Durante três dias, cerca de 300 participantes se reuniram no 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado para debater os rumos do desenvolvimento e da democracia
“Num momento em que o Brasil está envolvido num processo eleitoral e imerso numa crise internacional, pensar os rumos da democracia e do desenvolvimento faz parte da reflexão necessária ao país. Sobretudo com os membros do Centro Celso Furtado, que são mais de 200 pessoas qualificadas, oriundas de diversas universidades e áreas do saber. O título do congresso – Um novo desenvolvimento para uma nova democracia –foi extremamente oportuno. A primeira preocupação, portanto, foi dar conta dessa riqueza temática, e a meu ver ela se cumpriu muito bem”.
Assim o sócio e conselheiro do Centro e professor de Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Costa Lima resumiu sua avaliação do 2º Congresso Internacional do Centro Celso Furtado. Realizado de 18 a 20 de agosto, no Centro de Estudos do BNDES, no Rio, o encontro reuniu cerca de 300 participantes para ouvir e debater com 95 palestrantes, distribuídos entre 24 mesas, questões centrais para os rumos do Brasil e do mundo.
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, um dos patronos do Centro Celso Furtado, abriu os trabalhos na manhã de segunda-feira, ao lado da presidente do Conselho Deliberativo e do diretor-presidente do Centro, Rosa Freire d’Aguiar e Roberto Saturnino Braga, respectivamente. A conferência inaugural ficou a cargo do economista colombiano e professor da Universidade de Columbia (EUA) José Antonio Ocampo, que falou sobre o tema central do congresso. O conferencista do segundo dia foi o diretor executivo do Fundo Monetário Internacional, Paulo Nogueira Batista, tratando do novo banco de desenvolvimento e do novo fundo de reserva dos Brics, lançado em julho, no encontro de Fortaleza. E o professor indiano Deepak Nayyar falou sobre globalização e democracia na conferência proferida no terceiro dia do evento.
O 2º Congresso do Centro Celso Furtado foi também marcado pelo lançamento conjunto de 13 publicações recentes de sócios do Centro, além do primeiro livro em português do professor Deepak Nayyar, A corrida pelo crescimento – países em desenvolvimento na economia mundial, fruto de um parceria entre o Centro Celso Furtado e a Editora Contraponto. No encerramento do congresso, foi exibido no auditório o mais novo documentário de José Mariani, Um sonho intenso, sobre o desenvolvimento brasileiro dos anos 1930 aos nossos dias.
Destaques
Marcos Costa Lima destacou da programação as três conferências. “Deepak Nayyar trouxe para discussão um tema que é pouco usual entre os economistas, que é a questão da democracia como um elemento fundamental para o processo de desenvolvimento. Também gostei muito da fala do Paulo Nogueira Batista, que trouxe uma série de elementos para que tenhamos mais clareza sobre o novo banco de desenvolvimento e o fundo de reserva dos Brics, inclusive mostrando como uma instituição como o FMI está encarando esse esforço dos países emergentes de buscar uma nova inserção no cenário internacional. Houve também uma discussão importante sobre a desigualdade crescente no mundo, trazida por José Antonio Ocampo, mostrando como a nossa região soube se sair melhor num momento em que o sistema-mundo está vivendo uma crise de grandes proporções”, disse.
Ainda na sua avaliação, houve no congresso espaço para questões que não têm esse arco internacional, mas que são igualmente importantes, como o federalismo e o desenvolvimento regional. Além de uma outra linha de reflexão trabalhada como a atualização de pensadores brasileiros que contribuíram para o desenvolvimento, como Ignácio Rangel e Rômulo Almeida, sem falar no próprio Celso Furtado, que ganhou uma mesa em sua homenagem, com pontos de vista variados, atualizando sua obra. Outro ponto de destaque para o professor pernambucano foi a presença relevante de estudantes do Brasil todo, gente da Amazônia, do Centro-Oeste, além de um grupo de São Paulo, discutindo direito e subdesenvolvimento, que não é uma reflexão usual.
