Com curadoria de Marta Mestre, “Zurriburi, sujeito à toa” reúne obras e curiosas instalações concebidas pelo artista alemão e pela carioca, combinando música, elementos vegetais e suportes variados
Andar sem destino definido, a vagar, e assim se pôr a devaneios. A partir de divagações sobre a expressão “sujeito à toa”, os artistas Anton Steenbock e Gabriela Gusmão se reuniram para expor “ZURRIBURI, sujeito à toa”, com curadoria de Marta Mestre, a partir do dia 05 de dezembro, no Largo das Artes, no Centro, atelier de ambos. O termo “zurriburi”, cunhado de um conto de Jorge Luis Borges, é a tradução livre da dupla para a pessoa que está sujeita a andar à toa, em estado de devaneio em meio à multidão ou em paisagens idílicas, podendo, assim, esbarrar numa boa idéia ou melodia. Dentro deste território poético, o alemão morador do Rio e a carioca residente em Friburgo se serviram de diferentes suportes, inclusive de elementos naturais, para produzir as obras e instalações que compõem a exposição, curada por Marta Mestre, portuguesa radicada no Rio de Janeiro que completa a tríade multicultural da mostra.
A curiosíssima instalação “Doze doses para Arnold” (2013), de Anton Steenbock, propõe ao espectador uma inventividade musical inspirada no sagrado e no profano. A partir de um engenhoso sistema que liga, através de fios, doze garrafas de cachaça a dois para-brisas fincados em um púlpito em cima de um tapete vermelho – lembrando uma missa - , busca-se a composição de um som atonal de doze notas geradas do toque de cada garrafa com seu respectivo copo, cada qual com diferentes doses de cachaça. As garrafas se movem com o movimento natural dos para-brisas. O título da instalação é uma referência a Arnold Schoenberg, compositor e inventor do Dodecafonismo. A atonalidade também é tema de outra instalação, “Música atonal” (2013), na qual uma vela de 30 dias está acesa dentro de uma bandeja de alumínio com gasolina derramada. Já em “Beethoven em 7 dias” (2013), encontramos um desenho a partir de outra engenharia criada pelo artista para compor música através de pesos ligados a uma vela de 7 dias sobre um teclado de notas musicais.
Criada em colaboração com o músico Alexandre Brasil, a peça sonora “Silêncio de um sujeito à toa”, composição para voz, baixo acústico, vassoura, água e assovio, é o ponto de partida de Gabriela Gusmão para a criação in situ de “Monoclorofilótipo para o silêncio de um sujeito à toa”, na qual se serve de prensa de gravura para formar uma partitura correspondente à melodia, porém extraindo o pigmento natural de elementos vegetais como cipós e folhas, técnica desenvolvida pela artista em sua residência em Veneza, em 2012 A música também é tema de sua terceira obra, a pequena escultura “Composição: Lá”, onde um esqueleto de cigarra jaz sobre um diapasão, cuja afinação emite a nota musical “lá”, a mesma do canto da cigarra.
“É muito feliz que este encontro entre uma brasileira que vive com o mundo e um alemão que se achou aqui tivesse sido, para mim portuguesa no fluxo, uma tarefa de tradução sujeita à toa.”, afirma Marta Mestre. “Aquilo que os une não são as idéias comuns, nem os temas ou pesquisas que se dedicam, mas o fato de cada um encontrar no outro num devir único que não é comum aos dois, mas os afeta e os perturba, e que se dá sob a forma de um encontro”, complementa.
O Largo das Artes é um espaço de arte contemporânea no Centro do Rio de Janeiro com ateliês, um programa internacional de residências, uma galeria que acolhe exposições propostas por curadores convidados e uma agenda de eventos com wokshops, projeções e grupos de estudo.
Anton Steenbock
Nascido em Frankfurt, Alemanha, em 1984, Anton Steenbock vive e trabalha no Rio de Janeiro, onde fez o Curso de Aprofundamento no Parque Lage (EAV). Com mestrado em Belas Artes em 2011/2012 em Berlin (UDK), foi aluno de Lothar Baumgarten. Em 2013, realizou individual na Galeria Pilar, em São Paulo, e participou de importantes coletivas, como "Play", (Museu do Bispo de Rosário de Arte Contemporânea, Rio de Janeiro), "Becoming", de Ai Weiwei e "Unaccustomed", de Mark Fox (Galeria Pilar, São Paulo), "Wüste ,Heimat, Herberge", (Kunstverein, Aschersleben), "Sete" (Casamata, Rio de Janeiro), "Deus não Surfa", curadoria de Marta Mestre e Santiago G. Navarro ( AP601 , Rio de Janeiro) e "Spätwerke der Feierabendkultur" (MBKL Museo de arte contemporanea, Leipzig).
Gabriela Gusmão
Gabriela Gusmão é artista visual, com intervenções voltadas para fotografia e filmagem em suporte digital e analógico. Mestre em estruturas ambientais urbanas pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – FAUUSP, atualmente desenvolve MFA no Transart Institute. Participa de exposições coletivas e individuais desde 2002, em diversas cidades do Brasil, além de Portugal, Espanha, França e Holanda. Participou de residências artísticas e apresentou seu trabalho em palestras e congressos na Eslovênia, Itália, França, Espanha, Chipre e Turquia. Realizou diversas intervenções urbanas em espaços públicos e idealizou o projeto Urbanário. É autora dos livros Rua dos Inventos e Virgula no Infinito.
SERVIÇO:
Exposição “Zurriburi, sujeito à toa”, no Largo das Artes
Data de abertura: 05 de dezembro, às 19h
Endereço: Rua Luís de Camões, 2, Largo de São Francisco, Centro, Rio de Janeiro
Endereço: Rua Luís de Camões, 2, Largo de São Francisco, Centro, Rio de Janeiro
Período Expositivo: 06 de Dezembro a 25 de Janeiro
Horário de funcionamento Ter-Sex., 12h-18h; Sáb., 12h-17h
Telefone (21) 3128 6374
Entrada gratuita