“A morte de um jovem por homicídio é sempre um evento trágico e doloroso para a família, independente da trajetória de vida do jovem, despertando sentimentos de raiva, angústia e, principalmente, de inconformismo diante de uma morte considerada prematura, violenta e ‘fora do lugar’. As ressonâncias da perda atingem a dinâmica familiar, impactando os seus membros no âmbito físico, emocional, financeiro e social. A justiça, enquanto mecanismo regulador da convivência coletiva, falha em sua função.” Esse é o diagnóstico apresentado pela aluna do mestrado em Saúde Pública da ENSP, Daniella Harth da Costa, em sua dissertação que configura-se como um subprojeto de uma pesquisa mãe intitulada Mortes Violentas de Jovens: um olhar compreensivo para uma tragédia humana e social, desenvolvida pelo Centro Latino-Americano de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP) entre os anos de 2014 e 2015.
Conforme observa Daniella, a impunidade nos casos de homicídio se apresenta como um dos principais fatores de revitimização dessas famílias no contexto brasileiro, pois viver a partir da perda de um ente querido por homicídio não é uma tarefa fácil, mas parece ser facilitada quando a família pode contar com uma rede social de apoio composta por amigos, parentes e outros atores e serviços da comunidade. “As famílias se utilizam do apego à espiritualidade como modo de apaziguar a dor e dar sentido à perda.”
O objetivo dessa pesquisa maior do Claves é produzir uma análise sócio-epidemiológica da mortalidade de jovens de 15 a 29 anos, por homicídio, no Brasil e aprofundar o olhar sobre dez municípios brasileiros considerando a magnitude e a compreensão do problema, combinando metodologia quantitativa e qualitativa.
Em cada região foi escolhido um município com elevadas taxas de homicídios, mesmo com melhora da qualidade da informação, e um município com baixas taxas de homicídios, mesmo com piora da qualidade da informação, no período de 1990 a 2010. Das dez cidades selecionadas pela pesquisa maior, quatro compuseram o campo de estudo da presente dissertação. Foram consideradas somente as cidades com mais de 100 mil habitantes, excluindo-se as capitais. Os nomes das cidades não são revelados a fim de resguardar a identidade dos sujeitos envolvidos, mas as quatro cidades correspondem a duas da região Nordeste (cidade da região metropolitana de Salvador e cidade do semiárido do Estado de Pernambuco), uma da região Sudeste (cidade da região metropolitana de São Paulo) e outra da região Sul (cidade do Oeste do Paraná). Participaram do estudo cinco familiares (três mães, um irmão e uma ex-companheira) de jovens vítimas de homicídio que correspondem a quatro famílias, cujo recorte essa dissertação se apropria e aprofunda.
Daniella Harth da Costa é formada em Psicologia pela Universidade Federal Fluminense (2013) e atua como psicóloga na equipe de desinstitucionalização da Coordenação de Saúde Mental do município de São Gonçalo/RJ. Sua dissertação intituladaUm olhar sistêmico sobre famílias de jovens vítimas de homicídio foi orientada pela pesquisadora Kathie Njaine.