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terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Artigos: Saúde dos Trabalhadores


Partindo do ponto de vista da saúde do trabalhador e dialogando com autores da psicanálise e da sociologia das profissões artísticas, o estudo Trabalho é o que você faz para ganhar dinheiro ou aquilo onde você coloca sua alma? - condições de vida e trabalho de atores de teatro atuantes no Rio de Janeiro buscou compreender as principais questões que permeiam o universo dos atores de teatro enquanto trabalhadores. O interesse no tema, explorado pela aluna de doutorado em Saúde Pública da ENSP, Ana Paula Prange, surgiu a partir da análise das condições de trabalho de atores de teatro. Segundo Ana Paula, múltiplas atividades, somadas ou não a uma intensa rotina de ensaios, conjugadas a períodos sem trabalho, remunerações instáveis e contratos temporários ou informais formam um quadro de vulnerabilidade social.

De acordo com a nova doutora, o cotidiano laboral dos que escolhem esta profissão e que nela persistem encontra tanto condições que colaboram para a saúde como a ameaçam. Entre as condições positivas estão o desenvolvimento integral propiciado pelo exercício teatral, abrangendo os aspectos emocional, físico e cognitivo, o autoconhecimento e a expressão de si. Já entre os fatores prejudiciais à saúde, destacam-se as rotinas instáveis que incluem desde ensaios exaustivos até a falta de trabalho e de perspectivas, a vulnerabilidade social e econômica por conta da informalidade que rege os contratos de trabalho e a banalização do ofício.

Na pesquisa, foram considerados aspectos como as relações entre arte, mercado e entretenimento, as desigualdades da profissão, a oposição entre necessidades objetivas e subjetivas por parte dos atores, incluindo a habitual busca por uma segunda profissão ou trabalhos freelancer, e a importância do reconhecimento, da cooperação e da sublimação, bem como suas relações com a saúde.

Os resultados do estudo foram organizados em eixos temáticos que englobam a precocidade do ingresso na profissão, os dilemas e desafios de viver de teatro, a busca da qualificação relacionada à tentativa de maior estabilidade através de funções ligadas ao ensino e docência, a banalização da profissão, provocando a multiplicação de precários processos de profissionalização, a procura do ofício como um possível atalho para a fama e enriquecimento - sobretudo por jovens -, a carga psíquica do trabalho e mobilização subjetiva na profissão de ator e a importância do reconhecimento e seus impactos sobre a saúde.

Em todos os eixos da pesquisa, a aluna buscou compreender as relações entre o trabalho, a identidade e a saúde, percebendo, no caso dos atores de teatro, uma intensa relação entre a persistência na profissão e a busca da emancipação que inclui tanto a resistência às imposições do mercado e/ou expectativas familiares, como a possibilidade de viver da própria arte, traduzida como uma luta pela saúde e pelo direito de existir plenamente.

Ana Paula Lobão Prange possui graduação e mestrado em Psicologia, pela UFRJ e PUC-Rio, respectivamente. Sua tese de doutorado em Saúde Pública foi defendida na ENSP no dia 20/12/13, sob a orientação da professora Jussara Cruz de Brito do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP).