Quinze milhões entre 16,7 milhões de gravidezes indesejadas acontecem todos os anos em 35 países de baixa renda porque as mulheres não fazem uso de métodos contraceptivos considerados modernos, como a pílula e a camisinha, segundo estudo publicado na revista especializada “Human Reproduction”.
O Brasil não foi um dos países pesquisados durante o trabalho, mas, por aqui, as gravidezes indesejadas também não são raras. Um levantamento feito com 24 mil grávidas de 9 meses no país e divulgado ano passado pela Fiocruz revelou que 55% delas não estavam planejando ter filhos naquele momento.
— Isso mostra que o planejamento reprodutivo no Brasil também está comprometido. Falta acesso e informação, principalmente entre os jovens - explica a médica Maria do Carmo Leal, responsável pela pesquisa.
Segundo os autores, muitas das mulheres que engravidam nesses países enfrentam, no futuro, problemas como morte precoce, deficiências, redução de oportunidades de emprego ou interrupção nos estudos. Eles compararam o uso de contraceptivos entre 12.874 mulheres que ficaram grávidas sem querer e 111 mil mulheres sexualmente ativas que não engravidaram e nem queriam isso. Métodos tradicionais, como tabelinha e coito interrompido, mostraram-se quase três vezes menos eficazes do que os modernos.
A mulheres mais pobres e com menos grau de educação estão entre as que menos fazem uso desses contraceptivos. Em meio às 14,8 mil grávidas da pesquisa que não usavam contraceptivos e não queriam ser mães, a principal razão para não recorrer a métodos de prevenção era o medo dos efeitos colateiras, apontado como motivo por 5,5 mil, ou 37% das mulheres. Oposição, da família ou da igreja, foi o motivo para 22,4% delas. E 17,6% subestimavam o risco de engravidar. Outras razões citadas foram o cursto desses métodos e a falta de informação sobre eles.
- Esse estudo tem muitas implicações. Por exemplo, preocupações com saúde são a razão mais comum para não usar métodos de contracepção, mas essas preocupações não têm embasamento. Órgãos de saúde têm um papel importante de educar e encontrar os métodos mais adequados para cada pessoa. Entretanto, muitos funcionários desses países têm os mesmos problemas de ignorância. Nós poderíamos prevenir a grande maioria das gravidezes se pudéssemos acabar com esses mitos - afirma Howard Sobel, coordenador da divisão da Organização Mundial de Saúde para reprodutividade, maternidade, neonatal, criança e adolescente.