Em um clima de esperança, os integrantes do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana da ENSP (Cesteh) se reuniram - na tarde do dia 24/6 -, para rememorarem conquistas e traçarem planos futuros. Passados 30 anos de muito trabalho, a palavra de ordem para a nova década é integração. De acordo com o pesquisador Josino Costa Moreira, o individualismo precisa ser superado. Ele destacou ainda a falta de projetos institucionais, que envolvam a todos em um objetivo uníssono. O vice-diretor de Ambulatórios e Laboratórios da ENSP, Marcos Menezes, lembrou o quanto já se avançou e ressaltou a importância institucional da Escola para a saúde pública brasileira: “A ENSP exerce papel central no constante aperfeiçoamento do SUS, qualificando e ampliando o acesso da população aos serviços e insumos de saúde, resultantes da interação estratégica das atividades de ensino, pesquisa, atenção em saúde e desenvolvimento de tecnologias-, e que, há três décadas, também contam com o protagonismo do Cesteh em sua área de atuação”, disse ele.
A Roda de Conversa Integração dos serviços com o ensino e pesquisa no Cesteh: trajetória e desafios, que faz parte de uma série de encontros realizados em homenagem aos 30 anos do Centro, deu oportunidade aos seus integrantes de exporem uma sucessão de ideias, memórias, pontos de vista, desabafos, propostas, planos e intenções. Este foi o segundo encontro de uma série de seis. Na ocasião, Marco Menezes ressaltou a importância da iniciativa e destacou a relevância do tema tratado. Segundo ele, “é preciso discutir propostas para a integração das atividades desenvolvidas no ambulatório e laboratório do Cesteh, tendo o ensino e a pesquisa como articuladores das ações”.
O pesquisador Antônio Sergio Almeida Fonseca lembrou que, quando o Cesteh foi criado, seu foco eram os trabalhadores da Fiocruz. “Até então a instituição não cuidava das questões legais de seus próprios empregados, entre elas a insalubridade. As ações no campo da saúde do trabalhador na Fundação começaram no Cesteh. Iniciamos um levantamento das condições de trabalho, sociais e de saúde dos nossos trabalhadores, no entanto, em um dado momento, houve pressão para que o serviço que formamos – na época chamado Fiosast, cujo coordenador era Jorge Machado -, não estivesse ligado à nenhuma unidade. Considero essa uma relevante perda, além do significado muito grande que isso teve para o início dos conflitos, pois significou a perda do nosso objeto, que era o trabalhador da Fiocruz. Toda a nossa estruturação foi desenhada em cima disso e acredito que esse problema reverbera até hoje”, lamentou.
Sobre as divergências, Antônio Sergio comentou que tê-las é natural, principalmente quando existe uma convivência praticamente familiar. “A maioria dos funcionários está aqui há pelo menos 10 anos. O desgaste é natural, mas precisamos ter sempre em mente o nosso foco, que é o trabalho. Hoje, o momento é passível de mudanças. Nunca estivemos tão maduros. O presente pode e deve ser diferente do passado”, afirmou, entusiasmado.
Somos Cesteh, somos um só
Para o pesquisador Josino Costa Moreira, que também integra o Cesteh há mais de 20 anos, o individualismo é a principal causa das discordâncias que sempre aconteceram no Centro. Segundo ele, cada indivíduo ‘criou’ uma ideia de Cesteh em sua cabeça. “Somos Cesteh e somos um só. Todos devemos trabalhar em prol do mesmo objetivo. Nosso serviço apresenta grande complexidade e essa nossa característica nos exige interação”, disse Josino, afirmando que no Centro faltam projetos institucionais. Entristecido, ele lembrou que o Cesteh já foi protagonista da discussão da Saúde do Trabalhador do país. Porém, hoje, não tem contribuído de forma tão ativa com a saúde pública brasileira, apesar de ter capacidade para fazer quase tudo.
