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quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Artigos: TESES DE PIERRE BOURDIEU



I – INTRODUÇÃO
Pierre Bourdieu, Sociólogo francês nascido no ano de 1930, na vila de Denguin, Distrito de Pyrénees, falecido em janeiro de 2002, em Paris, catedrático de sociologia no Colège de France, exerceu grande influência no ramo da sociologia em todo o mundo. Conhecido pelo seu rigor intelectual, destacou em seus estudos as relações sociais e as diversas formas de dominação existente nelas.
  Segundo Pierre Bourdieu, os atores sociais interagem por meio de jogos, sem normas explícitas, nos quais as pessoas fazem suas escolhas de vida influenciadas pelo seu habitus, ou seja, no caminho percorrido para o alcance de seus objetivos o indivíduo é dominado pela situação econômica, política, cultural e social onde atua. Nem sempre a escolha é a mais adequada do ponto de vista individual, porém, se analisada no âmbito do seguimento social de onde se origina, essa lhe trará maior proveito dentro do grupo. 
Sob a égide dessas idéias, Bourdieu, apresenta uma de suas teses qual seja, a do poder simbólico, uma vez que, aparentemente o ator social pode escolher livremente a ação a ser tomada, porém, ele tende a optar por aquilo que será mais apreciado do ponto de vista do contexto onde se situa o processo de sua existência.      
Ainda, acerca da formação da identidade individual, o sociólogo demonstra que origina do habitus os elementos para a formação do capital cultural, capital social, capital econômico e que, também, daí se surgem as desigualdades para o desenvolvimento do indivíduo, uma vez que as oportunidades oferecidas nesses campos não são igualitárias, obrigando os atores sociais a utilizarem diferentes estratégias na condução de seu “jogo”. 
Para Bourdieu, o sistema educacional contribui para a existência das desigualdades quando, no processo de seleção escolar, marginaliza aqueles pertencentes as classes populares e, ainda, reforça as desigualdades entre os gêneros quando conduz as ações e os comportamentos mais adequados ao ser feminino e o ser masculino.           
Pierre Bourdieu trata especificamente da dominação do masculino sobre o feminino em sua obra “A dominação Masculina” (1998), onde demonstra que o fato está presente no processo evolutivo histórico do ser humano. Para o autor, a dominação do homem sobre a mulher é exercida por meio de uma violência simbólica, compartilhada inconscientemente entre dominador e dominado, determinado pelos esquemas práticos do habitus, conforme explicitado no trecho transcrito a seguir:
[...] O efeito da dominação simbólica (seja ela de etnia, de gênero, de cultura, de língua etc) se exerce não na lógica pura das consciências cognoscentes, mas através dos esquemas de percepção, de avaliação e de ação que são constitutivos dos ‘habitus’ e que fundamentam, aquém das decisões da consciência e dos controles da vontade, uma relação de conhecimento profundamente obscura a ela mesma. Assim a lógica paradoxal da dominação masculina e da submissão feminina, que se pode dizer ser, ao mesmo tempo e sem contradição, espontânea e extorquida, só pode ser compreendida se nos mantivermos atentos aos efeitos duradouros que a ordem social exerce sobre as mulheres (e os homens), ou seja, às disposições espontaneamente harmonizadas com esta ordem que as impõem.  [...] (Bourdieu, 2002, p. 49/50).
Ainda no contexto da obra “A dominação Masculina” Bourdieu, discorre sobre a utilização das trocas simbólicas nas relações:
[...] É na lógica da economia das trocas simbólicas – e, mais, precisamente, na construção social das relações de parentesco e do casamento, em que se determina às mulheres seu estatuto social de objetos de troca, definidos segundo os interesses masculinos, e destinados assim a contribuir para a reprodução do capital simbólico dos homens -, que reside a explicação do primado concedido à masculinidade nas taxinomias culturais. O tabu do incesto, em que Lévi-Strauss vê o ato fundador da sociedade, na medida em que implica o imperativo de troca compreendido como igual comunicação entre os homens, é correlativo da instituição da violência pela qual as mulheres são negadas como sujeitos da troca e da aliança que se instauram através delas, mas reduzindo-as à condição de objetos, ou melhor, de instrumentos simbólicos da política masculina: destinadas a circular como signos fiduciários e a instituir assim relações entre os homens, elas ficam reduzidas à condição de instrumentos de produção ou de reprodução do capital simbólico e social. [...]