Como desdobramentos do encontro, ele cita o interesse expresso por diversos estudantes e pesquisadores de investigar assuntos inspirados pelo congresso. “Tivemos, por exemplo, a proposta de formação de uma rede sobre a questão regional, para a qual fui convidado. A ideia surgiu de uma pesquisadora do Rio Grande do Sul e contará, para a sua concretização, com o apoio da Sudene e do Ipea. Esse trabalho do congresso entra numa agenda acadêmica sobre o presente e o futuro do país, inspirada pelas ideias de Celso Furtado de planejamento e de desenvolvimento com maior equanimidade social“, afirmou Costa Lima.
A viúva de Celso Furtado, Rosa Freire d´Aguiar, lamentou algumas restrições de espaço e a impossibilidade de acompanhamento das mesas ao vivo, pela internet, o que limitou o público desta edição. Ela acredita, entretanto, que isso poderá ser parcialmente compensado com a edição virtual dos vídeos das conferências e dos áudios das mesas e com a posterior edição das palestras em publicações do Centro Celso Furtado.
Além da grande participação de estudantes de todo o Brasil, Rosa Freire d’Aguiar destacou a relevância dos debates proporcionados por diversas mesas. Dentre elas, A nova democracia no século XXI, coordenada por Saturnino Braga. “Essa mesa foi extremamente interessante pelas reflexões que trouxe. Tivemos contribuições brilhantes como a do filósofo Alessandro Pinzani e a do sociólogo Gabriel Cohn, que levantaram a questão das redes sociais e do aspecto ou não democrático que implicam, neste momento em que se clama por mais democracia e todos se acham no direito de opinar, ainda que protegidos pelo anonimato. Essa foi a meu ver uma mesa que certamente abriu novos caminhos de reflexão”, afirmou.
“Outra mesa que destaco é a que tratou do financiamento do desenvolvimento, que era a outra ponta do tema do congresso. Ela trouxe à tona uma preocupação importante que é a seguinte: até quando vamos conseguir financiar o desenvolvimento com os problemas que se acumulam na economia do país, como os da desindustrialização, ou os da baixa de investimentos? O que nos remete também a outro tema que é o de como relançar o crescimento do país neste momento de encruzilhada e crise por que passa o mundo”.
Da esquerda para a direita: Afrânio Garcia (Ehess), Marcos Costa Lima (UFPE), Aldo Ferrer (Universidad de Buenos Aires), Rosa Freire d'Aguiar (Centro Celso Furtado) (Coord.), Angelo Oswaldo de Araújo Santos (Instituto Brasileiro de Museus), Carlos Brandão (UFRJ) e Luiz Felipe de Alencastro (Universidade de Paris e FGV-SP).
Foto: Centro Celso Furtado/Carlos Will
Um terceiro destaque do congresso foi, na opinião de Rosa Freire d’Aguiar, a mesa que homenageou o próprio Celso Furtado nos 10 anos de sua morte. “Eu tinha certo receio dessa mesa porque reuni seis pessoas – sete comigo –, e não queria que ela tivesse um teor muito acadêmico. Todos compreenderam isso e falaram de forma mais descontraída trazendo um aspecto da personalidade e da obra de Celso. Creio que assim a mesa cumpriu seu objetivo de, sobretudo para as gerações mais jovens, apresentar um esboço de quem foi Celso Furtado e de sua importância para o pensamento brasileiro. Essa mesa despertou interesses específicos de jovens que, ao final, vieram me procurar para me dizer que não sabiam que eu tinha publicado certos livros sobre ele, como por exemplo aqueles em que reuni suas contribuições para a cultura e para o planejamento, e que estavam decididos a estudar esses aspectos menos iluminados da obra de Celso. É o que me move.”
Por fim, Rosa Freire d’Aguiar avalia que o 2º Congresso trouxe novas pistas de discussão sobre os rumos da democracia e do desenvolvimento num momento de debate eleitoral em torno da desconcentração de renda e inclusão de um grande contingente de brasileiros, mas que agora querem também ver garantidos seus direitos de moradia, de saúde, de educação, de qualidade de vida. “Com isso, o congresso cumpriu o papel que se propôs a desempenhar”, finalizou.
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