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domingo, 15 de abril de 2012

Exposição: Conhecimento: Custódia e Acesso



A mostra é uma realização do SIBiUSP, dirigido pela Profa. Dra. Sueli Mara S.P.Ferreira. A curadoria da exposição é do Prof. Marcos Galindo, com desenvolvimento expográfico da Rainmaker projetos e produções.

A visita à exposição, aberta ao público em geral, é gratuita e destinada, sobretudo, a alunos do ensino médio, universitários e pós-graduandos, pesquisadores, professores e profissionais interessados em produção do conhecimento, recursos de acesso e recuperação de informação, acervos e bibliotecas memoriais.

A exposição Conhecimento: custódia e acesso aborda a problemática do resgate, preservação e acesso ao conhecimento para assinalar a tensão envolvida na relação entre esses elementos e as mudanças excepcionais que as novas tecnologias de informação e comunicação vêm produzindo na sociedade contemporânea, no sentido da democratização crescente do acesso ao legado de conhecimento da humanidade que sempre se abrigou nas bibliotecas ao longo da história.

A mostra busca assim discutir o papel das bibliotecas na construção do fenômeno social do conhecimento e motivar a reflexão sobre os instrumentos técnicos e práticas sociais que permitiram tornar a informação acessível e fortalecê-la como matéria-prima básica para a construção de novas formas de conhecimento. Parte-se da ideia de que as bibliotecas devem ser entendidas como instrumentos de organização e gestão do conhecimento, comportando elementos técnicos e lógicos (tecno+lógicos) que incidem sobre as relações sociais e concorrem para que o conhecimento e as instituições de sua guarda possam cumprir uma função social em uma época determinada.

Contextualizando esse processo no campo histórico brasileiro, a reflexão toma como pano de fundo São Paulo e sua Universidade. Deste modo, o olhar curatorial desviou-se do objeto biblioteca para incluí-lo numa perspectiva mais aberta e universal, que permita ver a cidade, o país, o motor da indústria, o papel da tecnologia e de seus operadores sociais, em suma, a pluralidade de atores que emprestaram sua força de trabalho para construir São Paulo e sua Universidade. Contudo, a matéria prima destes construtores não é a pedra e a cal, mas a inteligência e a arte do conhecimento. Nesse contexto, a USP emerge como uma usina facilitadora do acesso ao conhecimento e gestora da memória social, tarefa que realiza por meio de suas bibliotecas.

Para contar esta história, foi preciso levar em conta os instrumentos técnicos a que se devem a produção, preservação e difusão do conhecimento, e entender como se desenvolveram aqueles instrumentos da inteligência humana capazes de artificializar o milagre do conhecimento por meio das próteses da memória que são as ferramentas tecnológicas de seu registro e conservação, desde as primeiras expressões da escrita, surgida na baixa Antiguidade na Mesopotâmia, até os avanços permitidos pelos novos instrumentos da inteligência, as tecnologias de informação e comunicação que moldam na argila de um tablet as interfaces digitais entre o conhecimento e a vida social.

O percurso da exposição

“Conhecimento: custódia e acesso” está dividida em diferentes segmentos que tratarão respectivamente:

- do patrimônio do conhecimento humano preservado nas bibliotecas sob os aspectos tecnológicos e sociais que assumem em diferentes momentos da história enquanto instrumentos de organização e gestão do conhecimento, tratando-se, sobretudo, de uma perspectiva eminentemente custodial, ligada à idéia de sacralidade em relação à sua guarda e acesso;
- da formação de bibliotecas e de universidades, tendo a Universidade de São Paulo e seu Sistema de Bibliotecas como caso exemplar na ilustração desses processos;

- das tecnologias de informação e comunicação (TIC) e seu impacto sobre o acesso ao conhecimento e mesmo sobre sua produção, resultando em movimentos de democratização de natureza profana, que não se confinam no universo do conhecimento e do pensamento, mas se expandem em novas formas de ação e transformação social, dentro da nova cultura de uma sociedade da informação em que hoje vivemos.

A expografia da mostra foi dividida em três módulos:

Módulo 1 – Este primeiro módulo foi desenhado para permitir uma transição, preparando o visitante para a exposição ao retirá-lo gradativamente da realidade presente. Ele encontrará um panorama sobre as formas de entendimento do conhecimento, principiando pelos mitos criacionistas ocidentais. Neste ambiente, o conhecimento guarda uma marca de origem que o coloca na condição de “pecado original” e por mandato divino passa a ser de responsabilidade religiosa. Essa perspectiva dá ao conhecimento uma condição de sacralidade, em contraposição ao mundo laico ou profano, criando um paradigma que custódia que só paulatinamente um processo de laicização, separando Igreja e Estado, poder clerical e vida civil, irá desafiar. Criadas no interior do universo religioso, nem mesmo as universidades medievais desarticulam essa associação do conhecimento ao sagrado e só muito lentamente elas se tornarão instrumentos de laicização, contribuindo até mesmo para transferir ao universo de conhecimento da ciência essa aura de sacralidade.
Em seguida o módulo retraça a evolução dos instrumentos técnicos de registro e preservação do conhecimento, inventariando desde as formas primitivas de escrita e a invenção da prensa de tipos móveis até as modernas tecnologias de informação e comunicação, mostrando seu impacto sobre a ordenação da vida social.

