FOTOGRAFIAS

AS FOTOS DOS EVENTOS PODERÃO SER APRECIADAS NO FACEBOOCK DA REVISTA.
FACEBOOK: CULTURAE.CIDADANIA.1

UMA REVISTA DE DIVULGAÇÃO CULTURAL E CIENTÍFICA SEM FINS LUCRATIVOS
(TODAS AS INFORMAÇÕES CONTIDAS NAS PUBLICAÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DE QUEM NOS ENVIA GENTILMENTE PARA DIVULGAÇÃO).

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

'Ciência & Saúde Coletiva' aborda pesquisa qualitativa em medicina

edição de janeiro de 2017, vol. 22 nº 1, da revista Ciência & Saúde Coletiva, disponível on-line, é um número temático que tem por objetivo dar visibilidade às pesquisas qualitativas desenvolvidas no campo das práticas em saúde, dada a pouca valorização desse método por grande parte dos profissionais de saúde, principalmente os médicos. De acordo com as pesquisadoras Stella Regina Taquette, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e Wilza Vieira Villela, da Universidade Federal de São Paulo, os estudos qualitativos publicados em periódicos da área da Saúde são minoria, principalmente entre os que são conduzidos por médicos. Por outro lado, os raros profissionais de saúde que trabalham com o método qualitativo, muitas vezes, são criticados pela superficialidade com que abordam a realidade social e pela incapacidade de debater dados empíricos e aplicar a teoria de forma consistente e aprofundada. "Pesquisadores qualitativistas se queixam da dificuldade de publicar os resultados dos seus trabalhos em revistas da área da Saúde. Essa dificuldade repousa tanto na carência de formação dos profissionais de saúde em temas das ciências humanas, resultando em trabalhos muitas vezes limitados do ponto de vista teórico ou metodológico, como na relutância de alguns editores em reconhecer seu valor. Vários periódicos da área médica ainda se mostram econômicos e, às vezes, até hostis quanto à veiculação de artigos que trazem resultados de estudos qualitativos. Como se a prática médica prescindisse de estudos que enfoquem a doença, o sofrimento e a adesão às terapias como resultados de dinâmicas sociais, incluindo a política e a organização das práticas e serviços." Esse número apresenta artigos resultantes de investigações qualitativas conduzidas por equipes que incluem médicos.
 
Na seção Debate, o artigo Cientificidade, generalização e divulgação de estudos qualitativos, a pesquisadora da ENSP, Maria Cecília de Souza Minayo debate o trabalho "Balizas do conhecimento: análise das instruções aos autores das revistas brasileiras da área de Saúde", de Stella Regina Taquette e Wilza Vieira Villela. Para Minayo, elas levantam três pontos principais: a cientificidade, a possibilidade de generalização e a divulgação em periódicos científicos. Concordando com as autoras, dentro do marco filosófico das teorias compreensivas, Minayo diz que todos os pesquisadores qualitativos inaugurais e atuais trabalham com vários tipos de abordagem, orientados para análise de casos concretos em sua temporalidade e localização e se manifestam por meio de expressões e significados que as pessoas dão a suas experiências e vivências. Todos têm como parâmetro o reconhecimento da subjetividade, do simbólico e da intersubjetividade nas relações e trazem para o interior das análises o indissociável embricamento entre sujeito e objeto, entre atores sociais e investigadores, entre fatos e significados, entre estruturas e representações. Segundo ela, existe também uma esperança de que os novos cursos de medicina voltados para atenção básica, pela necessidade irremediável de contato com a realidade social da população a que os médicos servirão, possam ensejar pesquisas e práticas de cunho compreensivo. De outro lado, infelizmente, acrescenta Minayo, grande quantidade de artigos qualitativos chegam às revistas (mesmo às mais abertas) sem qualidade suficiente para passar no crivo editorial. 
 
O artigo Relações entre oncohematopediatras, mães e crianças na comunicação de notícias difíceis, de autoria de Selene Beviláqua Chaves Afonso, do Instituto Nacional da Saúde da Criança, da Mulher e do Adolescente Fernandes Figueira/Fiocruz, e Maria Cecília de Souza Minayo, apresenta um estudo de relações entre oncohematopediatras, mães e crianças no compartilhamento de notícias difíceis (ND) num hospital público do Rio de Janeiro. O texto enfatiza o entrelaçamento de técnica e emoção durante o tratamento de crianças com diagnósticos em que a probabilidade de desfecho fatal está sempre presente. Buscou-se compreender a importância da comunicação que inclui expressões e controle das emoções, aspectos bioéticos que exigem sensibilidade, serenidade e verdade sobre a aproximação do final da vida, e como as médicas equilibram proximidade com as crianças e familiares e objetividade em sua atuação. Os principais resultados mostram: intensas trocas sobre ND entre as profissionais; recaída de crianças que estavam evoluindo positivamente com a notícia mais difícil; atualização da ND diante dos pacientes terminais; influência da qualidade da comunicação no tratamento; exercício permanente de equilíbrio entre proximidade e distanciamento por parte das profissionais e evidência do insubstituível papel delas para dar segurança à família e à criança.
 
No artigo O processo de conformação do perfil assistencial nos hospitais federais da cidade do Rio de Janeiro, Brasil, produzido pelos pesquisadores Luciane Binsfeld, do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, Criança e Adolescente Fernandes Figueira, e Francisco Javier Uribe Rivera e Elizabeth Artmann, da ENSP, é analisado o processo de conformação do perfil assistencial nos hospitais federais no município do Rio de Janeiro. A análise dos dados foi realizada a partir da formação do Discurso do Sujeito Coletivo. Na percepção dos gestores, esse processo é decorrente de um conjunto de estratégias emergentes, as propostas e necessidades de mudança se constituem de reações adaptativas que as unidades desenvolvem de forma desarticulada visando à resolução de problemas identificados pelos profissionais e gestores. Algumas experiências de trabalho com a missão hospitalar, como o enfoque da démarche stratégique, já apontam para uma construção mais colegiada na definição do perfil assistencial, que considera o hospital como componente de uma rede integrada de serviços e adota um processo de decisão menos incremental e mais integrador.
 
Distribuição espacial de queimadas e mortalidade em idosos em região da Amazônia Brasileira, 2001 – 2012 é o artigo de Valdir Soares de Andrade Filho, da Universidade do Estado do Amazonas, Paulo Eduardo Artaxo Netto, da Universidade de São Paulo, e Sandra de Souza Hacon e Cleber Nascimento do Carmo, da ENSP, que teve como objetivo avaliar a distribuição espacial dos focos de queimadas e da mortalidade por doenças respiratórias e cardiovasculares em idosos, no Estado de Rondônia, no período de 2001 a 2012. Os dados de mortalidade foram obtidos por meio do Sistema de Informação de Mortalidade, do Ministério da Saúde. As maiores taxas de mortalidade foram observadas no centro-leste e sudeste de Rondônia. Os focos de queimadas concentraram-se na porção norte do estado, mas com quantidade relevante em outras regiões. As distribuições espaciais das áreas quentes de taxa de mortalidade e de queimadas não se mostraram diretamente associadas. Entretanto, as queimadas foram observadas em todos os municípios do estado. Os poluentes emitidos na queima podem ser transportados por milhares de quilômetros das áreas de origem e influenciar a saúde de idosos.
 
Confira, na íntegra, a edição de janeiro de 2017 (vol.22 n.1) da revista Ciência & Saúde Coletiva.