Conforme demonstrado por uma nova geração de historiadores, sociólogos e filósofos da ciência, a religião bíblica não foi o inimigo da ciência mas antes a matriz intelectual que a possibilitou, em primeiro lugar. Sem os insights fundamentais que o Cristianismo encontrou celebrados na Bíblia e disseminados através da Europa, a ciência jamais teria se desenvolvido… As evidências são incontestáveis: foi a teologia racional tanto da Idade Média Católica como da Reforma Protestante – inspirada pelas verdades implícitas e explícitas reveladas na Bíblia Judaica – que abriram caminho e conduziram às descobertas da ciência moderna.[1]
A crença na racionalidade de Deus não apenas levou ao método indutivo como também à conclusão de que o universo é governado racionalmente por leis passíveis de serem descobertas. Este pressuposto é de importância crucial para a pesquisa científica porque, num mundo pagão ou politeísta, que concebia seus deuses muitas vezes engajados em comportamentos irracionais e emocionalmente arbitrários, atuando num mundo não-racional, qualquer investigação sistemática de tal mundo pareceria fútil e sem sentido. Somente num arcabouço teórico cristão, que postula “a existência de um Deus único, o Criador e regente do universo, [que] funciona de modo ordenado e padronizadamente previsível”, é possível que a ciência exista e opere.[2]
Estas duas citações descrevem sucintamente uma nova ilusão esgueirando-se pelos saguões da academia conservadora: a crença em que o Cristianismo não somente causou a ciência moderna, como também foi, inclusive, necessário para seu surgimento. No estágio em que a fábula se encontra, não somente o Cristianismo nunca esteve em conflito com a ciência e jamais obstruiu-lhe de maneira alguma seu livre curso, como na verdade foi o salvador da ciência, a única visão de mundo capaz de possibilitar sua existência. E esta é a razão pela qual a Revolução Científica eclodiu somente em um lugar: numa sociedade completamente cristã.
Isto é não somente falso em todos os detalhes concebíveis como tão escandalosamente falso, que qualquer um, mesmo um estudioso das mais modestas competências e responsabilidades acadêmicas, deveria estar ciente de sua falsidade. Donde se depreende que os proponentes desta visão, todos os quais reivindicam o título de pesquisadores acadêmicos, devem ou ser constragedoramente incompetentes, ou patologicamente desonestos, ou iludidos além de qualquer esperança de recuperação. Que tantos acadêmicos sejam a tal ponto incompetentes parece improvável. Que eles estejam todos mentindo, mais ainda. Naturalmente, todos já vimos a tática política conservadora de repetir uma mentira tantas vezes, em tantos lugares, com tamanha convicção, e a partir de fontes tão variadas, que todo mundo começa a dar-lhe crédito. Esta pode ser uma destas mentiras. Ou estes intelectuais podem realmente ser tão tresloucadamente incompetentes. Mas estou disposto a conceder-lhes o benefício da dúvida. A ilusão parece-me uma explicação mais provável para o fato tantas pessoas estarem a repetir uma alegação tão demonstravelmente falsa sem jamais serem corrigidas por seus pares.
Uma objeção óbvia a esta alegação delirante é que ela viola um dos mais elementares princípios da causalidade: quando uma causa está presente, seus efeitos são vistos. O Cristianismo dominou completamente todo o mundo ocidental do quinto ao décimo quinto séculos da Era Comum, e ainda assim no decorrer destes mil anos não houve Revolução Científica alguma. Uma causa que fracassa em produzir seus efeitos previsíveis apesar de estar atuando continuamente por mil anos é usualmente considerada refutada, não confirmada. Desculpas esfarrapadas serão apresentadas, alegações de impedimentos, mas nenhuma Revolução Científica tampouco ocorreu na metade oriental do mundo cristão, que não possui nenhuma das escusas do Ocidente. O Oriente nunca foi invadido por bárbaros e permaneceu próspero e desenvolvido por cinco séculos. De qualquer forma, tais pretextos são geralmente negados – a nova moda é insistir que mesmo a Idade Média Ocidental foi caracterizada por um espírito de inovação e um vigor econômico e intelectual inigualáveis. Mas mesmo se você rejeitar isso e aceitar que o Ocidente foi refreado, por que a Revolução Científica nunca aconteceu no Império Bizantino, tão cristão quanto, e em todos os demais aspectos mais bem sucedido? Aqueles confrontados por este questionamento geralmente reagem denegrindo os bizantinos como sendo de alguma maneira o “tipo errado” de cristãos[3]. Mas uma vez que você enverede por este caminho, a noção de que o Cristianismo é a solução cai fora do quadro. Agora você precisa de um tipo especial de Cristianismo, que evidentemente não é uma consequencia inevitável do Evangelho Cristão original. De qualquer maneira, o fato permanece, seja no Oriente ou no Ocidente, tão logo os cristãos dominaram a cultura, nenhuma Revolução Científica sucedeu. Foi necessário esperar mais um milênio.
Portanto, logo de saída, alguma coisa está errada. Talvez você seja capaz de desembaraçar-se desta dificuldade. Não obstante, algumas afirmações associadas a esta nova ilusão são de uma falsidade gritante. Dinesh D’Souza , num livro cuja edição brasileira recebeu o irônico título de “A Verdade Sobre o Cristianismo“, declara com uma convicção inabalável que, de todas as religiões antigas, “somente” o Cristianismo “foi, desde seus primórdios, baseado na razão”, e consequentemente “não existem teólogos” na história de qualquer outra religião[4]. Embora não haja dúvidas de que mesmo um estudante aplicado do ensino médio saiba que o gregos pagãos inventaram a razão, no sentido exato em que D’Souza emprega o termo, desenvolvendo as ciências formais da lógica, filosofia, matemática e retórica. E não obstante qualquer leitor atento da Bíblia saiba que o Cristianismo foi desde seus primórdios baseado nas escrituras, na inspiração e na revelação, não na “razão”[5]. Se quiser saber como é uma religião realmente baseada na razão, basta olhar as teologias formais dos filósofos greco-romanos. Sim, os pagãos inventaram, também, a teologia[6].
Mas os fatos não são os únicos obstáculos obstruindo a disseminação do boato de que a ciência precisou do Cristianismo. O uso de uma lógica franciscana é outro.
A maioria dos argumentos apresentados para sustentar esta conclusão assentam-se numa série de falácias comuns. Que nenhum esforço seja feito para detecta-las ou evita-las é outro índício de ilusão.
Toda a noção começa com uma mera falácia de correlação: apenas porque a ciência moderna surgiu somente numa cultura cristã ocidental, não se segue que uma cultura cristã ocidental foi sua causa (ou, ainda mais absurdo, que tal cultura tenha sido a única capaz de de produzi-la). Isto é tão falacioso quanto assumir que porque os inventores da geometria formal eram politeístas, o politeísmo foi a causa da invenção da geometria formal, ou, ainda mais absurdo, que somente os politeístas poderiam te-la inventado. Nenhuma destas afirmações possui a menor plausibilidade. O fato de a geometria formal ter sido inventada numa época e local em que a religião dominante era politeísta não passa de um mero acidente histórico. Na maioria dos aspectos o mesmo vale para o Cristianismo e a Revolução Científica.
Nunca levado em consideração, por exemplo, é o fato de no início do segundo milênio qualquer motivo, para ser respeitável em tal matriz cultural demasiado estreita e paranóica, precisava ser articulado em termos amigáveis ao Cristianismo — na verdade, se possível, como se satisfizesse o Cristianismo. Pois qualquer coisa aparentando mesmo remotamente ser anticristã era condenada e seus defensores punidos — socialmente certamente, fisicamente às vezes. Esta não era uma época em que você poderia desfrutar da liberdade de ser um herege ou um ateu, muito menos um pagão ou um apóstata, sem encarar repercussões que poderiam encerrar sua carreira, sua liberdade ou até mesmo sua vida. Tal atmosfera compeliu todos a encontrar maneiras criativas de vender quaisquer novas idéias como perfeitamente cristãs, até mesmo bíblicas, independentemente de seu real motivo ou inspiração. De maneira que a descoberta de argumentos bíblicos ou cristãos para a adoção de novas idéias neste período não confirma que o Cristianismo ou a Bíblia foram a causa destas idéias, mas antes apenas revela a estratégia de marketing exigida para vende-los naquela época.
