Com o intuito de analisar os avanços, os principais problemas e traçar uma agenda de prioridades na área de medicamentos três décadas após a Conferência Mundial Sobre Uso Racional de Medicamentos, a Conferência de Nairóbi (1985), The Lancetorganizou uma comissão de 19 especialistas de diferentes partes do mundo, o The Lancet Commission on Essential Medicines Policies. O grupo tem como única participante até o momentoda América Latina a pesquisadora do Núcleo de Assistência Farmacêutica da Escola Nacional de Saúde Pública (NAF/ENSP/Fiocruz) - Centro Colaborador da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde em Políticas Farmacêuticas -, Vera Lúcia Luiza. O trabalho resultará em uma série especial sobre medicamentos do Lancet.
Dentro do escopo de trabalho da comissão estão a formulação de recomendações para políticas de medicamentos essenciais globais para as próximas duas décadas, e ainda, a necessidade de ampliar políticas para atingir as metas de saúde global e de desenvolvimento sustentável, especialmente a cobertura universal de saúde.
“A Comissão produzirá um relatório com evidências sobre temas atuais, buscando antecipar a evolução das políticas de medicamentos essenciais globais e fazendo recomendações baseadas em evidências para melhorar essas políticas”, disse a representante brasileira na comissão, que também destacou a documentação dos principais avanços e problemas ao logo dos 30 anos da agenda Pós-Nairóbi, cujo documento é um dos mais citados na área da política de medicamentos.
Contudo, na opinião de Vera Lucia Luiza, que esteve reunida em Londres, de 9 a 11 de março, durante o primeiro encontro presencial entre os comissários, técnicos e editores para discutir o escopo do relatório, identificar as principais realizações e desafios na área, além de traçar recomendações futuras, há uma pequena representatividade dos países de média/baixa renda na delegação.
“Países de baixa e média renda, que são um dos principais alvos e sujeitos dessa discussão, têm um número insuficiente de representantes na comitiva. Há um risco de a produção desses países nãos ser capturada por dificuldades de diferentes ordens como a barreira linguística, a não captação da produção cientifica nos filtros de evidência de qualidade ou nas buscas, além do método empregado ou até mesmo a qualidade dos estudos. Por outro lado, isso nos impõe um grande desafio, que é o de ampliar as discussões e fazer com que esses países absorvam o conteúdo daquilo que será apresentado.
Sobre esse último aspecto, Vera informa que a ideia da comissão é promover mecanismos de escuta e pensar em outras ferramentas de discussão nas Américas. “Queremos possibilitar a captura de vozes para não sermos olhados apenas por uma lente externa”, alertou.