O economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, professor emérito da Fundação Getulio Vargas, acaba de receber o título de Pesquisador Emérito do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), uma das mais importantes honrarias brasileiras na área científica. A escolha de Bresser-Pereira foi motivada por sua contribuição na área econômica e pelo prestígio que desfruta na comunidade acadêmica.
Ao longo de décadas, o professor Bresser-Pereira tem se dedicado ao ensino, à pesquisa e à publicação na área de economia. Em parceria com outros estudiosos, construiu uma teoria macroeconômica aplicada, denominada Novo Desenvolvimentismo, que é considerada por ele uma das suas principais contribuições para o debate econômico.
Voltada a países de renda média como o Brasil, a teoria do Novo Desenvolvimentismo é baseada no equilíbrio dos chamados cinco preços macroeconômicos – taxa de lucro, taxa de juros, taxa de câmbio, taxa de inflação e taxa de salários. “O pilar essencial é a taxa de câmbio, que tem uma relação direta com a conta corrente do país”, explica o professor. Ele acrescenta que a teoria prega, além da responsabilidade fiscal, a responsabilidade cambial para evitar o déficit em conta corrente.
“Os economistas, em geral, defendem o déficit em conta corrente, por o entenderem como uma poupança externa. Esta teoria mostra que esse argumento não é verdadeiro, mas um tipo de populismo cambial”, diz o professor. Para Bresser-Pereira, a taxa de câmbio, ao ficar apreciada por longo prazo, como acontece na prática no Brasil, desestimula o investimento, trava o crescimento e favorece a desindustrialização.
“No Brasil, a taxa de câmbio ficou apreciada de 2007 a 2014. Nesse período, a preços de hoje, estava a R$ 2,60 por dólar, quando deveria ficar em R$ 3,80 para ser competitiva e interessante para a indústria. Isso explica porque as empresas ficaram muito endividadas, outras quebraram e houve essa crise que estamos vivendo. É uma crise financeira das empresas causada pela irresponsabilidade cambial”, diagnostica o professor.
Na visão do pesquisador, como o mercado é incapaz de manter esse equilíbrio, é preciso uma política macroeconômica desenvolvimentista, mas nada parecida com a dos anos 50. “Defendo que o Estado tenha uma intervenção muito menor na economia. Ele deve intervir no setor não competitivo da economia – infraestrutura, serviços públicos e algumas indústrias de base – e adotar uma política macroeconômica muito ativa, especialmente em relação à taxa de câmbio e ao déficit em conta corrente. No restante, é deixar por conta do mercado e da livre competição. Em resumo, é isso que prega a teoria do Novo Desenvolvimentismo”, conclui o professor.
Bresser-Pereira é um dos professores com maior tempo de atuação na FGV, tendo ingressado na Fundação em 1959, como professor assistente. Até 1999, conciliou as aulas e a pesquisa com outras atividades. Teve destaque também no setor privado e na política, mais notoriamente como ministro em diferentes pastas. Desde 1999, vem se dedicando exclusivamente à academia. “Esse período em que estou voltado em tempo integral para o ensino e a pesquisa tem sido muito produtivo. E fiquei muito feliz com esse reconhecimento”, afirma Bresser-Pereira.