Outra falácia é a fusão de causas necessárias, suficientes e contribuintes. É possível montar um bom caso para defender que o raciocínio científico foi na verdade um subproduto da teologia pagã primitiva[7]. Mas mesmo assim, ninguém concluiria a partir disso que o paganismo foi necessário. Eu seria capaz de apontar diversos aspectos da religião pagã que contribuíram para o surgimento da ciência, (sua confiança na razão e nas evidências em detrimento da autoridade institucional e escritural, seu interesse devotado na natureza e nas estrelas), mas disso não segue que somente o paganismo possua estes atributos. Sequer pode-se afirmar com segurança que eles sejam todos necessários. O paganismo greco-romano poderia ter sido uma causa suficiente ou apenas contribuinte da ciência antiga, mas dificilmente foi uma causa necessária; e ele pode ter provido valores que ajudaram a ciência a se desenvolver, mas dos quais a ciência poderia ter prescindido, ou que outras visões de mundo poderiam igualmente ter encorajado. Assim como, também, o Cristianismo.
Finalmente, com demasiada frequência os promotores desta nova ilusão repetidamente confundem razão (entendida como o uso da lógica para se alcançar a consistência) com raciocínio científico (a testagem de previsões a partir de suas hipóteses contra as evidências, utilizando um método que investiga e controla agressivamente erros empíricos e falácias, e a coleta e o registro de fatos reais sobre o mundo pela observação e confirmação deles). Ou eles confundem “ciência” entendida como métodos, pesquisas e progresso científicos, com “ciência” no sentido de transmissão e utilização da ciência anterior na prática profissional (como fazem os médicos, astrônomos e engenheiros) sem nenhum esforço significativo para aprimora-la (além de revisões de escritório ou a diminuição da margem de erro das mensurações). Muito frequentemente evidências de um serão aliciadas como evidências da outra. Mas isto é uma falácia de equívoco. A “ciência” pode persistir sem a ciência, e de fato indiscutivelmente sobreviveu no Cristianismo medieval, assim como a razão poderia ser louvada e buscada ao passo que o raciocínio científico dificilmente seria visto, como também foi nitidamente o caso ao longo da maior parte da Idade Média.
Fantasias Históricas
Um argumento bem construído poderia talvez evitar estas falácias. Mas neste caso você tem que encarar os fatos de frente. E ninguém o faz. A noção de que a ciência precisou do Cristianismo possui diversos autores, mas sua formulação mais plenamente desvairada parece ter se originado de um físico católico devoto, o padre Stanley “A atitude da Igreja para com a Ciência foi muito benéfica” Jaki[8]. Ela então se infiltrou na mentalidade conservadora cristã, e é muitas vezes representada como o novo consenso na história da ciência (embora não o seja)[9]. Rodney Stark é provavelmente seu melhor representante [Nota do Tradutor: Outro de seus representantes mais conhecido do público brasileiro é Thomas Woods Jr., autor da obra-prima da desinformação e distorção histórica Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental). Ele sumariza os argumentos de Jaki mais sucinta e inteligivelmente do que o próprio Jaki, e ao contrário da maioria, Stark pelo menos tenta citar suas fontes. De modo que examinarei sua versão do argumento[10]. Stark já foi criticado alhures[11]. Mas não ainda por um especialista em ciência antiga e Cristianismo.
Fantasia Histórica Número 1: “Nenhuma Ciência Real Existiu Na Antiguidade“
Rodney Stark é um excelente sociológo mas um historiador fajuto. Ele não possui nenhum treinamento formal no exercício da profissão de historiador, ou em história antiga em particular. Na verdade, nenhum dos defensores desta teoria possui. Mas é desnecessário citar a falta de credenciais. A incompetência de Stark é exposta de maneira decisiva numa única sentença: “O conhecimento grego estagnou em virtude de sua própria lógica interna. Após Platão e Aristóteles, pouquíssimo aconteceu além de alguns progressos da geometria”[12]. Que a Universidade de Princeton tenha publicado um livro contendo esta sentença permanece uma das coisas mais aterradoras com que me deparei em minha carreira (e pode não ser uma mera coincidência que Stark tenha publicado seu livro seguinte pela Random House).
A verdade é que os gregos e os romanos alcançaram progressos contínuos e formidáveis na ciência e na matemática após Aristóteles. A geração de Aristóteles marcou apenas o começo da história da ciência antiga – quase todas as descobertas espetaculares dos antigos ocorreram após esta geração. E eles descobriram um bocado[13]. De modo que numa única sentença Stark passou uma borracha em toda a história da ciência antiga. Contudo, seu argumento por inteiro está assentado nesta sentença. Tivesse ele feito o que qualquer pesquisador acadêmico é obrigado a fazer, e averiguado de fato a historiografia corrente sobre a ciência antiga, ele saberia que esta premissa chave, e consequentemente o argumento assentado por inteiro sobre ela, é de uma estupidez atordoante. Já no tempo de Aristóteles, em meados do 4º século AEC, existiram vários cientistas importantes, de Hipócrates e Eudózio a Calístrato, Arquitas e Aristoxenos, os quais Stark demonstra ignorar por completo. Mas depois disso, até o fim do segundo século da Era Comum, sou capaz de verificar os nomes de mais de cem cientistas que publicaram suas obras, cujas obras em sua maioria não foram preservadas pelos cristãos medievais[14]. Stark não exibe o menor conhecimento de qualquer deles, ou – nem mesmo daqueles cujas obras foram preservadas.
Eis uma pequena amostra…
Aristóteles realizou inúmeras experiências de dissecação e vivissecção na anatomia e fisiologia animal e produziu a maior coleção científica de obras zoológicas até então. Imediatamente após isso, seu sucessor Teofrasto ampliou seu trabalho à botânica e à fisiologia das plantas, e também produziu as primeiras obras científicas em pirologia, mineralogia e outras áreas. Seu sucessor, Estratão de Lâmpsaco, extendeu seu método experimental à engenharia e à física, período em que diversas das teorias físicas de Aristóteles foram modificadas ou abandonadas. No terceiro século AEC um instituto de pesquisa foi instaurado em Alexandria, no Egito, onde Tecíbio e Filo completaram os primeiros trabalhos científicos de que se tem notícia sobre pneumática (o estudo do comportamento do ar e da água); Erastótenes inventou a ciência da cartografia e foi um dos primeiros cientistas na história a medir o diâmetro da Terra (com uma margem de erro de apenas 15 por cento!) e a analisar o efeito da lua sobre as marés; e Herófilo e seu pupilo Erasístrato deram origem à neurofisiologia, estabelecendo a partir de experimentos detalhados que a mente é uma função do cérebro e que funções mentais específicas são controloadas por regiões específicas do cérebro, e eles distinguiram os nervos motores dos nervos sensoriais e os mapearam ao longo do corpo. De um modo geral, seus estudos do corpo humano e de seus ossos, músculos e órgãos, foram tão minuciosos e abraangentes que até hoje fazemos uso de sua terminologia anatômica.
Na Sicília, seu colega Arquimedes estava ocupadíssimo aprimorando a mecânica e a hidrostática, e descobrindo, descrevendo ou explicando as primeiras leis matemáticas da física. Não muito depois disso, Aristarco começou a medir as distâncias entre a lua, o sol e os planetas (com valores gradativamente refinados nos séculos eguintes), e propôs a primeira teoria heliocêntrica. Em Rodes um século depois, Hiparco descobriu e mediu a precessão celestial (a rotação do Zodíaco ao longo de um período de 25800 anos), observou a primeira supernova, estabeleceu os primeiros mapas celestes detalhados, fez numerosos avanços na teoria planetária, e desenvolveu o primeiro sistema científico de previsão de eclipses solares e lunares. Seleuco da Babilônia descobriu o efeito do sol sobre as marés, não apenas o da lua, desenvolvendo a primeira teoria matemática lunissolar das marés. Então, nos primeiros anos do Império Romano, as realizações da ciência antiga atingiram seu clímax, produzindo obras não superadas até a Revolução Científica: Dioscórides na botânica, mineralogia e farmacologia; Hero na mecânica, pneumática e robótica teatral; Ptolomeu na astronomia, cartografia, ótica e harmonia, e Galeno na anatomia, fisiologia e medicina. Para nomear apenas alguns. Muitos mais houveram cujas obras estão agora perdidas, avançando áreas tão diversas como a apiologia e a oceanografia, passando pela hidrostática e a vulcanologia.
Nenhum deles esteve enclausurado por qualquer “matriz teórica fossilizada inalterável” recebida de Aristóteles[15]; ao contrário, todos os pressupostos de sua física foram livremente debatidos e revisados. Os heliocentristas debateram com os geocentristas estáticos e dinâmicos; teorias da inércia, da pressão e da gravitação universal competiram com as teorias aristotélicas dos lugares naturais, teorias dos raios óticos competiram com teorias corpusculares da luz, e assim por diante[16]. Por volta do período romano, a conclusão de Aristóteles de que os cometas eram um fenômeno atmosférico perdeu terreno para a concepção correta de que eles eram corpos planetares descrevendo órbitas exageradamente excêntricas; Hiparco desenvolveu uma teoria cada vez mais verossímil da balística e refutou a crença de Aristóteles de que os céus nunca mudam; Herófilo refutou a teoria aristotélica de que a alma residia no coração, com experimentos acurados provando que todos os pensamentos e sensações aconteciam no cérebro – uma conclusão reforçada por Galeno com um estudo detalhado do sistema vocal, demonstrando que o cérebro controla a fala humana; Hero refutou experimentalmente a tese de Aristóteles de que o vácuo era impossível, e provou que o vento era ar em movimento, que o ar aquecido se expande e ascende, e que o ar frio se contrai e desce; e Ptolomeu abandonou a suposição de Aristóteles de que as órbitas planetárias precisavam ser concentricamente circulares e suas velocidades constantes. Até mesmo a teoria de Aristóteles de uma divisão fundamental entre os domínios celestial e sublunar foi largamente desafiada e rejeitada diversas vezes pelos naturalistas subsequentes, junto com quase todos os outros aspectos duvidosos de sua física original.
Os mais importantes progressos na lógica também ocorreram após Aristóteles[17], assim como nos conceitos matemáticos e físicos, a tal ponto que quase tudo cuja autoria é creditada aos intelectuais da Idade Média na verdade já havia sido concebido na Antiguidade. Por exemplo, o que conhecemos atualmente por Navalha de Ockham já era uma heurística metodológica padronizada[18]. Mesmo os “alguns progressos na geometria” esnobados por Stark incluem cônicas avançadas, trigonometria plana e esférica, e os rudimentos do cálculo. Eles ainda foram além da geometria, desenvolvendo a análise combinatória e um forma primitiva de álgebra multivariada. Todavia, os cristãos medievais mostraram tamanho desinteresse nestas realizações matemáticas que alguns de seus registros foram escassamente preservados, enquanto outros foram literalmente apagados dos livros para ceder espaço a hinos de louvor a Deus[19]. Na verdade, sob o domínio cristão quase todas as realizações científicas dos antigos foram esquecidas no Ocidente e ignoradas no Oriente, ou sobreviveram apenas em caricaturas simplistas. Os poucos livros que foram copiados o suficiente para sobreviver o foram, sob qualquer ponto de vista, rara ou escassamente copiados, muitas vezes não compreendidos, e nunca aprimorados substancialmente por aproximadamente mil anos.
Como resultado, por vários séculos os cristãos sequer souberam que cientistas posteriores a Aristóteles expandiram significativamente o método experimental e começaram a confirmar as leis matemáticas da física, que foram preditivamente bem sucedidas, tecnologicamente úteis e completamente mecânicas. As primeiras leis matemáticas corretas provavelmente antecederam Arquimedes, mas seus tratados sobre a estática e a hidrostática são os registros mais antigos que possuímos delas. A esta altura, os cientistas sabiam que as alavancas obedeciam à lei D1W1=D2W2 (expressa geometricamente), e que os objetos flutuam não porque (como Aristóteles supusera) possuíam uma “natureza flutuativa”, eles flutuam porque suas densidades são menores do que a da água circundante, de modo que a água mais pesada empurra para cima o objeto flutuante, com uma força cujo valor resulta exatamente da diferença matemática entre suas densidades, e que mesmo os objetos que afundam tornam-se mais leves, por uma diferença exatamente igual ao peso da água deslocada pelo corpo – que, incidentalmente, refutou a noção de Aristóteles de que a leveza de um objeto era imutavelmente inata. No período romano, as leis corretas da reflexão também foram conhecidas, assim como sua explicação teórica correta (Hero provou que eles resultavam de um princípio de menor esforço), e as leis da refração foram exploradas e aperfeiçoadas com experimentos detalhados. Ptolomeu mediu experimentalmente a diferença entre os índices de refração de materiais como vidro, água e ar, descobriu que o ângulo de refração aumenta com o ângulo de incidência numa relação de proporção direta, e tentou descobrir uma lei matemática da refração. Medições precisas desempenharam um papel até mesmo na fisiologia, permitindo a Galeno provar a teoria correta da função renal (e explicar o sistema renal por inteiro) com uma série de experimentos controlados[20].
Hutchinson define a ciência moderna como uma “ênfase na observação e experimentação diretas, medições precisas, e a formulação de leis da natureza”, e vimos que os pagãos antigos possuíam todos estes elementos[21]. Stark define a ciência moderna como “um método empregado em esforços ordenados para formular explicações da natureza, sempre sujeitas a modificações e correções através de observações sistemáticas” tais que “é possível deduzir a partir das explicações resultantes algumas previsões e proibições bem definidas sobre o que será observado”[22]. Isso, também, descreve acuradamente a ciência antiga. Os cientistas da antiguidade desenvolveram e aprimoraram continuamente seus métodos – até o fim: Galeno, Hero e Ptolomeu todos tiveram muito a dizer sobre métodos e seus aperfeiçoamentos. Seus esforços também foram ordenados. O Almagesto de Ptolomeu mostra que os astrônomos compartilharam observações e criaram registros para seus futuros colegas, os livros de Galeno mostram repetidamente médicos cooperando em pesquisas anatômicas e cientistas de todas as áreas debatendo, conferenciando e aconselhando-se mutuamente, e existiram associações científicas formais, incluindo o Museu de Alexandria. E todos eles almejaram produzir explicações da natureza, muitas vezes corrigindo suas teorias com observações sistemáticas e experimentos controlados, e deduzindo a partir de suas teorias previsões exatas do que iria ou não acontecer. A teoria planetária de Ptolomeu era capaz de prever a posição de Marte com uma precisão assombrosa com uma antecipação de 20 anos, e sua lei da refração era quase tão precisa quanto. A teoria de Galeno dos sistemas renal e vocal previu corretamente os efeitos de doenças e lesões específicas, assim como o comportamento normal dos próprios órgãos. Hero foi capaz de prever os benefícios mecânicos exatos de diversas máquinas e o comportamento geral do ar, água e do vapor na presença ou ausência de pressão ou calor. Menelau foi capaz de prever as densidades específicas de diferentes fluidos e sólidos e seus comportamentos em diferentes meios de suspensão. Eu poderia continuar por várias páginas. Todos foram empíricos, todos associaram teoria e prática, e todos testaram pelo menos algumas de suas teorias contra os dados observados. Não obstante, Stark ainda sustenta, com plena convicção, que “enfim, todas as suas realizações foram filosofias não-empíricas, até mesmo anti-empíricas, especulativas, coleções de fatos não-teóricos, e tecnologias e invenções esporádicas – jamais… ciência verdadeira”[23]. Como espero ter deixado perfeitamente claro a esta altura, esta sentença não contém o menor vestígio algum de nada remotamente verdadeiro.
Fantasia Histórica Número II: “Os Pagãos Possuíam Um Bloqueio Mental“
Sendo o primeiro fato de Stark tão constrangedoramente falso, surpreende que ele não tenha sido banido e escorraçado da comunidade acadêmica. Mas a coisa fica ainda pior: ele enuncia confiantemente razões pelas quais seu primeiro fato é verdadeiro, não obstante seu primeiro fato não ser verdadeiro, refutando, assim, seu segundo – já que se essas causas são obtidas, elas claramente não produzem o efeito previsto. Como, também, quaisquer outras “causas” que outros defensores aleguem para esta estagnação fictícia da ciência antiga.
Todas estas “explicações” equivalem à alegação de que os pagãos sofreram de diversos bloqueios mentais dos quais somente o Cristianismo poderia liberta-los. Stark apresenta três exemplos populares:
Primeiro, suas concepções do divino eram inadequadas para permitir-lhes imaginar um Criador consciente [portanto eles não poderiam conceber leis físicas]. Segundo, eles concebiam o universo não apenas eterno e incriado, mas também encerrado em ciclos intermináveis de progresso e decadência [portanto eles não poderiam imaginar o progresso científico]. Terceiro, condicionados por suas concepções religiosas, eles transformaram objetos inanimados em criaturas vivas dotadas de crenças, desejos, emoções e intenções – desta maneira abortando a busca por teorias físicas.[24]
Mesmo se estas alegações fossem verdadeiras, a teoria de Stark já estaria refutada, pois, como acabamos de ver, a ciência floresceu apesar delas, e Stark defende a tese de que estes três fatos certamente teriam-na obstruído. Como eles não o fizeram, o Cristianismo não pode reivindicar nenhuma vantagem por te-los abandonado. Todavia, da forma como Stark os descreve, estas alegações nem chegam a ser a verdadeiras, nem faz qualquer sentido lógico apresenta-los como barreiras à ciência, para começar. Na verdade, eu defendo que eles são tão falsos quanto ilógicos, embora declarados com tamanha convicção, que Stark só pode ser desonesto, incompetente ou iludido. Pois até mesmo a mais rudimentar análise e verificação dos fatos teria destruído todos.
Teologia Pagã
A teologia pagã supostamente é um obstáculo, mas Stark não apresenta uma defesa convincente desta idéia. Ele afirma que certos aspectos da teologia platônica impediram a ciência[25]. Mas como todos os cientistas antigos eram filosoficamente ecléticos com fortes simpatias pelo naturalismo estóico e epicurista, e pelo aristotelismo, corrente antiplatônica desde sua fundação, não era nem mesmo possível que o platonismo impedisse o curso da ciência antiga, mesmo se este abrigasse quaisquer vieses anticientíficos[26].
Mais genericamente, a teologia pagã supostamente impediu a concepção de um universo inteligível governado por leis naturais. Consequentemente, de acordo com Stanley Jaki, apenas o Cristianismo poderia originar a ciência, pois:
A investigação científica encontrou um solo fértil apenas quando esta fé num Criador pessoal e racional impregnou verdadeiramente toda uma cultura, começando com os séculos da Alta Idade Média… [propiciando] a certeza na racionalidade do universo, confiança no progresso, e apreciação do método quantitativo, todos ingredientes indispensáveis da pesquisa científica[27].
Naturalmente, como vimos, a “pesquisa científica” já havia encontrado um terreno fértil na antiguidade pagã. Mas todo o resto aqui também é falso. Os cientistas da Antiguidade já confiavam na racionalidade do universo (como logo veremos), já tinham fé no progresso (como veremos em seguida), e já valorizavam o método quantitativo (como vimos há pouco). Portanto, a alegação de Jaki de que somente o Cristianismo poderia inspirar estas coisas é flagrantemente falsa.
Como outros defensores recentes deste novo delírio, Stark enfatiza o ângulo da “racionalidade do universo”: a menos que você acredite num Criador racional, que criou todas as coisas a partir do nada, você não terá qualquer razão para acreditar que o universo é racional ou se comporta segundo padrões naturais detectáveis. Mas isto é não somente uma falsidade, como um completo absurdo. D’Souza insiste que “o pressuposto” de que “o universo é racional é praticamente impossível de ser provado” e portanto exige uma justificação teológica[28]. Mas que o universo é racional é um fato observado. Então ele não precisa ser provado. Tal crença não demanda nenhuma fé ou teologia porque está assentada por inteiro em evidências. Os pagãos reagiram a esta observação de duas maneiras: exatamente como os cristãos tardios o fizeram, ou exatamente como os ateus contemporâneos o fazem. Nenhuma delas representou qualquer obstáculo à ciência.
Aqueles que não acreditavam no design inteligente tiveram que explicar de onde toda esta ordenação e consistência observada se originou, o que os compeliu à investigação científica, exatamente para descobrir as causas reais. De modo que céticos e panteístas da Antiguidade, como Estratão, Erasístrato, Epicuro ou Asclepiades procuraram explicações na inevitável interação de leis e forças naturais. Eles não utilizaram nossa “lei” metafórica mas outras em seu lugar, como “necessidade natural” e “natureza intrínseca” das coisas, mas estas expressões eram equivalentes: objetos flutuam na água, por exemplo, devido à inevitável interação de forças intrínsecas segundo um padrão identificável. Deus algum foi necessário. Nenhuma crença na Criação exigida. Tudo é apenas o resultado de causas naturais. De modo que mesmo o ateísmo não representaria impedimento algum à ciência. Muito pelo contrário, como não há nenhuma outra maneira de os ateus explicarem o que veem, esta postura na verdade acarreta a ciência.
E muito provavelmente, se você não era um ateu, você era um criacionista. A maioria dos intelectuais politeístas acreditava num Criador que ordenara o Cosmos de maneira inteligente, que esta ordenação poderia ser descoberta pela mente humana, e que tal descoberta honraria a Deus. Cientistas como Galeno e Ptolomeu, portanto, foram motivados se engajar na investigação científica por sua piedade religiosa, exatamente como Stark afirma que os cristãos o foram, e exatamente pelas mesmas razões. Em seu monumental Sobre os usos das partes, um atlas de anatomia humana em vários volumes que permanece um das defesas mais empiricamente persuasivas do design inteligente jamais escrita, Galeno enuncia suas motivaçõess pagãs para conduzir toda a pesquisa aplicada meticulosa e exaustiva documentada pelo livro: “Componho este sagrado discurso como um verdadeiro hino em louvor de nosso Criador. E considero que estou realmente mostrando a Ele reverência não quando Lhe ofereço” incontáveis e dispendiosos sacríficos “mas quando eu próprio primeiro aprendo a conhecer Sua sabedoria, poder e bondade e então faço-os conhecidos aos outros”[29]. A maioria dos filósofos concorda. Sêneca afirmou que a investigação científica era um empreendimento piedoso superior aos mistérios sagrados da religião pagã, e Cícero afirmou que Deus realmente nos projetou para buscar o conhecimento científico[30]. Podemos encontrar vários outros exemplos de pagãos declarando motivações teológicas para a investigação científica[31]. De modo que quando D’Souza alega que um “impulso” religioso para buscar a ciência “partiu originalmente do Cristianismo”, podemos ver que isto é uma manifesta falsidade[32] A teologia pagã proporcionou motivação abundante, assim como o ateísmo ou o panteísmo.
Teoria Cíclica do Tempo
A alegação de Stark de que qualquer um que acredite que o mundo está enclausurado em “ciclos intermináveis de progresso e decadência” não pode formar um conceito de “progresso” é ilógica: quem acredita em ciclos de progresso e decadência, obviamente acredita no progresso. Você precisa estar à beira da loucura para não notar uma contradição tão óbvia. Não obstante, Stark insiste irracionalmente que os gregos “rejeitaram a idéia de progresso em favor de um ciclo interminável do ser.”[33] Isto é não somente ilógico como falso.
A crença no progresso científico é tão bem evidenciada na literatura antiga, que surpreende alguém ter tido a audácia de afirmar o contrário[34]. Como Stark foi capaz de afirmar o oposto? Por não ter verificado o estado corrente do conhecimento sobre o tema, ou mesmo suas próprias evidências. Para respaldar esta alegação tudo o que Stark oferece são diversas citações irrelevantes que fracassam em absoluto em demonstrar qualquer conexão entre as teorias do tempo antigas e a crença no progresso. De fato, a noção antiga de ciclos eternos poderia ser baseada numa crença no progresso: presumiu-se a eternidade do universo (na ausência de quaisquer evidências em contrário), mas observou-se que a sociedade não havia alcançado um estágio de perfeição em todas as artes e ciências, mas o teria se estivesse progredindo por um tempo infinito; portanto catástrofes periódicas devem destruir as civilizações e todos os registros de suas realizações, obrigando os homens a recomeçar do zero. Aristóteles acreditou que resquícios de sabedoria oralmente transmitidos sobreviveriam a cada catástrofe, mas todos os registros escritos e conhecimentos avançados teriam se perdido, caso contrário ainda estaríamos de posse deles[35]. Acreditar nisto de maneira alguma implica acreditar que existe qualquer outro término para o progresso além da destruição de sua civilização inteira – ou, naturalmente, do mundo inteiro, cujo fim os cristãos acreditaram ser tão iminente que já deveríamos ter perguntado há mais tempo por que eles, os cristãos, acreditariam no progresso, já que essa idéia lhes teria parecido fútil[36]. Os pagãos pelo menos esperavam vários milhares de anos, até mesmo dezenas de milhares, em que continuar seu progresso.
