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sábado, 19 de julho de 2014

2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado

 

“Precisamos ultrapassar o dilema do curto prazo e trazer para a agenda as questões mais estruturais do desenvolvimento”

Para o ex-diretor e sócio do Centro Celso Furtado Antonio Corrêa de Lacerda, a realização sistemática de um congresso internacional representa uma contribuição significativa do Centro para a qualificação do debate sobre a inserção do país num mundo financeirizado

O Congresso Internacional do Centro Celso Furtado agora faz parte do calendário fixo da entidade, é bienal. No seu entender, qual o significado e as implicações dessa decisão?
Antonio Corrêa de Lacerda – É uma iniciativa que se soma a outras que vêm sendo empreendidas pelo Centro Celso Furtado no sentido de qualificar o debate sobre desenvolvimento. A realização sistemática de um congresso que vise articular pensadores e estudiosos que trabalham com o tema no Brasil e no exterior é uma espécie de coroamento desse trabalho. O Brasil vive há muitos anos o dilema do curtíssimo prazo, com as questões de conjuntura dominando a agenda e ocupando um espaço significativo na mídia e se sobrepondo a questões estruturais mais amplas sobre o desenvolvimento. Essas questões são mais complexas, exigem medidas de longo prazo,  exigem mais políticas de Estado do que de governo. Esse quadro vivido pelo Brasil foi brilhantemente tratado pelo próprio Celso Furtado, no seu livro de 1992,Brasil, a construção interrompida. Saímos de uma economia agroexportadora, no início do século passado, nos viabilizamos como uma das maiores economias do mundo, mas vivemos hoje o dilema do curto prazo, com uma deturpação do uso da política cambial, como instrumento de controle de preços, temos pouco espaço para políticas industriais e de desenvolvimento. E não obstante tudo isso, o Brasil logrou êxito, na última década e meia, em melhorar a sua distribuição de renda. Tivemos crescimento do PIB com mais distribuição. E a solidez desse processo passa por mudanças mais voltadas para o desenvolvimento de longo prazo. São questões que fazem parte desse grande debate que precisa ser feito da inserção do Brasil nesse mundo financeirizado, para viabilizar nosso desenvolvimento. Nesse sentido, o Congresso do Centro representa uma contribuição significativa.

Na sua maioria, os integrantes do Congresso são sócios do Centro e amplamente reconhecidos como personagens representativos e marcantes nas suas áreas de atuação. A seu ver, isso também fortalece a qualificação desse debate sobre desenvolvimento?
Lacerda – Com certeza, são pessoas profundamente comprometidas com esse debate e com os rumos do país. Nós temos no Centro Celso Furtado associados do Brasil e na América Latina que têm essa visão de Estado, do papel da política econômica no sentido mais amplo, não das finanças de curto prazo, mas uma visão mais estruturada do desenvolvimento, passando pela discussão da política cambial, da política monetária, do mercado de capitais, o papel do BNDES,o espaço do mercado de trabalho nesse processo, os grandes fatores ligados à viabilização de um investimento mais robusto, questões que precisam ser estudadas a fundo e que encontram no Centro um espaço privilegiado para isso. E o Congresso é uma excelente oportunidade para o debate e a troca entre esses profissionais que têm no seu DNA essa preocupação com a visão de um país soberano, bem sucedido e mais justo e que têm muito a contribuir porque se dedicam no seu dia a dia à análise comparada do desenvolvimento do Brasil versus outros países.

Que análise o senhor faz da escolha do tema deste segundo Congresso – Um novo desenvolvimento para uma nova democracia – e das mesas de discussão neste momento que o país está vivendo?
Lacerda – É com certeza um tema oportuno, porque a liberdade de expressão precisa ser preservada e aprimorada para que todos possam desfrutar do desenvolvimento, mas muitas vezes isso é visto como um espaço, em algumas manifestações, de depredação do patrimônio público e privado, pondo até em risco a integridade física das pessoas, muitas das quais estão lá a trabalho. Nós precisamos criar alternativas para canalizar os anseios da população por melhor qualidade de vida, por melhora no investimento público, na mobilidade urbana, e diversos outros pontos que têm sido pauta de manifestações para, no âmbito democrático, se obter avanços nos vários poderes, não apenas no Executivo, mas também no Legislativo e no Judiciário. Para isso, precisamos cooptar também as entidades representativas da sociedade, os sindicatos, as organizações não-governametais, as universidades, porque existe uma massa de inteligência que precisa ser canalizada para este objetivo maior é aprimorar o nosso desenvolvimento com o aprimoramento da democracia. Nós somos uma democracia ainda bastante jovem, e muitas pessoas ainda têm a ideia falsa de que democracia se restringe ao voto. A nova democracia, a meu ver, pressupõe uma maior interação entre todos os atores sociais, de forma que tenhamos uma co-responsabilidade com a preservação das conquistas das últimas décadas e o avanço no sentido de se aprofundar e estender essas conquistas , promovendo um novo desenvolvimento.

O Congresso do Centro Celso Furtado vai se realizar cerca de um mês depois da reunião de cúpula dos Brics (Brasil,Rússia, Índia, China e África do Sul), que acertou a criação de um Novo Banco de Desenvolvimento e um fundo de reserva, voltados para o socorro financeiro e o investimento nos países emergentes. Qual o papel que o Congresso do Centro pode desempenhar no estreitamento dos laços entre essas nações?
Lacerda – Existe uma agenda comum aos países em desenvolvimento e, particularmente quando se fala dos Brics, há dentre esses países potências que representam papel não apenas econômico mas geopolítico muito importante no cenário internacional, como a China, a Rússia e a própria Índia. A articulação com os intelectuais e pensadores dessas nações é algo muito favorável para o desenvolvimento comparado. Até porque um dos desafios que se apresentam para o Brasil hoje é repensar a nossa inserção internacional de uma forma soberana e mais autônoma. E evidentemente isso passa pela nossa posição na América Latina, pelo relacionamento com os Brics e com o Primeiro Mundo.

Que mensagem o senhor imagina que o Congresso do Centro Celso Furtado pode deixar para o novo governo que será eleito no Brasil e para os representantes dos demais países com agendas semelhantes à nossa?

Lacerda – A grande contribuição que o 2º. Congresso Internacional do Centro  Celso Furtado pode dar é jogar luz sobre as questões estruturais de longo prazo, para além da discussão da conjuntura mais restrita. A maior contribuição será ampliar a discussão de alternativas que se apresentam para o desenvolvimento numa visão de longo prazo, tanto internamente quanto a nível internacional. Porque esse novo quadro, de um desenvolvimento mais sólido, pressupõe um repensar da inserção do Brasil. A inserção internacional, portanto, precisa estar a serviço do desenvolvimento. Precisamos ter sabedoria e pragmatismo para reorientar a nossa inserção no mundo, de forma a amenizar os riscos inerentes ao quadro internacional e a aproveitar melhor as oportunidades que se apresentam.