Seguindo a linha das memórias, a pesquisadora Fátima Pivetta lembrou que, desde a sua criação, o Cesteh teve papel de protagonista na história da saúde do trabalhador. “Em 1986, coordenamos a I Conferência Nacional sobre o tema. “Ninguém sabia bem o que era essa área e muito menos conhecíamos a vigilância em saúde do trabalhador. Aprendemos fazendo”, disse ela, concordando ainda com a necessidade da realização de projetos integradores e do engajamento dos profissionais, apresentada por Josino.
O pesquisador Luiz Cláudio Meirelles acredita que os integrantes do Cesteh devem ter foco nas vitórias que, segundo ele, foram muitas. “Atualmente, o Cesteh perdeu seu protagonismo nacional, no entanto, temos aptidão para retomar as rédeas da situação e mudar o curso da história, pois a nossa vida é de êxito. A pesquisadora Kátia Reis, também confiante nas possibilidades futuras, lembrou que uma nova geração está chegando ao Cesteh. “Ainda vemos competição e individualismo, mas precisamos quebrar essa lógica. Vivemos novos tempos de confluência e possibilidades de participação e conseguiremos recuperar o nosso protagonismo, pois trabalhamos com profissionais de excelência. Temos que nos voltar para o projeto Cesteh e precisamos de uma governança para que isso aconteça”, disse Kátia.
Cesteh precisa construir projetos coletivos e integrados
O atual vice-diretor de Escola de Governo da ENSP, que, originalmente, é pesquisador da Cesteh, Frederico Peres da Costa, falou sobre a importância das ações coletivas e conjuntas. “O fazer implica em concessões, em abrir mão, ceder. Só assim é possível trabalharmos em um projeto comum, que é o Cesteh”, disse Frederico. Ele destacou ainda a atuação de Antônio Sergio e Josino na história da saúde do trabalhador e a crença que os dois alimentam sobre um futuro de muitas vitórias e conquistas para o Centro. “É contagiante ver estes dois homens, com mais de 30 anos de experiência, acreditarem como meninos na retomada de uma história de sucesso”, disse o vice-diretor, encantado.
Augusto Pina, Maria Blandina Marques dos Santos e Francisco Pedra pactuam da mesma opinião. Para eles, é preciso lembrar das conquistas, reconhecer a construção do outro e tentar avançar. “Não podemos perder de vista o ideário do Cesteh e lembrar sempre a quem devemos responder, que é a sociedade civil, muito mais do que a qualquer ministério, órgão regulador ou critérios de produtividade”, ressaltou Pina.
Ariane Larentis falou sobre a dificuldade interna de integração e o não compartilhamento e conhecimento das pesquisas que são desenvolvidas dentro do Centro por toda a equipe. Fernanda Baptista e Thais Vieira Esteves, que são funcionárias recentes do Cesteh, partilham desta ideia. Ambas sentem necessidade de maior integração, talvez com a construção de fóruns coletivos e espaços de discussão, por exemplo. “Isso seria interessante e construtivo para nós, assim como a roda de conversa tem ajudado nessa integração”, disse Fernanda.
Encerrando o encontro, Antônio Sergio reforçou a necessidade da efetivação de ações de integração. “Vamos traças os próximos passos tendo como foco um colegiado de ensino e pesquisa. Se não partirmos para a ação continuaremos descolados, trabalhando de forma unitária. Temos que efetivar projetos de integração”, disse ele. Marcos Meneses reforçou que a integração das atividades desenvolvidas nos ambulatórios e laboratórios, não só no Cesteh, mas na ENSP como um todo, é um desafio. “Temos como meta a solidificação da política da qualidade e a estruturação de processos de trabalho que privilegiem espaços e técnicas multiusuárias. Nossas experiências recentes de projetos integradores, como o do benzeno, por exemplo, demonstram que é possível, aprendendo com as experiências anteriores, avançar nesse processo”, concluiu o vice de Ambulatórios e Laboratórios da ENSP.