Consequentemente é notável que o único texto citado por Stark que realmente parece relevante, na verdade diz exatamente o oposto do que ele afirma. Nisto ele pode ter sido enganado por Jaki (que justificativa Jaki teria me escapa por completo), mas penso que o fracasso de Stark em verificar o original é um sintoma ou de incompetência ou de ilusão[37]. Quando Aristóteles diz que todas as coisas “foram reinventadas diversas vezes ao longo do curso das eras, ou antes vezes sem conta,” Stark não somente alega que ele está se referindo à tecnologia, mas que Aristóteles quis dizer “o desenvolvimento tecnológico de sua época havia alcançado seu ápice, impedindo qualquer progresso ulterior”, e (suponho que estas palavras destinam-se a nos fazer inferir que) assim como na tecnologia, igualmente na ciência[38]. Mas aqui está a citação real em seu contexto original:
Parece que não há nenhuma descoberta nova ou recente entre os filósofos políticos de que o estado deve ser dividido por classes e… ter refeições públicas… De modo que devemos supor que estas e outras coisas foram descobertas inúmeras vezes, por um longo período, ou antes vezes incontáveis. Pois parece que as necessidades da vida ensinam os homens o que é proveitoso em e por si mesmo, enquanto é razoável esperar um aprimoramento e um progresso cada vez maior das coisas estabelecidas no princípio… Portanto, deve-se confiar no que já foi apropriadamente descoberto, mas também ir em busca do que permanece por ser descoberto.[39]
Observem: Aristóteles refere-se exclusivamente à organização política, não à tecnologia, nem a qualquer conhecimento científico de qualquer tipo. Na verdade, ele refere-se exclusivamente a duas invenções políticas em particular: o desenvolvimento de um sistema de classes e de refeições públicas, ambas as quais ele remete às civilizações remotas em Creta, Itália e Egito. Ele conclui apenas que estas (e certamente “outras coisas”) devem ter sido inventadas em todos os lugares porque ele as vê por toda parte, até onde o registro histórico permite. E não há nada sobre a impossibilidade de aprimora-las. Antes, quando ele diz que tais coisas foram inventas inúmeras vezes, tudo o que Aristóteles quer dizer é que a necessidade é a mãe da invenção, e portanto onde quer que alguma necessidade surja, podemos esperar encontrar homens inventando o que for necessário para supera-las. Aristóteles imediatamente acrescenta que ainda existem muitas coisas a serem descobertas e que deveríamos procurar por elas – exatamente o oposto do que Stark afirma.
De maneira similar, quando Aristóteles diz que “é razoável supor que cada arte e filosofia foi desenvolvida tanto quanto possível e então perdida novamente, inúmeras vezes”, ele não quer dizer que o progresso havia terminado em sua própria época, nem mesmo que terminaria em breve, mas que em cada ciclo as artes progridem o máximo que podem antes que alguma catastrofe global nos arremesse em outra Idade das Trevas, e precisemos recomeçar do zero[40]. Como nenhuma catástrofe do tipo estava no horizonte temporal de Aristóteles, não há indícios de que ele tenha acreditado que sua sociedade havia alcançado o o estágio máximo do progresso – ao contrário, como vimos na Política, ele claramente acreditou que ainda havia muito a ser obtido, e até mesmo declarou ser nossa obrigação busca-las. Aristóteles também manifesta sua fé no progresso futuro do conhecimento humano em vários outros contextos[41]. Não existe absolutamente evidência alguma, em Aristóteles ou qualquer outro pagão posterior a ele, de uma crença em ciclos eternos impactando a confiança de qualquer pessoa no valor e na possibilidade do progresso científico. Pelo contrário, dispomos de uma vasta quantidade de evidências de que vários pagãos, especialmente os cientistas, não somente acreditaram em tal progresso, como também trabalharam por ele.
Animismo Pagão
Também nos foi dito que o animismo pagão impediu a ciência. Como Stark coloca, “se objetos minerais são animados, envereda-se por um caminho errado ao tentar explicar os fenômenos naturais – as causas do movimento dos objetos, por exemplo, serão atribuídas a motivos, não a forças naturais”[42]. Isto é completamente falso. Nem Aristóteles nem qualquer outro cientista posterior a ele jamais procurou explicar muitos fenômenos desta maneira, exceto quando obrigatório (como no estudo dos comportamentos humano e animal) e quando os cristãos o fizeram (como na procura pela finalidade e pelo projeto divinos na natureza).
Mais uma vez flagramos Stark deixando de ler suas próprias fontes, e confiando cegamente em Jaki (que não tem tal desculpa). Ambos insinuam que Aristóteles (e todos os pagãos que lhe sucederam) acreditaram que os objetos caíam ao chão “devido a seu amor intrínseco pelo centro do mundo”[43]. Mas em seu livro Sobre os céus Aristóteles argumenta especificamente contra esta explicação. Em vez disso, ele diz que os planetas ou objetos em queda moveriam-se em virtude de tendências inatas fixas – em nossas palavras, por se comportarem em concordância com as leis naturais[44]. Um forte indício de fraude, incompetência ou insanidade mental ocorre quando você afirma que suas fontes dizem exatamente o contrário do que elas realmente dizem, e então baseia sua teoria espalhafatosa por inteiro nesse lapso extraordinário. Houvesse Stark verificado superficialmente as explicações do movimento, ou de qualquer outro comportamento dos objetos inanimados, em Aristóteles ou em qualquer outro filósofo pagão posterior, e teria encontrado o exato oposto do que ele alega.
Mesmo D’Souza sabe o suficiente para admitir que foram os pagãos, começando pelos pré-socráticos, que deram origem à idéia de “um universo que opera segundo regras detectáveis de causa e efeito” e portanto “substituíram a idéia de um ‘universo encantado’ pela de um cosmos ‘desencantado’ acessível à razão humana desamparada”[45]. D’Souza então afirma “sua influência foi efêmera”, mas isto é uma falsidade. Longe de ter sido efêmera, ela tornou-se o paradigma entre os filósofos greco-romanos, impulsionando o progresso científico por cinco séculos. Todos os cientistas da Antiguidade procuraram explicar todas as coisas como uma interação de causas naturais, formulando leis matemáticas, explicações mecânicas, e teorias de forças e propriedades naturais fixas. Nenhum procurou explicar qualquer coisa em termos de desejos arbitrários dos objetos físicos. Mesmo a noção de que os deuses governam ativamente o mundo, tornando-o assim caprichoso e imprevisível, foi abandonada em favor de um ordem racional consistente previsível, passível de ser estudada, compreendida e modelada.
Embora inúmeros indivíduos pertencentes à massa iletrada retivessem as antigas concepções animistas, isto era ridicularizado pelos intelectuais pagãos. O Aetna, por exemplo, um poema épico romano sobre a vulcanologia, afirma que tal animismo ignorante deve ser rejeitado em favor de explicações mecânicas, e então continua descrevendo explicações mecânicas para a atividade vulcânica[46]. Médicos cientistas, de Erasistrato a Galeno, procuraram explicar toda a fisiologia humana em termos de princípios ou mecanismos físicos[47]. Astrônomos, de Posidônio a Ptolomeu, sem dúvida eram capazes de conceber um modelo mecânico para o sistema solar[48]. O comportamento do ar, da água, do clima e de tudo o mais era explicado de maneira similar[49]. Mesmo quando explicações “redutivamente” mecânicas eram rejeitadas, elas não eram substituídas por outras animistas, mas por teorias físicas de forças naturais intrínsecas - que muitas vezes poderiam ser corretas, como a teoria da filtragem renal de Galeno, que sustentava que o rim não é uma mera peneira mas contém forças de atração habilmente engenhadas que naturalmente selecionam as toxinas para expulsa-las do sangue, uma conclusão que ele provou por experimentação[50]. E longe de atribuir o movimento planetário a desejos caprichosos, Ptolomeu os atribuiu à forças naturais intrínsecas em concordância com leis matemáticas – desenvolvendo, por exemplo, uma lei de “ângulos iguais em tempos iguais” que implicava que os planetas variavam suas velocidades de uma maneira que claramente inspirou a segunda lei de Kepler das áreas iguais em tempo iguais[51]. Embora Ptolomeu suspeitasse que a força que impulsiona os planetas pudesse ser “almas planetárias”, estas eram tão fixas e previsíveis quanto as almas planetárias de Kepler, sendo tão desprovidas de mentes quanto o magnetismo ou qualquer outra força física[52].
Portanto, a polêmica tese de Stark de que após Aristóteles os cientistas antigos estiveram explicando todo o universo em termos de motivos animistas é pura fantasia. Isso nunca aconteceu. Tampouco existe qualquer fundamento para acreditar que isto ocorreu. E uma crença que não somente carece de qualquer fundamento evidencial como também encontra-se refutada por todas as evidências disponíveis existentes, certamente é indistinguivel de um delírio.
