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quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Políticas públicas devem ser desenvolvidas de forma intersetorial

Combater a violência é extremamente complicado por causa de sua multicausalidade. Ela nunca vem sozinha. Portanto, se faz necessário um diagnóstico situacional para conhecermos os territórios e desenharmos ações plurais, que englobem também saúde, educação, cultura e muitos outros, porém que sejam ainda focadas em grupos prioritários”, disse a pesquisadora do Departamento de Estudos de Violência e Saúde Jorge Careli (Claves/ENSP) Patrícia Constantino durante a segunda mesa do Seminário Saúde e Segurança Pública: Os desafios nos territórios vulnerabilizados. Além de Patrícia, o debate da parte da tarde contou ainda com as palestras do diretor da Escola Politécnica em Saúde Joaquim Venâncio, Paulo César Ribeiro, e do deputado estadual pelo PSOL, Flávio Serafini. 
 
Segundo Patrícia, a violência faz parte da sociedade e é considerada uma construção sócio-histórica. “Se é uma construção, pode ser desconstruída”, afirmou ela, dizendo ainda que apesar de ter maior incidência entre pessoas e territórios vulnerabilizados, a violência é democrática, pois acontece em todas as esferas da sociedade. A pesquisadora destacou ainda a importância deste tipo de encontro. Para ela, certos debates e exposições nos tiram da nossa zona de conforto, pois há um hiato entre quem pensa as políticas de combate e prevenção à violência e quem as vivencia.
 
Ela ressaltou também que políticas de controle da violência somente não resolvem e muitas vezes agravam o problema. “O ideal é trabalhar em rede, em um espaço de parcerias e cooperações. Caso contrário, estaremos fadados ao fracasso”, alertou Patrícia. Já o diretor da EPSJV, Paulo César, comentou que as lacunas deixadas por políticas públicas disfuncionais ou descontinuadas, em especial em regiões vulnerabilizadas, não são ocasionais. “Elas não são frutos do acaso ou descaso, mas sim de um modelo político e econômico que preza e precisa da vulnerabilidade social de grupos imensos da população”, disse ele, ponderando ainda que “É preciso pensar que a violência está relacionada também com falta de condições básicas de vida: saneamento, educação, saúde pública, transporte público, e outros”.
 
Paulo César analisou a formação acadêmica dos médicos. “O atual modelo os prepara prioritariamente para a saúde privada, e esse direcionamento é insuficiente para os que vão trabalhar na atenção básica, no sistema de saúde pública. “Precisamos de outros modelos de formação, para que esses profissionais sejam capazes de observar os possíveis impactos que a violência do ambiente em que vivem causam nessas pessoas”.  Sobre as políticas serem desenvolvidas de forma setorizada, Paulo César afirmou que, na prática, o que sabemos é que a política de segurança pública, por exemplo, animaliza pessoas e territórios. “Precisamos entrar unidos no territórios e propor políticas de fato que mudem a realidade”. 
 
Para encerrar a segunda mesa, o deputado Flávio Serafini, que já foi professor da EPSJV/Fiocruz lembrou o passado de violência que marcou a colonização, e o grande período escravocrata que a nação viveu. “Vivemos uma desigualdade extremamente brutal, uma violência que historicamente fez parte desse modelo de dominação. A gente coleciona taxas de homícidios de 50 mil por ano e taxas de violência policial que também alcança o marco de 10 mil por ano”, assinalou. Flávio disse ainda que dentro da realidade brasileira, não se pode pensar na saúde de forma setorizada. Segurança pública e saúde são questão fundamentais e que devem andar juntas, mas são pouco exploradas. A promoção da saúde e a garantia de direitos devem ser melhores exploradas nos territórios vulnerabilizado”, afirmou ele.
 
* Isabela Schincariol - jornalista da Coordenação de Comunicação Institucional da ENSP/Fiocruz
* Luiza Gomes - Comunicação da Cooperação Social da Fiocruz