CONFLITOS NO ORIENTE MÉDIO EM DISCUSSÃO NO CAFÉ CONTROVERSO ISRAEL E PALESTINA: DESAFIOS PARA A PAZ
Os conflitos do Oriente Médio têm sido destaque na imprensa mundial, com foco principalmente nas questões que envolvem Israel e Palestina. Os embates se desenrolam há décadas, apesar das diversas negociações e tentativas de conciliação. Fruto de realidades complexas e heterogêneas, as guerras na região mobilizam a opinião pública, trazendo à tona opiniões diversas. Quais as razões por trás dos conflitos? E quais são as possibilidades reais de coexistência pacífica entre estes povos? Essas perguntas estão presentes no Café Controverso do próximo sábado, com o tema Israel e Palestina: desafios para a paz. O debate conta com as participações do professor do Departamento de Ciência Política da UFMG Dawisson Belém Lopes, do mestre em Relações Internacionais Wiliander França Salomão e do advogado e doutor em direito pela UFMG Igor Pantuzza Wildmann. O evento é gratuito e acontece a partir das 11h, na cafeteria do Espaço do Conhecimento UFMG.
“Ler uma notícia a respeito é diferente de estar na região e ver de perto o quão complexa é a relação entre Palestina e Israel”, comenta o professor Wiliander França Salomão, que atualmente escreve um livro sobre o conflito e seus desdobramentos. Ele explica que não é possível compreender todo o problema a partir de esquematizações simplistas, uma vez que são várias as razões que suscitaram os atuais acontecimentos.
Criado em 1948, através de uma convenção das Nações Unidas realizada meses antes e presidida pelo brasileiro Osvaldo Aranha, o estado israelense foi motivo de conflitos com povos árabes que também habitavam a região. “Israel é cercado de inimigos por todos os lados. Com a exceção do Egito e da Cisjordânia, que assinaram o tratado de paz, os demais povos árabes não o reconhecem como um estado soberano. Como os judeus já vivenciaram uma tentativa de extermínio em massa, através do Holocausto, eles têm isso muito vivo em seu imaginário”, contextualiza.
Territórios ocupados e negociações para a criação do estado palestino
De acordo com Wiliander França, a ocupação dos territórios de Gaza e da Cisjordânia pelo exército israelense ocorreu em 1967 como medida preventiva, uma vez que Israel estava ameaçado de invasão. “Israel devolveria os territórios ocupados, tanto de Gaza, quanto da Cisjordânia, mediante a assinatura de tratados de paz. Essa medida piorou muito a situação de Israel, que nunca pôde abandonar a região e colocou milhares de pessoas sob controle militar, gerando protestos internacionais e reações que perduram até hoje. Em 1987 aconteceu a primeira revolta popular contra a ocupação de Israel, o que deu origem ao grupo conhecido como Hamas, hoje um dos principais inimigos de Israel”, explica.
Para o professor, as medidas tomadas por Israel contribuíram muito para o enfraquecimento do país diante da opinião pública; ele cita como exemplos o bloqueio à Gaza e a criação do muro – hoje um dos principais alvos de críticas por parte da comunidade internacional –, além dos relatos que acusam os soldados de violarem direitos humanos nas áreas controladas.
O advogado e doutor em Direito Igor Wildmann rebate as críticas que acusam Israel de ser um país “opressor e imperialista” e enfatiza que 85% dos judeus são a favor da criação de um estado palestino. Segundo ele, elementos culturais, como motivações religiosas, precisam ser considerados, citando como exemplo a guerra jihadista. “A agenda jihadista prega a destruição do estado de Israel, e isso é colocado muito antes da chamada ocupação. Falta a percepção de quem é o outro, e nem sempre a negociação é algo possível quando os objetivos não são compartilhados. A visão que é colocada para o público é muito maniqueísta. É importante lembrar que em Israel vivem um milhão e duzentos mil árabes, vinte por cento da população, tendo lá o direito de votar, ser eleitos, frequentando universidades, sendo Deputados e Ministros da Suprema Corte. Rotulações como ‘apartheid, imperialista, nazi-sionista etc.’, além de serem inverídicas, tiram a racionalidade e impedem a compreensão do problema”, explica.
Wildmann chama atenção para o fato de que Israel, assim como outras sociedades, é multifacetada, e há, portanto, uma pluralidade de pensamentos e opiniões dentro do próprio país. “Existe sim, em muitos casos e em muitas cidades em Israel, um ambiente de tolerância entre árabes e judeus, o que é surpreendente para quem chega de fora. Os pensamentos são os mais variados. Há judeus que defendem a extinção do estado de Israel, e palestinos que vivem em Israel que são contrários à criação de um estado palestino”, diz.
Preocupado com a intolerância, Igor Wildmann alerta para o perigo do que ele chama de cultura de ódio. “Quando usamos o discurso do ódio travestido de uma retórica humanista estamos indo contra os princípios em que acreditamos. Não podemos reforçar preconceitos contra qualquer povo”, conclui.
O posicionamento do Brasil
O professor Dawisson Belém Lopes, do Departamento de Ciência Política da UFMG, fala sobre o papel do brasileiro ao longo da história de Israel e do posicionamento político do país diante da questão da Palestina.
“Já é conhecida a atuação no Brasil na criação do estado israelense, em 1947. No entanto, a partir dos anos 70, o país passa a apoiar mais a causa palestina, e isso se acentuou nos últimos 12 anos, com declarações explícitas e campanhas ostensivas que defendem, no cenário internacional, a criação e a legitimação de um estado palestino”, conta. Em relação à recente “crise diplomática” entre os dois países, Belém Lopes avalia que a reação de Israel não resultou de um fato isolado.
“Como o crescente apoio do Brasil à causa palestina já incomodava Israel, a repreensão pública aos acontecimentos em Gaza foi apenas o estopim que levou à declaração do porta-voz do Ministério das Relações Exteriores Yigal Palmor”, diz, referindo-se ao episódio em que Palmor chamou o Brasil de “anão diplomático”.
Café Controverso
O conhecimento raramente passa pelo consenso e sua construção se faz, sempre, pelo diálogo. Nos Cafés Controversos, os temas são amplos e diversificados, e não se detêm aos tratados no interior do Espaço do Conhecimento: abordam diferentes setores da cultura, das artes e da ciência. Um espaço de debate e troca de ideias e perspectivas.
O Espaço do Conhecimento UFMG estimula a construção de um olhar crítico acerca da produção de saberes através da utilização de recursos museais. Sua programação diversificada inclui exposições, cursos, oficinas e debates. Integrante do Circuito Cultural Praça da Liberdade, o Espaço do Conhecimento é fruto da parceria entre a operadora TIM e a UFMG e conta com o apoio da Rede de Museus e Espaços de Ciências e Cultura da UFMG.
Serviço:
Café Controverso: Israel e Palestina: desafios para a paz
Data: 30 de agosto, 11h
Local: Espaço do Conhecimento UFMG - Praça da Liberdade, 700
Entrada franca
Mais informações: www.espacodoconhecimento.org. br
Informações para a Imprensa: (31) 3409-8366