A Divisão Mental-Manual
Embora Stark não a invoque, outra premissa comum é que os pagãos não tiveram ciência porque havia uma divisão aguda entre os pensadores educados e os que trabalhavam com suas mãos – em virtude de (é o que nos dizem) algum tipo de desprezo aristocrático contra se sujar. Como os antigos muito claramente possuíram ciência, já sabemos que esta teoria é falsa. Mas não somente a conexão causal está demonstravelmente ausente, como também a alegada causa.
As evidências são abundantemente claras: todos os cientistas antigos foram não somente teóricos soberbamente educados como também exímios artesãos engajados em seus próprios experimentos práticos; eles até mesmo fabricaram seus próprios instrumentos. Todas as obras de Ptolomeu e Hero estão repletas de descrições dos aparelhos e instrumentos que eles construíram, e de instruções para fabrica-los, muitos dos quais tinham de ser fabricados com extraordinária precisão. Todas as obras de Galeno estão repletas com descrições de suas dissecações, cirurgias e vivissecções pessoalmente executadas, bem como de reiterada enfâse na importância dos médicos desenvolverem e manterem sua destreza manual, e conduzir pessoalmente dissecações e vivissecções em vez de incumbi-las a outros, e até mesmo prepararem seus próprios medicamentos. O anatomista da Renascença Vesalius opos-se ferozmente à divisão entre os cirurgiões como trabalhadores braçais e os médicos como os rapazes “dos livros e teorias”, mas na Antiguidade tal divisão nunca existiu, como Galeno atesta e insiste reiteradamente[53]. Hero igualmente sustentou que os médicos e engenheiros precisavam tanto de lições teóricas como de habilidades manuais, especialmente na metalurgia, construção civil, carpintaria e pintura[54]. De modo que se qualquer divisão alguma vez ocorreu, só pode ter sido sob o domínio cristã.
Uma das provas mais decisivas disso é a recuperação arqueológica do computador astronômico mais antigo do mundo, uma máquina construída pelos cientistas gregos não muito depois do ano 100 EC que afundou num navio próximo à ilha de Antiquitera algumas décadas depois. Lançando mão de engrenagens epicíclicas meticulosa e soberbamente confeccionadas, a máquina calculava o dia e o ano em diversos calendários, as posições dos planetas no Zodíaco, bem como a do sol e da lua, e as fases da lua, e previa eclipses solares e lunares, com mais de dois séculos de antecedência, informados num sistema de ponteiros e mostradores[55]. Este computador é magnificamente fabricado, além de empregar teorias matemáticas e astronômicas avançadas, demonstrando conclusivamente que os pagãos não imaginaram nenhum conflito entre teoria e aprendizado, e entre artesanato e trabalho braçal. Ao contrário, eles os unificaram plenamente. Os cristãos simplesmente não se interessaram em preservar este conhecimento.
Num sentido coloquial, uma ilusão é qualquer crença não somente falsa, mas cuja falsidade é facilmente demonstrável por uma verificação corriqueira dos fatos, embora seja mantida com uma convicção desproporcional às evidências. Nesse sentido, esta nova idéia de que o Cristianismo foi não somente responsável como necessário para o surgimento e o florescimento da ciência moderna é com certeza uma ilusão. Uma ilusão se torna patológica quando esta crença é mantida com a mais absoluta convicção mesmo diante de evidências persuasivas que a contrariam. E nesse sentido, eu penso que as pessoas impassíveis diante das evidências apresentadas neste artigo estão não somente iludidas, como também completamente fora de seu juízo.
Nenhuma das premissas invocadas para sustentar esta ilusão é verdadeira. Todas distorcem os sentidos dos fatos ou dos textos, muitas vezes com uma obviedade escandalosa. Tampouco são os argumentos que empregam estas premissas sequer logicamente sólidos. Mas ainda mais pertubardor, toda esta fantasia ignora quais são, realmente, os valores necessários para o progresso científico: eleger a curiosidade como uma virtude moral, conceder ao empirismo o estatuto de autoridade suprema em todas as disputas de fato, e valorizar a busca do progresso. Diversos cientistas pagãos promoveram todos estes três valores tão vigorosa e persistentemente que produziram avanços contínuos nas descobertas e nos métodos científicos. O Cristianismo, ao contrário, por um longo período jamais estimou estes valores, e em várias situações os denunciou e reprimiu. Nunca houve na Bíblia ou na mentalidade do Cristianismo original qualquer coisa com tendência a favorece-los. Somente com uma dose cavalar de engenhosidade, e contrariando uma resistência igualmente cavalar, alguns cristãos eventualmente lograram êxito em encontrar uma maneira de reintegrar estes valores pagãos numa cultura completamente cristianizada, e mesmo assim somente após séculos de um desisnteresse quase total[56].
Não obstante, como todas as boas ilusões, esta erigiu-se sobre um núcleo de verdade.
Os pagãos armaram o cenário para o término da ciência antiga – mas não por qualquer das razões alegadas atualmente pelos cristãos. Pelo fracasso em desenvolver um governo constitucional estável e eficaz, o Império Romano foi condenado ao colapso sob o peso de guerras civis constantes e uma política econômica desastrosa; e no terceiro século da Era Comum foi exatamente isto o que aconteceu. A sociedade pagã respondeu a este colapso abandonando os valores científicos de seu passado e refugiando-se cada vez mais em modos místicos e fantasiosos de compreender o mundo e suas maravilhas. O Cristianismo já foi uma visão de mundo deste tipo, e alcançou uma popularidade crescente exatamente nessa época[57]. Como era previsível, porém, quando o Cristianismo tomou o poder, ele não restaurou aqueles valores científicos, mas em vez disso selou o destino da ciência encerrando todo progresso científico significativo por quase mil anos. Ele não fez isso através da repressão ou da perseguição da ciência, mas simplesmente por não promover seu progresso e promovendo em seu lugar uma desconfiança profunda e duradoura contra os próprios valores necessários para produzi-la.
Outrossim, a ciência moderna de fato desenvolveu-se num ambiente cristão, pelas mãos de cientistas que realmente foram cristãos, e é possível compatibilizar o Cristianismo com a ciência e os valores científicos. O Cristianismo precisou apenas se adaptar para adotar aqueles antigos valores pagãos que uma vez impulsionaram o progresso científico. E foram os cristãos que se adaptaram, inventando habilidosamente argumentos em favor da mudança porque somente argumentos em concordância com a Bíblia e a Teologia cristã teriam sido bem sucedidos em persuadir seus pares. Mas este foi um desenvolvimento apesar dos valores e ideais do Cristianismo original, retornando o mundo ao ponto onde os pagãos, não os cristãos, o haviam há deixado mil anos, no alvorecer do terceiro século. Somente então o mundo cristão assumiu aquela antiga ciência pagã e seus valores centrais mais uma vez. E somente então uma nova onde de progresso e inovações sucedeu. Não houvesse o Cristianismo interrompido o progresso intelectual da humanidade e colocado o progresso da ciência em espera por mil anos, a Revolução Científica poderia ter ocorrido mil anos atrás, e nossa ciência e tecnologia hoje estariam mil anos a frente. Esta é uma verdade dolorosa que alguns cristãos não querem em absoluto ouvir ou aceitar. De modo que eles refugiam-se na ilusão de que isso não é verdade, que o Cristianismo, ao contrário, foi tão maravilhoso que não somente causou a ciência moderna, como também foi essencial a ela. Porém, como os fatos demonstram, isto absolutamente não é verdade.
1. Robert Hutchinson, “As origens Bíblicas da Ciência Moderna,” in O Guia Politicamente Incorreto da Bíblia (Washington, DC: Regnery, 2007), p. 139.
2. Alvin Schmidt, “Ciência: Suas Conexões Cristãs” in Sob a Influência: Como o Cristianismo Transformou a Civilização (Grand Rapids, MI: Zondervan, 2001), p. 221.
3. Não estou brincando: Lynn White Jr., “O que acelerou o progresso tecnológico na Idade Média Ocidental?” in Scientific Change, ed. A. C. Crombie (New York: Basic Books, 1963): pp. 272-91; Edward Grant, Science and Religion, 400 B.C. to A.D. 1550 (Westport, CT: Greenwood Press, 2004), pp. 225-30. Grant também alega que as guerras constantes impediram a ciência bizantina, mas o Ocidente cristão e os gregos antigos também estiveram guerreando continuamente, e numa nação próspera (como Bizâncio) a guerra pode na verdade fazer a ciência avançar em vez de impedi-la: Tracey Rihll, The Catapult A History (Yardley, PA: Westholme, 2007).
