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terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Artigos: Mercado de créditos de carbono florestal cresce 9% em 2012

Empresas injetaram US$ 216 milhões no setor, motivadas por atividades de responsabilidade social ou para mostrar liderança climática, mas ainda existem muitos desafios.

Os recursos direcionados para o carbono estão apoiando a gestão de 26,5 milhões de hectares em florestas ao redor do mundo, comemora o novo relatório do Forest Trends ‘Estado dos Mercados Florestais de Carbono2013’.
Em 2012, empresas injetaram US$ 216 milhões – atrás apenas dos US$ 237 milhões de 2011 – em projetos de plantio, desmatamento evitado, melhoria do manejo florestal e agricultura de baixo carbono, segundo os dados compilados pelo relatório. Esses 162 projetos, em 58 países, foram financiados pela venda de 28 milhões de créditos de compensação de emissões.
A demanda fortalecida é atribuída à possibilidade de inclusão dos créditos florestais em esquemas como da Califórnia, China e Austrália, além do apoio de doadores governamentais e campanhas de instituições enfatizando a responsabilidade do setor privado sobre o uso da terra.
O volume do mercado cresceu 9% em 2012 e o preço médio dos créditos florestais foi de US$ 7,8/tonelada CO2e – em 2011, a média foi de US$ 9,2/t. Apesar da retração, o valor ainda é bem superior ao pago por outros tipos de projeto (em média US$ 5,9/t).
Corporações multinacionais, especialmente do setor de energia, agricultura/florestas e transportes, compraram duas em cada três compensações vendidas, motivadas por atividades de responsabilidade social ou para mostrar liderança climática.
No geral, o relatório deste ano mostra um crescente interesse corporativo em pagamentos que incentivam a proteção das florestas como uma reposta climática, apesar dos desafios políticos e econômicos dos mecanismos de precificação do carbono.
“Esse relatório demonstra que os pioneiros do setor já sabem que financiar a conservação e o manejo sustentável das florestas não se trata apenas de uma licença para operar ou de imagem. Isso pode beneficiar diretamente a infraestrutura, fornecedores e resultados das empresas”, comentou Michael Jenkins, presidente da Forest Trends.
Projetos
Os créditos provenientes da redução das emissões por desmatamento e degradação (REDD) tiveram maior demanda em 2012, com empresas como a Walt Disney e a Puma investindo milhões em países em desenvolvimento. Um total de 8,6 milhões em compensações REDD foram transacionadas, 16% a mais do que em 2011.
Os créditos REDD e derivados do plantio de árvores (A/R, em inglês) foram os mais populares em 2012, sendo que os primeiros dominaram as atividades na América Latina (80%).
A melhoria no manejo florestal (IFM, em inglês) subiu na escala da popularidade, mas o financiamento de carbono para a agricultura sustentável continuou pouco explorado. Mesmo assim, o Forest Trends coloca que a atenção para os benefícios da agricultura de baixo carbono é cada vez maior.
“Na maioria das regiões, a agricultura insustentável, em pequenas propriedades ou comercial, é o principal condutor do desmatamento que os projetos pesquisados por nós estão tentando lidar”, comentou Molly Peters-Stanley, coautora do relatório.
Benefícios extras dos projetos, além do sequestro do carbono, como modos de vida alternativos e proteção de habitats de espécies ameaçadas, são também muito valorizados pelos compradores.
Projetos que cobrem áreas detidas por comunidades, abrangendo 13,7 milhões de hectares, receberam mais de US$ 70 milhões em 2012, mostrando o interesse em projetos que beneficiam pequenos proprietários. Logo atrás, atividades que monitoram ganhos socioambientais ficaram com 61% das compensações vendidas.
Mesmo assim, os projetos envolvendo comunidades e indígenas continuam a ser um desafio na América Latina, onde dois em cada três projetos são desenvolvidos em terras privadas, coloca o Forest Trends. Até mesmo atividades das Nações Unidas têm encontrado dificuldades e foram interrompidas no Peru, Panamá e Honduras devido a conflitos relacionadas à terra.
Em relação à localização, quase um quarto de todas as compensações transacionadas foram geradas nos Estados Unidos e a metade da fatia do mercado foi dominada por desenvolvedores de projetos do sul.
Já os compradores têm origem majoritária em países desenvolvidos – especialmente na União Europeia –, tendo adquirido 99% das compensações.
Quanto às metodologias utilizadas, o padrão mais popular (57% do mercado), o Verified Carbon Standard (VCS), raramente foi utilizado sem ser acompanhado por uma certificação dos padrões Climate, Community and Biodiversity (CCB).
Desafios e expectativas
Um dos desafios do ano foi a luta dos desenvolvedores para compreender a necessidade e como integrar seus projetos nas estruturas e mercados nacionais ou ainda para acessar a demanda limitada dos compradores voluntários.
Mesmo com o crescimento da demanda, desenvolvedores de projetos relataram que 30 milhões de toneladas de CO2e ficaram sem comprador em 2012. E essa tendência parece que continuará.
O Forest Trends nota que as projeções de cortes nas emissões geradas pelos projetos superam a demanda histórica por compensações. Os desenvolvedores esperam reduzir mais 1,4 bilhão de toneladas nos próximos cinco anos, a maior parte (93%) dos cortes sendo proveniente de projetos de REDD. Encontrar mercado para esses créditos dependerá de regulamentação.
A expectativa das entidades e empresas questionadas pelo Forest Trends é de que 35 milhões de toneladas de CO2e sejam negociadas neste mercado em 2013, crescendo 13% anualmente daí para frente.
O desenvolvimento das iniciativas jurisdicionais de REDD também é uma forte esperança do setor e deve ser notícia nos próximos anos.
No caso do Brasil, o relatório destaca as iniciativas jurisdicionais dos estados do Acre e Amazonas como estando bem avançadas no desenvolvimento. O Acre deve ser o primeiro no mundo a gerar compensações REDD através de um esquema jurisdicional até o fim de 2013.
Outras iniciativas também prometem, como a parceria que o VCS tem trabalhado com Peru, Costa Rica e Chile para explorar a possibilidade de esquemas nacionais de REDD. Se essa frente avançar, os países seriam os primeiros a lidar com as emissões florestais de carbono ao se unirem a um padrão internacional.
Doadores
O relatório enfatiza que o fluxo de recursos destinados ao REDD por doações de países tem ‘apequenado’ os milhões de dólares canalizados pelo setor privado.
Em comparação com o US$ 0,9 bilhão atribuído às transações dos créditos florestais ao longo do tempo, o Projeto de Rastreamento dos Gastos com REDD do Forest Trends mostra que mais de US$ 1 bilhão foi prometido por apenas sete países nos últimos anos.
Porém, em 2012, os recursos do setor público foram limitados à preparação para a próxima fase do REDD, o que significa que grandes brechas ainda existem para que os projetos piloto subam mais um degrau.
A esperança é de que acordos como o anunciado pelo Forest Carbon Partnership Facility e a Costa Rica, envolvendo pagamentos de US$ 63 milhões com base em resultados, possa desencadear uma nova fase de financiamentos para o REDD, coloca o relatório.
“Muitos esperam que tais projetos regionais de REDD, que são administrados pelo setor público mas teoricamente permitem projetos tradicionais, sejam o laço que juntaria interesses públicos e privados no AFOLU [agricultura, florestas e outros usos da terra]”, explica o Forest Trends.