Discutir os desafios para a implementação das ações de saúde mental na Estratégia Saúde da Família (ESF), na perspectiva da desinstitucionalização e territorialização do cuidado, foi o principal objetivo do artigo Saúde Mental e Atenção Básica: território, violência e o desafios das abordagens psicossociais, publicado no primeiro volume de 2017 da Revista Trabalho, Educação e Saúde (volume 15, número 1). Desenvolvido pela mestre em Saúde Pública pela ENSP, Renata Ruiz Calicchio, e pela doutoranda em Saúde Pública da Escola, Renata Veloso Vasconcelos, em parceria com pesquisadores da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e da Secretaria Municipal de Saúde de Duque de Caxias, o artigo aponta que é necessário o debate da inclusão das ações de saúde mental na ESF no Rio de Janeiro, em uma perspectiva da saúde mental na rede pública pensada dentro dos territórios e indissociável das condições de vida nos lugares.
De acordo com os autores o artigo foi baseado na visão de gestores e equipes de saúde da família, levando em consideração o contexto territorial, as formas de identificação das demandas e práticas de acolhimento e o cuidado em saúde mental. “Avaliamos ainda os desafios para a construção de abordagens psicossociais potentes e o cuidado em rede. O campo da pesquisa constituiu-se de dois territórios da cidade (Manguinhos e Complexo do Alemão) com características emblemáticas do contexto urbano do Rio de Janeiro no período estudado (2009 a 2013)”, apontaram.
Para o desenvolvimento do artigo os pesquisadores trabalharam com estratégias de metodologias qualitativas e colaborativas que incluíram entrevistas com gestores, grupos focais com trabalhadores e visitas sistemáticas ao campo. De acordo com eles, os dados coletados apontaram tendências específicas como expansão acelerada da Estratégia Saúde da Família com impactos no processo de trabalho; discurso dos gestores com evidência de abertura para inclusão da saúde mental na Estratégia; narrativas dos trabalhadores explicitando sensação de despreparo e baixa percepção do potencial terapêutico da atenção básica; violência nos territórios causando tensões e ambivalências em relação aos poderes locais; além de associação direta entre saúde mental e cotidiano violento.
Segundo os autores, a pesquisa aponta relações entre os processos de adoecimento e as características dos territórios estudados. Para eles, os processos de ocupação territorial de caráter militar e policial, característicos dos territórios estudados, são processos sociais que evidenciam tensões e contradições, produzindo aquilo que se define como uma militarização do campo social. “Os dados apresentados neste artigo apontaram relações entre saúde mental e as condições de vida em territórios nos quais as equipes se deparam cotidianamente com importantes transformações advindas de intervenções urbanas, ações do Estado para pacificação e deslocamento das populações. Dessa forma, esperamos contribuir para o debate da inclusão das ações de saúde mental na ESF no Rio de Janeiro, em uma perspectiva da saúde mental na rede pública pensada dentro dos territórios e indissociável das condições de vida nos lugares”, concluíram.
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