4. Dinesh D’Souza, “Cristianismo e Razão: As Raízes Teológicas da Ciência” in A Verdade sobre o Cristianismo, págs. 105-112. (Thomas Nelson Brasil – Rio de Janeiro – 2008).
5. Sobre a espistemologia original do Cristianismo: Richard Carrier, Not the Impossible Faith: Why Christianity Didn’tNeed a Miracle to Succeed (Raleigh, NC: Lulu, 2009): pp. 329-68, 385-406.
6. Teologia como uma ciência racional na Antiguidade: Aristóteles, Metafísica 6.1 (1026a); Sexto Empírico, Contra os Professores 9.12-194 (= Contra os Físicos 1.12-194 = Contra os Dogmáticos 3.12-194); e John Dillon, Alcinous: The Handbook of Platonism (Oxford: Clarendon, 1993): pp. 57-60, 86-89.
7. Convincentemente defendido em David Sedley, Criacionismo e seus críticos na Antiguidade (Berkeley: University of California Press, 2007).
8. Mais conspicuamente em Stanley Jaki, Ciência e Criação (New York: Science History, 1974), A estrada da ciência e os caminhos para Deus (Chicago: University of Chicago Press, 1978) e O Salvador da Ciência (Grand Rapids, MI: Eerdmans, 2000).
9. Exemplos proeminentes: Nancy Pearcey e Charles Thaxton, “A nova história da Ciência” em A alma da ciência (Wheaton, IL: Crossway Books, 1994), pp. 15-56; Thomas Woods, “A Igreja e a Ciência,” Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental (Editora Quadrante, 2011), pp. 67-114; Schmidt, Sob a influência, pp. 218-47; D’Souza, A verdade sobre o Cristianismo, pp. 83-99; Hutchinson, Guia Politicamente Incorreto, pp. 138-56; e Stark (veja a próxima nota).
10. Rodney Stark, “A Obra de Deus: As origens religiosas da ciência” em Para a Glória de Deus (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2003), pp. 121-99; and “Bençãos da Teologia Racional” em A Vitória da Razão (New York: Random House, 2005), pp. 3-32.
11. Andrew Bernstein, “A Tragédia da Teologia: Como a Religião Causou e Prolongou a Idade Média: Uma crítica do livro de Rodney Stark “A vitória da Razão”‘ Objective Standard 1, no. 4 (Winter 2006-2007): 11-37; Joseph Lucas e Donald Yerxa, eds., “A vitória da razão: um debate,” Historically Speaking 7, no. 4 (Março/Abril 2006): 2-18.
12. Stark, Vitória da Razão, p. 20.
13. As evidências para tudo isto (e o que vem a seguir) será sumarizada em Richard Carrier, The Scientist in the Early Roman Empire (prestes a ser publicado), mas já é coletivamente demonstrada em: Lucio Russo, The Forgotten Revolution, 2nd ed. (New York: Springer, 2003); Tracey Rihll, Greek Science (New York: Oxford University Press, 1999); G. E. R. Lloyd, Greek Science after Aristotle (New York: W. W. Norton, 1973); Paul Keyser e Georgia Irby-Massie, eds., The Biographical Encyclopedia of Ancient Natural Scientists (New York: Routledge, 2009); e toda a série Routledge Sciences of Antiquity.
Para o período romano especificamente: Andrew Barker, Scientific Method in Ptolemy: Harmonics (New York: Cambridge University Press, 2000); A. M. Smith, Ptolemy and the Foundations of Ancient Mathematical Optics (Philadelphia, PA: American Philosophical Society, 1999); J. L. Berggren, Ptolemy:s Geography (Princeton, NJ: Princeton University Press, 2000); G.J. Toomer, Ptolemy’.r Almagest (New York: Springer-Verlag, 1984); Karin Tybjerg, “Hero of Alexandria’s Mechanical Treatises,” in Physik/Mechanik, ed. Astrid Schurmann (Stuttgart: Franz Steiner, 2005), pp. 204-26; Bennet Woodcroft, ed., The Pneumatics of Hero of Alexandria (London: Taylor, Walton and Maberly, 1851); A. G. Drachmann, The Mechanical Technology of Greek and Roman Antiquity (Madison: University of Wisconsin Press, 1963); Rudolph Siegel, Galen on Psychology, Psychopathology, and Function and Diseases of the Nervous System: An Analysis of His Doctrines Observations and Experiments (New York: Karger, 1973), Galen on Sense Perception: His Doctrines Observations and Experiments on Vision, Hearing, Smell, Taste, Touch and Pain, and Their Historical Sources (New York: Karger, 1970), Galena System of Physiology and Medicine- An Analysis of His Doctrines and Observations on Bloodflow, Respiration, Tumors and Internal Diseases (New York: Karger, 1968).
14. Para uma pequena lista de cientistas conhecidos: Richard Carrier, “Attitudes Toward the Natural Philosopher in the Early Roman Empire (100 BC to 313 AD),” PhD diss., Columbia University, 2008, pp. 562-73 (pre-Aristotle: pp. 558-61). Para uma lista completa, veja Keyser and Irby-Massie, Biographical Encyclopedia. As perdas mais excruciantes são todos os tratados científicos sobre o movimento e a gravidade após Aristóteles: Sobre o Movimento de Estrato, Sobre os objetos derrubados por seu peso de Hiparco e Sobre o Equilíbrio de Ptolomeu, para nomear apenas aqueles de que temos notícia.
15. Como Jaki alega em Estrada da Ciência, p. 22.
16. Como revelado em Sobre a face que aparece no orbe lunar de Plutarco (_ Moralia 920b-945d; reproduzido em vol. 406 da Loeb Classical Library, Plutarch:r Moralia, vol. 12).
17. Vejam Russo, Forgotten Revolution, pp. 218-24 and John Kieffer, Galen” Institutio Logica (Baltimore: Johns Hopkins Press, 1964).
18. Descrito por Ptolomeu em Hipóteses Planetárias 2.6 e no Almagesto 13.2.
19. Por exemplo: Reviel Netz o William Noel, The Archimedes Codex (Philadelphia, PA: Da Capo Press, 2007).
20. Archimedes, On the Equilibrium of Planes and On Floating Bodies; Hero, On Mirrors; Ptolemy, Optics; Galen, On the Natural Faculties.
21. Hutchinson, Politically Incorrect, p. 140.
22. Stark, Victory of Reason, p. 12.
23. Stark, For the Glory, p. 152.
25. Stark, Victory of Reason, pp. 18-19, and For the Glory, pp. 152-53.
26. Veja John Dillon and A. A. Long, eds., The Question of `Eclecticism” (Berkeley: University of California Press, 1988); H. B. Gottschalk, “Aristotelian Philosophy in the Roman World,” Aufstieg and Niedergang der romischen Welt 2.36.2 (1987): 1079-1174 [cf. pp. 1164-71]; R. J. Hankinson, “Galen’s Philosophical Eclecticism,” Auf tieg and Niedergang der romischen Welt 2.36.5 (1992): 3505-22; Pamela Huby and Gordon Neal, eds., The Criterion of Truth (Liverpool: Liverpool University Press, 1989); e Tybjerg, “Hero,” pp. 214-15. Exemplos explícitos incluem: Galeno, Sobre as paixões e os erros da alma 1.8 e 2.6-7; Seneca, Epístolas Morais 33; Celsus, Sobre a medicina págs. 45-47.
27. Jaki, Science and Creation, p. viii.
28. D’Souza, A verdade, p. 92.
29. Galen, Sobre os usos das partes 3.10 (também 17.1).
30. Seneca, Natural Questions 7.2 e Cicero, Sobre os limites do Bem e do Mal 5.18.(48)-5.21.(60).
31. Veja Carrier, “Attitudes,” pp. 353-74, 396-98 (que serão reproduzidas em Carrier, Scientist).
32. D’Souza, A verdade, p. 99.
33. Stark, Victory of Reason, pp. 18, 19.
34. Amplamente comprovado em: Ludwig Edelstein, The Idea of Progress in Classical Antiquity (Baltimore, MD: Johns Hopkins Press, 1967) e Antoinette Novara, Les idees romaines sur le progres d’apres ley ecrivains de la Republique, 2 vols. (Paris: Les Belles Lettres, 1982). Faço acréscimos consideráveis às evidências de Edelstein e Novara em Carrier, “Attitudes,” pp. 249-342 (que serão reproduzidas em Carrier, Scientist). Os cientistas antigos foram especialmente otimistas: Edelstein, Idea of Progress, pp. 142-48; Tybjerg, “Hero,” p. 211; Serafina Cuomo, Ancient Mathematics (London: Routledge, 2001), pp. 183-85; Ingrid Rowland e Thomas Howe, Vitruvius (Cambridge: Cambridge University Press, 1999), pp. 16-17; R.J. Hankinson, “Galen’s Concept of Scientific Progress,” Aufstieg and Niedergang der romischen Welt 2.37.2 (1994): 1776-89 and Galen: On the Therapeutic Method (Oxford: Clarendon Press, 1991), p. 86; e Mary Beagon, Roman Nature (Oxford: Clarendon Press, 1992), pp. 56-63,183-90.
