"Apesar de o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) ser um dos problemas psiquiátricos mais frequentes, ele é o menos estudado entre as doenças dessa área", apontou a coordenadora do Laboratório de Genética Humana do Instituto de Biologia da Universidade Federal Fluminense (UFF), Fabiana Kohlrausch, durante a sessão científica promovida pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP). "Trata-se de um distúrbio bastante heterogêneo, e 90% dos pacientes estudados apresentam outras comorbidades associadas, como transtorno de ansiedade e humor", completou.
O TOC é um transtorno mental de ansiedade caracterizado pela presença de obsessões e/ou compulsões. O sintoma mais frequente, segundo a palestrante, é a mania de limpeza, mas também se caracterizam como TOC a repetição, ordenamento, contagem, acúmulo, checagem, necessidade de simetria, medo de contaminação e outros.
Segundo Fabiana, suas causas ainda não foram esclarecidas, e diversas hipóteses são estudadas, como as experiências de vida do indivíduo e os fatores de natureza biológica, como os aspectos genéticos, lesões cerebrais ou infecções. Uma evidência do componente genético do TOC são os animais knockout, geneticamente modificados aos quais os pesquisadores desativam um gene existente. A falta desse gene provoca sintomas obsessivo-compulsivos. O principal sintoma observado é o grooming, uma característica do indivíduo se autodestruir pelo toque excessivo na pele, causando feridas.
Heterogeneidade da doença explica ausência de estudos
A pesquisadora destaca que a hipótese mais aceita com relação à expressão do TOC é que ela seja resultado de uma hiperatividade do Circuito Córtico-Estriado-Tálamo-Cortical (CETC). ”O córtex orbito-frontal que fica dentro desse circuito tem um papel muito importante em aspectos emocionais e motivacionais do comportamento. Então, está totalmente relacionado à expressão dos sintomas obsessivo-compulsivos”, explica Fabiana.
Fabiana Kohlrausch também observa que não existem medicamentos específicos para o tratamento do TOC. De acordo com ela, o que se utiliza são os medicamentos psicotrópicos como antidepressivos, ansiolíticos e antipsicóticos para tentar controlar os efeitos.
Como justificativa para a ausência de estudos nessa área, a professora aponta a heterogeneidade da doença, além da complexidade normal do funcionamento do cérebro. “A genética das doenças psiquiátricas é extremamente complexa. Além disso, observa-se um complicador, que são os fatores ambientais, como estresse e eventos traumáticos, a interação entre pais e filhos, divórcios, fatores culturais e outros.”
A sessão científica Bases Genéticas do Transtorno Obsessivo-Compulsivo, promovida pelo Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh), ocorreu no dia 5 de dezembro na ENSP.