetos de mineração.
Carlos Machado lembrou que, durante as discussões ocorridas sobre o evento, foi defendido que os pesquisadores deveriam alertar e advertir sobre os impactos do desastre de 5 de novembro de 2015. "Eles não terminaram naquele dia. São impactos que não só continuam, mas vão se ampliar por anos, por décadas. Eventos como esse requerem encontros semestrais ou anuais para fazer um balanço e não permitir que caiam no esquecimento, pois é nisso que as empresas e aqueles que não têm compromisso com a defesa desses direitos apostam”, completou Machado.
O seminário está sendo promovido pela Fiocruz, em parceria com a United Nations International Strategy for Disaster Reduction (UNISDR), a Rede de Pesquisadores em Redução do Risco de Desastres no Brasil (RP-RRD-BR), a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udes). Segundo Carlos Machado, no mês de fevereiro, os pesquisadores iniciaram um trabalho coletivo envolvendo não somente várias instituições, mas também diferentes perspectivas sobre esse desastre. “O resultado, a meu ver excelente, é a combinação de reflexão sobre o desastre com balanço dos impactos e ações e, ao mesmo tempo, subsídio para as ações por parte do Estado e dos movimentos sociais.”
O evento será na cidade de Mariana, no Hotel Providência, localizado na Rua Dom Silvério, 233, Centro. Nos dois dias (5 e 6/5), o seminário acontecerá das 9h às 17 horas. Veja a programação completa no site da Fiocruz Minas.
Ações da Fiocruz
Desde meados de novembro, após o rompimento da barragem em Mariana (5/11), a Fiocruz tem articulado ações estratégicas com profissionais de outras instituições para discutir formas de atuação nas regiões afetadas pela tragédia. Além das pesquisas iniciais referentes à qualidade da água e ao impacto do desastre no meio ambiente, a Fundação também vem discutindo com o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) o desenvolvimento de estudos para a avaliação dos impactos na saúde, provenientes do rompimento da barragem.
O Centro de Pesquisa René Rachou (CPqRR/Fiocruz Minas) também tem coordenado atividades e participado de discussões da força-tarefa do governo do Estado de Minas Gerais, instituída por meio do Decreto 46.892/2015, pelo governador Fernando Pimentel. A iniciativa visa avaliar os efeitos e os desdobramentos do rompimento da barragem.
Ações integradas ao município de Mariana também estão ocorrendo desde o mês de dezembro, quando o CPqRR participou de reunião técnica, em que o secretário municipal de Saúde, Juliano Duarte, transmitiu à equipe as principais necessidades da cidade. Já no início de janeiro, um segundo encontro entre técnicos das Secretarias Municipal e Estadual de Saúde e profissionais da Fiocruz foi efetuado com o intuito de realizar uma ação conjunta e coordenada.
A Fundação também participou dos debates com pesquisadores de diferentes áreas para a construção de projeto para o edital 04/2016 da Fundação de Amparo à Pesquisa do estado de Minas Gerais (Fapemig), com o título Tecnologias para recuperação da Bacia do Rio Doce. O edital foi lançado no dia 7 de janeiro e destina cerca de 7 milhões a pesquisas que busquem soluções para os problemas que atingem as regiões afetadas.
Já no mês de fevereiro, na semana em que a tragédia ocorrida em Mariana (MG) completou três meses, a Fiocruz e mais 20 instituições brasileiras assinaram um manifesto que alerta para a importância de acompanhar com cautela todo e qualquer projeto de reconstrução das localidades afetadas pelo rompimento da barragem de Fundão. Os signatários do documento ressaltaram que o processo de construção da nova localidade deve considerar, no mínimo, a equivalência das condições de vida existentes anteriormente à tragédia; e que todas as decisões devem levar em consideração o desejo e a opinião da população afetada.