Modulo 2 – O segundo módulo faz uma retrospectiva sobre o projeto de construção da modernidade paulista, desde seus símbolos de progresso e civilização a partir do ciclo histórico da economia cafeeira até a década de 1920, de onde emergiu o debate sobre a criação de uma universidade paulista. Este prossegue sob o novo regime instaurado com a revolução de 1930 e os desdobramentos do movimento constitucionalista de 1932, até concretizar-se em 1934, sob a interventoria de Armando Salles de Oliveira, no decreto de criação da USP. A universidade é vista, portanto, da perspectiva de seus operadores intelectuais e da memória dos eventos históricos que tiveram impacto na construção do Ministério da Educação e Saúde e na criação da Universidade de São Paulo.

Neste módulo têm especial destaque figuras ligadas ao movimento modernista e à Semana de Arte Moderna de 1922, entre os quais a figura do bibliotecário Rubens Borba de Morais que, com Paulo Duarte e Sérgio Milliet, sob a coordenação de Mário de Andrade, participou da criação, em 1935, do Departamento de Cultura e Recreação da Prefeitura de São Paulo. Recorda-se aí a atuação de Borba de Morais na modernização da Biblioteca Pública Municipal, a organização da rede de bibliotecas da cidade e sua ação em 1936, juntamente com Adelpha de Figueiredo, no Mackenzie College, organizando o curso de Biblioteconomia do Departamento de Cultura. Eles desenvolveram assim idéias que influenciaram a formação e a profissionalização dos bibliotecários no Brasil e moldaram os serviços de documentação e acervos de São Paulo.

Também será lembrado o papel de ambos na criação, em 1938, da Associação Paulista de Bibliotecários, evidenciando o papel do ativismo associativista de classe na modernização dos processos de recuperação e pesquisa bibliográfica, automação e inovação tecnológica. A criação, no mesmo ano, do curso de Biblioteconomia da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo coloca essa iniciativa de formação profissional, juntamente com o curso pioneiro do Departamento de Cultura da Prefeitura, como precursores da criação do curso de Biblioteconomia e da pós-graduação em Ciência da Informação na USP e da organização do seu Sistema Integrado de Bibliotecas.

Módulo 3 - O terceiro módulo se apoiará na experiência e desenvolvimento das tecnologias da informação e comunicação para questionar o visitante sobre como será a biblioteca do futuro. Mais do que convocar o visitante a um exercício de futurologia, pretende-se mostrar aqui as interfaces dessa biblioteca a ser criada no futuro com a biblioteca que já existe no presente, porque a biblioteca do futuro será sempre a biblioteca do imaginário social sobre as tecnologias disponíveis em uma dada época, desde os visionários do século XVI até nossos dias. Aqui, haverá a instalação que um equipamento de acesso que permitirá ao visitante familiarizar-se com a organização do SIBiUSP, inteirar-se de seus serviços e percorrer seus acervos.

Em cada módulo, apresentado em painéis impressos de plotagens, a exposição será ilustrada com imagens de livros raros do SIBiUSP e contará também com duas instalações multimídia que desenvolvem os temas tratados. Uma vitrine apresentará os próprios livros raros das bibliotecas que integram o SIBiUSP. Do terceiro módulo constará ainda um vídeo com depoimentos de professores, bibliotecários e outras renomadas figuras públicas pertencentes ou saídas da USP, contando sua experiência com as bibliotecas universitárias. Estes depoimentos serão apresentados em telas verticais de LCD que complementam os temas dos painéis impressos.

Em seu conjunto, os diversos módulos da exposição pretendem provocar o visitante a uma reflexão sobre um velho paradoxo apontado por Platão em uma conhecida passagem do Fedro, ao contrapor escrita e memória na preservação do conhecimento, vendo na escrita não um auxiliar da memória, mas um fator de sua perda. A seu modo, Platão tinha razão, pois a cada avanço tecnológico, o homem transfere um pouco de sua capacidade de armazenamento biológico para suas próteses de memória. O que Platão não poderia antever era que essa transferência viabilizasse também a ampliação da capacidade reflexiva do homem, tornando-a uma atividade colaborativa, como ocorre hoje sob a nova dinâmica do saber, impulsionada pela tecnologia e a natureza laicizante de acesso ao conhecimento a que ela dá lugar. Resta saber em que condições a informação que essas ferramentas disponibilizam se tornam formas e conhecimento real, e seu impacto sobre as bibliotecas de hoje e do futuro.

Para Sueli Mara S.P. Ferreira, o objetivo do SIBiUSP foi “realizar uma exposição que resgate a memória da informação científica e tecnológica, procurando recuperar uma perspectiva crítica da ação do sistema de informações da Universidade de São Paulo, destacando a função social das bibliotecas, com vista ao planejamento do futuro e à integração do agente deste segmento no novo ciclo de desenvolvimento que se faz anunciar.”

Serviço

Exposição Conhecimento: custódia e acesso
De 13 de Março a 29 de Abril de 2012
De terça a domingo, das 10h às 17h30(entrada franca pelo portão 3)