O Dia Internacional das Mulheres na Matemática é celebrado, a partir deste ano, no dia 12 de maio, data que foi instituída no ano passado, durante o Encontro Mundial de Mulheres em Matemática (WM)², para celebrar o nascimento da iraniana Maryam Mirzakhani, única vencedora mulher da Medalha Fields. Há iniciativas de comemoração em todo mundo. No Brasil, a Escola de Matemática Aplicada (FGV EMAp) reuniu cerca de 40 participantes, representantes de várias escolas da FGV e dos departamentos de matemática da UFF, UFRJ, UERJ e dos institutos LNCC e IMPA, para celebrar a data.
Na abertura, as professoras Maria Soledad Aronna (FGV EMAp) e Alessia Mandini (PUC-RJ) apresentaram a biografia de algumas mulheres matemáticas importantes na história: desde Hipátia de Alexandria que foi a primeira mulher sobre a qual se tem registro de ter sido matemática, até Karen Uhlenbeck, atual Professora Emérita na Universidade do Texas em Austin, nos Estados Unidos. A professora Uhlenbeck foi a segunda mulher na história a ministrar uma palestra plenária no International Congress of Mathematicians em 1990, um século depois da primeira edição do evento, e a primeira a ganhar o Prêmio Abel, um dos mais prestigiados reconhecimentos na área da matemática.
Christina Brech da USP, na palestra "Mulheres na Matemática - Desafios e Conquistas no Brasil", apresentou dados sobre a situação da mulher na matemática no Brasil. Os dados mostraram que em torno ao 40% do corpo docente da Graduação em Matemática no Brasil são mulheres, o percentual desce a 22% no corpo docente da Pós-Graduação, diminui até 13% das Bolsas de Produtividade em Pesquisa do CNPq, e atinge o pequeno valor de 5% dos membros de Ciências Matemáticas da Academia Brasileira de Ciências. Mais dados podem ser achados no artigo “O dilema dos tostines”, escrito pela professora Brech, e publicado na Revista de Matemática Universitária da Sociedade Brasileira de Matemática.
Já as professoras Fátima C. Smith Erthal (UFRJ) e Karin da Costa Calaza (UFF) falaram sobre "Mulheres nas exatas: o que a Neurociência tem a nos dizer?". Nesta apresentação, elas mostraram como em muitas situações as mulheres são desalentadas a seguirem carreiras ligadas às Ciências Exatas. Apesar de as mulheres já perfazerem 60% dos formandos nas universidades do Brasil, cursos da área de ciências exatas têm uma representação de no máximo 30%. Elas enunciaram possíveis razões que explicam essa distribuição enviesada, com base em dados da área da neurociência sobre o funcionamento do cérebro. Falaram sobre o processamento cerebral, especialmente como ocorre de maneira majoritariamente inconsciente (implícita), e como os estereótipos sociais podem influenciar nosso comportamento, avaliações e decisões.
O evento encerrou com a mesa redonda “A carreira da mulher na Matemática: obstáculos e possíveis soluções”, moderada pelas professoras Maria Amélia Salazar (UFF), Luciane Quoos (UFRJ), Maria Soledad Aronna (FGV EMAp), Alessia Mandini (PUC-Rio). Nesta mesa foram mencionadas diferentes situações onde alunas e professoras são discriminadas nos departamentos de matemática: nas aulas, mas também nos concursos, nas reuniões e nos comitês de avaliação. Foram discutidas possíveis soluções para estes problemas, entre as quais se propôs a criação de comissões de mulheres dentro de cada instituição para ouvir as inquietudes de alunas e professoras, e tentar afrontá-las em conjunto.