O Instituto Moreira Salles do Rio de Janeiro abre no dia 2 de outubro (quarta-feira), às 20h, a exposição Tacita Dean: a medida das coisas, primeira exposição individual da artista inglesa na América Latina e elaborada especialmente para o público brasileiro. Com curadoria da historiadora da arte venezuelana Rina Carvajal, a exposição traz 11 filmes e sete obras em papel. São trabalhos emblemáticos na trajetória da artista – como Disappearance at Sea[Desaparecimento no mar] (1996), Bubble House [Casa Bolha] (1999),Teignmouth Electron (2000) – e filmes recentes, como JG, realizado em 2013. Além disso, serão exibidos gravuras e trabalhos inéditos feitos a partir de fotografias e postais antigos do Rio de Janeiro.
Na abertura da exposição, Tacita Dean falará sobre sua obra numa palestra aberta ao público, que será realizada no auditório do IMS. Os lugares são limitados.
O tempo, o acaso e a materialidade das coisas são os principais objetos de trabalho de Tacita Dean que, desde os anos 1990, se tornou uma referência internacional na produção de obras de arte em forma de cinema analógico. “Os filmes reunidos na exposição, embora com temas bastante variados, têm em comum a preocupação com o tempo – um tempo que é tanto humano quanto cósmico, em que passado e futuro entrecruzam-se no presente. É o tempo do filme, da perda e da cura, de pessoas, lugares e coisas, de percepções subjetivas”, explica a curadora.
A artista é conhecida mundialmente por sua militância em favor do cinema analógico e da continuidade da produção de películas para fins industriais e artísticos. Dos 11 filmes que compõem a exposição, 10 deles foram feitos em 16 mm e um em 35 mm, que será exibido no cinema do IMS-RJ. As obras são concebidas como instalações feitas com projeções analógicas em diferentes suportes e tamanhos. Elas registram assuntos de interesse da artista sem constituir narrativas.
Filmes
Disappearance at Sea [Desaparecimento no mar] (1996) é a primeira de uma sequência de obras inspiradas na trágica história de Donald Crowhurst, velejador amador cuja viagem acabou em morte. Feito no farol de St. Abb’s Head, em Berwickshire, na Escócia, o filme mapeia o anoitecer, do começo do pôr do sol até a escuridão completa, visto de dentro do farol. Outras duas obras realizadas a partir da história de Crowhurst são: Bubble House [Casa Bolha] (1999) – filme que mostra uma casa deserta, encontrada pela artista durante sua viagem ao Caribe, quando procurava pelo barco de Crowhurst – e Teignmouth Electron(2000), nome do barco do velejador, encontrado pela artista abandonado numa praia isolada da ilha Cayman Brac. Gellért (1998) mostra senhoras nuas se banhando nas termas do Gellért Hotel, em Budapeste. Kodak (2006) é uma grande homenagem ao filme analógico, do qual Dean é totalmente adepta e defensora. A artista filmou na fábrica da Kodak, em Chalon-sur-Saône, na França, o momento da fabricação de alguns dos últimos rolos de filme 16 mm.
Sempre interessada no processo criativo dos artistas que admira, Tacita Dean presta homenagem a vários deles em sua obra: em Day for Night [O dia pela noite] (2009), filmou os objetos de trabalho de Giorgio Morandi, em seu estúdio, em Bolonha. Ela recebeu permissão para filmar o pequeno quarto-ateliê onde o pintor italiano passou mais de 50 anos de sua vida, e foi a partir desse material que produziu também Still Life [Natureza-morta] (2009), no qual filma meticulosamente as marcações que Morandi fazia nos papéis que revestiam a mesa de seu ateliê.
Outro trabalho presente na exposição do IMS é Merce Cunningham performsSTILLNESS... (six performances, six films) [Merce Cunningham executa STILLNESS... (seis performances, seis filmes)] (2008), resultado do pedido de Tacita Dean ao bailarino Merce Cunningham (1919-2009) para executar 4’33’’ (a composição silenciosa em três movimentos de John Cage, antigo parceiro de Cunningham). Realizado no fim da vida do coreógrafo, quando sua mobilidade era limitada, a coreografia consiste simplesmente em assumir uma posição no início de cada movimento, sentado numa cadeira, e permanecer imóvel.
Obras em papel
Além dos filmes, serão exibidas outras sete obras em papel. A fotogravuraFernweh (2009), segundo descrição da própria artista “é uma improvável paisagem feita de penhascos, floresta e dunas. Eu a criei a partir de quatro fotografias pequenas e desbotadas do século XIX que encontrei em mercados de pulgas algum tempo atrás”. Já os quatro postais que integram a série Found Gigi I-IV [Encontrando Gigi I-IV] (2013) foram comprados por Tacita Dean na viagem que ela vez ao Rio de Janeiro em 2012. São paisagens do Rio de Janeiro antigo com intervenções de um desconhecido. Há na exposição ainda duas fotografias (uma vista de Petrópolis e outra de Teresópolis) sobre as quais Tacita Dean pintou com guache.
Sobre Tacita Dean
Tacita Dean nasceu em 1965 em Canterbury, Reino Unido. Estudou na Falmouth School of Art e na Slade School of Fine Art antes de estabelecer-se em Berlim para morar e trabalhar. Fez exposições individuais na Tate Britain, Londres (2001); MACBA, Barcelona (2001); Tate St Ives (2005); Schlauger, Basileia (2006); Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York (2007); Nicola Trussardi Foundation, Milão (2009); ACCA, Melbourne (2009); MUMOK, Viena (2011); Turbine Hall (Unilever Series), Tate Modern, Londres (2011); e New Museum, Nova York (2012). Entre as exposições mais recentes, destacam-se a do The Fabric Workshop and Museum, Filadélfia, e seu último projeto de cinema, JG, na Arcadia University Art Gallery, Filadélfia (2013). Outras mostras previstas para 2013 incluem, além desta, no Instituto Moreira Salles, Rio de Janeiro; a da Foundación Botín, Santander; e a do Australian Centre for Contemporary Art, Melbourne. Em 2015, haverá uma retrospectiva de sua obra no Hirshhorn Museum, em Washington. Dean participou ainda de diversas exposições coletivas, como a Bienal de Veneza (2003, 2005, 2013), a Bienal de Sydney (2005 e 2014) e a Bienal de São Paulo (2006 e 2010), e recentemente participou da DOCUMENTA (13) (2012). Recebeu os prêmios Hugo Boss em 2006 e Kurt Schwitters em 2009.
Exposição
Tacita Dean: a medida das coisas
Visitação: de 3 de outubro de 2013 a 26 de janeiro de 2014
De terça a domingo, das 11h às 20h
Entrada franca - Classificação livre
Instituto Moreira Salles – Rio de Janeiro
Rua Marquês de São Vicente, 476, Gávea
Tel.: (21) 3284-7400/ (21) 3206-2500
De terça a sexta, às 17h, visita guiada pelas exposições.
Visitas monitoradas para escolas: agendar pelo telefone (21) 3284-7400.