Finalmente, o futebol está voltando para casa, ao menos era esta a impressão diante da comemoração geral em 2007, quando foi anunciado que a Copa seria realizada no Brasil. Nenhuma outra seleção nacional conquistou tantos títulos como a brasileira e o Brasil é o único país do mundo que participou de todas as Copas. Após o anúncio também houve muita aprovação do exterior, onde a decisão foi recebida positivamente e, por vezes, até considerada justa, pois finalmente a Copa voltou a ser concedida a um país latino-americano e, além disso, os países emergentes também estariam recebendo uma chance. Apesar de alguns duvidarem da capacidade do Brasil de realizar um evento deste porte, o otimismo ainda prevalecia até pouco tempo atrás. O Brasil, sobretudo a cidade do Rio de Janeiro, possuem anos de experiência na organização de megaeventos. Só no réveillon, Copacabana recebe mais de dois milhões de pessoas cada ano e nos últimos anos houve diversos grandes eventos na cidade. Tanto a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20 em 2012, como a Jornada Mundial da Juventude (JMJ) no ano passado continuam sendo considerados um sucesso. Esta avaliação não deixa de surpreender, pois houve vários problemas durante este último evento. Entre outros, contratempos, a missa de encerramento teve de ser transferida para outro bairro por causa de chuvas fortes e alagamentos poucos dias antes, de modo que cerca de três de milhões de peregrinos, todo o sistema de palco e som bem como centenas de banheiros químicos tiveram de acompanhar a mudança. Mesmo assim, em torno de 90 % dos visitantes afirmaram que apesar de tudo realmente gostariam de voltar ao Brasil. Este nível de satisfação diz tudo e o talento de improvisação do povo brasileiro é de fato ímpar no mundo.
Se este talento também será suficiente na Copa deixou de depender apenas das capacidades gerenciais do país ou da cidade. Em junho do ano passado, a população começou pela primeira vez, depois de quase vinte anos, a reivindicar de novo mudanças maiores. E não foi por acaso que a onda de protestos com milhões de pessoas nas ruas de todo o país aconteceu na véspera da Copa das Confederações. O contraste entre os estádios, que consumiram bilhões e mais lembram os padrões de países industrializados, e a situação precária de hospitais e escolas, foi como um estopim para a insatisfação dos cidadãos. Nunca tinha ficado tão óbvio, que na verdade não faltam verbas para as melhorias acontecerem, mas sim políticos capazes e com vontade política de mudar algo.
Naquelas semanas, a polícia de repente não estava mais em confronto com criminosos fortemente armados, e sim diante da própria população. Pode-se dizer que foi um primeiro contato, no qual tanto a polícia como o governo oscilaram entre torpor perplexo e enfrentamente atabalhoado. Em retrospectiva, as manifestações de 2013 talvez até foram uma espécie de ensaio geral para as lideranças do país no sentido de testar se sabem lidar com cidadãos revoltados, assim como a Copa das Confederações foi o teste de fogo no âmbito do esporte.
A Copa do Mundo com certeza será um grande sucesso midiático, pois há muito a relatar. Os novos meios de comunicação também desempenharão um papel enorme. Desde a última Copa, as redes sociais como facebook, twitter não apenas cresceram, mas permitem uma participação diversificada no discurso público de pessoas fora da mídia oficial. Por isso, espera-se no twitter um recorde de mensagens, os assim chamados tweets, durante a final no Maracanã. Uma descentralização da cobertura não impacta apenas a formação da opinião. As novas mídias contribuem para que o discurso e os movimentos da sociedade civil possam assumir uma dinâmica própria. Neste sentido, esta Copa revelará novas experiências no que diz respeito ao uso e às consequências do mundo virtual sobre um mega evento como a Copa do Mundo e no melhor cenário darão uma contribuição ao entendimento dos povos.
Contudo, uma coisa é certa, desde já podemos constatar que o Brasil está passando por um amplo processo de autorreflexão, o qual muito provavelmente não teria acontecido desta forma sem a realização da Copa do Mundo e as variadas dificuldades que vierem na sua esteira. Não importa se, no final das contas, a atribuição da Copa ao Brasil foi acertada ou não. Agora cabe ao país, e em especial ao Rio de Janeiro, usar as experiências para os Jogos Olímpicos em 2016 e para o futuro do país e realmente aproveitar o enorme potencial do país.
Desde então estão sendo travadas discussões acaloradas sobre as numerosas facetas dos pros e contras da realização da Copa do Mundo. Nas matérias a seguir, o leitor encontrará algumas destas opiniões, tratam-se de visões bem variadas sobre a temática. Muitos autores com diferentes perfis e experiências discutiram estas questões nos últimos anos em eventos organizados pela Fundação Konrad Adenauer. Tanto nestas ocasiões como na presente publicação, o objetivo foi um intercâmbio sobre perspectivas diferentes.
A publicação pretende ser um ponto de partida e convida todos a dar continuidade à discussão via facebook e twitter. Assim, temas que eventualmente não foram tratados na publicação podem ser acrescentados, as opiniões dos autores podem ser comentadas e complementadas.
Para participar, envie-nos a sua contribuição com um máximo de 2.000 caracteres (sem espaços) via e-mail para Kathrin.Zeller@ kas.de.
Pedimos a sua compreensão que não poderemos publicar todas as contribuições devido a limitação de recursos.