Pierre Bourdieu descreve a violência simbólica como um ato sutil, que oculta relações de poder que alcançam não apenas as relações entre os gêneros, mas, toda a estrutura social.          
Nesse aspecto o autor desenvolveu, em seus mais recentes trabalhos, análise sobre os meios de comunicação, especialmente da televisão, falando sobre a mercantilização generalizada da cultura e demonstrando sua responsabilidade na perpetuação da ordem simbólica, comprovando que aqueles que dela participam são tão manipulados quanto manipuladores. Mostra também que a televisão exerce uma das formas mais nocivas de violência simbólica, pois, conta com a cumplicidade silenciosa dos que a recebem e dos que a praticam.
 Em entrevista publicada na Folha de São de Paulo de 07 de fevereiro de 1999, Pierre Bourdieu discorre acerca das idéias lançadas em sua obra “Sobre a Televisão” (1997):
[...] A análise critica do papel da televisão é um elemento capital da luta contra a imposição da visão dominante do mundo social e do seu devir. O mais importante consiste na influência que a televisão exerce sobre a totalidade do jornalismo e através dele, sobre o conjunto da produção cultural. A lógica do comércio, simbolizada pelos índices de audiência, do sucesso comercial, da venda e do marketing, como meio específico para atingir esses fins puramente temporais, impôs-se em primeiro lugar ao campo filosófico, com os “novos filósofos”, e ao campo literário com os grandes best sellers internacionais e o que Pascale Casanova chamou de world fiction, ou seja, em especial os romances acadêmicos à David Lodge ou Umberto Eco; mas ela atingiu também o campo jurídico; com os processos sensacionalistas arbitrados pela mídia, e no próprio campo científico, com a intrusão da notoriedade jornalística na avaliação dos cientistas e das suas obras. [...]
III – CONCLUSÃO
As teses desenvolvidas por Pierre Bourdieu, remetem à reflexão sobre a ordem constituída e aceita por todos como legítima e conclama os grupos sociais à mobilização no sentido de buscarem o reconhecimento dos mecanismos que levam a aceitação do domínio do outro sobre o outro e, promover a ruptura do círculo vicioso que perpetuam a aceitação das diferenças como algo natural, sejam elas, sociais, econômicas, políticas ou de gêneros.

BIBLIOGRAFIA
BOURDIEU, Pierre. A dominação Masculina. Trad. Maria Helena Kühner. Rio de Janeiro 2º ed. Bertrand Brasil. 2002. 
REVISTA FAMECOS. Porto Alegre. n. 10, jan/jun. 1999. Semestral.
A jornalista Cláudia R. do Carmo, mestranda do Programa de Pós Graduação em Comunicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, comenta  a crítica do autor sobre o domínio da televisão:
[...] A crítica elementar feita à televisão, segundo Bourdieu (1197), tende a ocultar os mecanismos anônimos, invisíveis, através dos quais se exercem censuras de toda ordem, o que faz, da televisão, um formidável instrumento de manutenção da ordem simbólica. Quanto mais se avança na análise deste meio, melhor é possível compreender, na opinião do autor, que aqueles que dela participam são tão manipulados quanto manipuladores. Manipulam tanto melhor, quanto mais manipulados são eles próprios e mais inconscientes de sê-lo. O autor propõe para a análise da televisão, que se desmonte uma série de mecanismos que permitem que ela exerça uma forma particularmente perniciosa  de violência simbólica, ou seja a violência que se exerce com a cumplicidade tácita dos que a sofrem e também dos que a exercem.