35. Esta é a idéia por trás das observações de Aristóteles em Sobre os céus 1.3 (270b) e Metereologia 1.3 (339b).
36. Muitos esperaram que tudo fosse destruído em questão de anos: Hebreus 1:10-2:5, 10:36-37; 1 Coríntos 1:28, 6:13, 7:29-31; 1 Tessalonicensess 4:15; 2 Pedro 3:5-13; 1 João 2:15-18; e obviamente Marcos 13 e Mateus 24; e assim por diante desde o começo (veja Bernard McGinn et al., The Continuum History of Apocalypticism [New York: Continuum, 2003] and Jonathan Kirsch, A History of the End of the World [San Francisco: Harper, 2006]).
37. Stark está simplesmente macaqueando Jaki, Road of Science, p. 24, ou Science and Creation, pp. 113-14. Jaki possui a tendência de relatar falsamente o que suas fontes dizem; por exemplo, ao contrário do que Jaki afirma em Savior, p. 93, nem Plutarco nem Ptolomeu apresentaram quaisquer objeções religiosas ao heliocentrismo- em nenhuma das passagens citadas eles aprovam tais coisas.
38. Stark, Victory of Reason, p. 19. A tecnologia antiga na verdade progrediu imensamente após Aristóteles: John Oleson, ed., The Oxford Handbook of Engineering and Technology in the Classical World (Oxford: Oxford University Press, 2008); Orjan Wikander, ed., Handbook of Ancient Water Technology (Leiden: Brill, 2000); Kevin Greene, “Technological Innovation and Economic Progress in the Ancient World,” Economic History Review 53, no. 1 (Fevereiro de 2000): 29-59; M.J. T. Lewis, Millstone and Hammen The Origins of Water Power (Hull: University of Hull, 1997); and Rihll, Catapult.
39. Aristóteles, Política 7.10 (1329b).
40. Aristóteles, Metafísica 12.8 (1074b).
41. Veja Edelstein, Idea of Progress, pp. 19-29 para diversos exemplos, incluindo: Aristóteles, Refutações Sofísticas 3.34 (183b-184b), Política 2.8 (1268b-1269a), Ética a Nicômaco 1.7 (1098a), Metafísica 13.1 (1076a), Sobre os Céus 2.5 (287b-288a), e Sobre a geração dos animais 3.10 (760b).
42. Stark, For the Glory, p. 154.
43. Stark, Victory of Reason, p. 20, citando Jaki, Science and Creation, p. 105.
44. Aristóteles, Sobre os céus 1.8 (276a-278a), 2.1 (283b-284a), 3.2 (300a-302a), e o livro 4 inteiro (307b-313b), e Física 8.1 (250b-252b). Aristóteles, Metafísica 12.7 (1072b3) de fato diz que o amor e a vontade de Deus sustenta todas as tendências naturais em seus arranjos imutáveis (sustentando consequentemente as leis da natureza), mas nisso os cristãos também creem.
45. D’Souza, A verdade, p. 93.
46. Veja P. B. Paisley e D. R. Oldroyd, “Science in the Silver Age,” Centaurus 23, no. 1 (1979): 1-20 [cf. pp. 2-6]; F. R. D. Goodyear, “The `Aetna,”‘ Auf tieg and Niedergangderromischen Welt2.32.1 (1984): 344-63 [cf. pp. 346-47].
47. Russo, Forgotten Revolution, pp. 146-51; Vivian Nutton, Ancient Medicine (London: Routledge, 2004), pp. 134-36; Sylvia Berryman, “Galen and the Mechanical Philosophy,” Apeiron: A,journal for Ancient Philosophy and Science 35, no. 3 (September 2002): 235-53; Heinrich von Staden, “Body and Machine,” Alexandria and Alexandrianism (Malibu, CA: J. Paul Getty Museum, 1996), pp. 85-106. Exemplos: Galen, On the Natural Faculties 3.15 and On the Uses of the Parts 1.2-4, 1.19, 7.14, 14.5.
48. Por exemplo: Cicero, Sobre a Natureza dos Deuses 2.88.(34-35); Vitruvius, Sobre a Arquitetura 9.1.2, 10.1.4; e Lucrécio, Sobre a Natureza das Coisas 5.96; para Ptolomeu: Liba Taub, Ptolomeu’s Universe (Chicago: Open Court, 1993).
49. Veja Liba Taub, Ancient Meteorology (London: Routledge, 2003), pp. 141-61; e para exemplos: a Pneumática e a Mecânica de Hero e, de Arquimedes, Sobre os corpos flutuantes.
50. Veja Galeno, Sobre as faculdades naturais.
51. Ptolomeu, Hipóteses Planetárias 2.6 e Almagesto 9.5.
52. Veja Andrea Murschel, “The Structure and Function of Ptolemy’s Physical Hypotheses of Planetary Motion,” Journal for the History of Astronomy 26 (1995): 33-61; on Kepler’s “soul” theory: Eric Aiton, “How Kepler Discovered the Elliptical Orbit,” The Mathematical Gazette 59, no. 410 (December 1975): 255-57 [pp. 250-260]; sobre todo o programa de Ptolomeu de procurar leis naturais: Alexander Jones, “Ptolemy’s Mathematical Models and Their Meaning,” in Mathematics and the His- torian:r Craft, eds. Glen van Brummelen and Michael Kinyon (New York: Springer, 2005), pp. 23-42.
53. Veja o prefácio a Vesalius, Sobre a fábrica do corpo humano (1543). Agricola similarmente precisou devotar o primeiro capítulo inteiro de seu livro Sobre a Mineração (1556) à defender-se contra seus pares que rejeitaram seus estudos como base.
54. Numa citação perdida em Pappus, Mathematical Collection 8.1. Para mais evidências de cientistas como artesãos e a ausência de qualquer divisão entre trabalhos manuais e intelectuais, veja Carrier, “Attitudes,” pp. 425-79 (que serão reproduzidas em Carrier, Scientist).
55. Por uma explicação completa, veja Jo Marchant, Decifrando os céus (Cambridge, MA: Da Capo Press, 2009).
56. Sobre a hostilidade dos cristãos primitivos à curiosidade, o destronamento do empirismo e o desinteresse no progresso científico (e uma eventual revivescência destas idéias mil anos mais tarde), veja Neil Kenny, The Uses of Curiosity in Early Modern France and Germany (New York: Oxford University Press, 2004) e Curiosity in Early Modern Europe (Wiesbaden: Harrassowitz, 1998); Peter Harrison, The Bible, Protestantism, and the Rise of Natural Science (Cambridge: Cambridge University Press, 1998) e “Curiosity: Forbidden Knowledge, and the Reformation of Natural Philosophy in Early Modern England,” Isis 92, no. 2 (June 2001): 265-90; Lorraine Daston, Wonders and the Order of Nature, 1150-1750 (New York: Zone Books, 1998); William Eamon, Science and the Secrets of Nature (Princeton: Princeton University Press, 1996); Lloyd, Greek Science, pp. 167-71; and Marshall Clagett, Greek Science in Antiquity (Salem, NH: Ayer, 1955), pp. 118-82. Mais evidências serão sumarizadas em Carrier, Scientist.
57. Para um resumo da produção acadêmica sobre este colapso do terceiro século (e o fato de o Cristianismo não ter tido qualquer sucesso digno de nota antes disso), veja Carrier, Not the Impossible Faith, pp. 407-47 (esp. pp. 435-40 e p. 447 n. 32), que foi reforçado por Ramsay MacMullen, Christianizing the Roman Empire AD 100-400 (New Haven, CT: Yale University Press, 1984) e Christianity and Paganism em the Fourth to Eighth Centuries (New Haven, CT: Yale University Press, 1997); and Robin Lane Fox, Pagans and Christians (New York: Knopf, 1987).