Temas como relações de gênero, feminismo, machismo, moda, androgenia, obsessão pelas aparências e fragmentação social, entre outros, apesar de remeterem à atualidade, eram abordados por cartunistas em diversas revistas dos anos 1920, década marcada por provocações e enfrentamentos sociais inéditos. Em “Belmonte: caricaturas dos anos 1920”, Marissa Gorberg analisa a obra do cartunista e aponta as possíveis conexões entre traços biográficos e sua produção artística. Publicado pela FGV Editora, o livro será lançado no próximo dia 28 de novembro pela autora na Livraria da Travessa do Leblon (Av. Afrânio de Melo Franco, 290. Leblon, Rio de Janeiro).
Após a I Guerra Mundial (1914-1918), o período convencionado como belle époque (1898-1914) ficara para trás, e os anos 1920 despontavam com provocações e enfrentamentos inéditos. A imprensa periódica se afirmava como lugar privilegiado de construção de um mundo em ebulição. Nesta obra, publicada em comemoração ao centenário dessas produções dos loucos anos 1920, a autora situa Belmonte no espaço do movimento modernista e identifica o personagem como um “fotógrafo” do cotidiano que, com seu olhar crítico, distorce, acentua traços com o intuito de fazer ver, de possibilitar alguma identificação e, principalmente através da ironia, assumir uma posição crítica.
Seus personagens e assuntos emergiam do cotidiano, exibindo e criticando comportamentos de forma leve e clara, com poder de síntese, capazes de alcançar o leitor comum que conseguia identificar em sua vida situações similares. Até por isso, crônicas e caricaturas demoraram muito a ser aceitas e valorizadas no mundo acadêmico, o que já não ocorre mais.
A análise da produção de um artista intelectual paulistano no Rio de Janeiro também exigiu da autora uma leitura mais focada na então capital da República e todas as mudanças ocorridas na cidade naquele período, já que tratava do cotidiano de uma metrópole cosmopolita, ou que se pensava como tal, em estilo de vida, modos e costumes de sua elite.
Nesta obra, os retratos oferecidos por Belmonte podem ajudar a esclarecer muitos aspectos da história social brasileira, flagrados pelo filtro da perplexidade que colocava em questão certas práticas e acontecimentos da época.
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