Foi realizado, na manhã da quarta-feira, 31 de janeiro de 2017, o Seminário de Prevenção e Combate às Arboviroses, conjunto de doenças que incluem dengue, zika e chikungunya e têm vitimado e causado sofrimento em boa parte da população brasileira, sobretudo entre os mais pobres, nos últimos anos. O evento faz parte da elaboração do plano conjunto de combate ao mosquito Aedes aegypt, que será lançado em quinze dias, por uma parceria entre a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz) a e as Secretarias Municipais de Saúde, Educação e a de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Com campanhas educacionais nas escolas e na mídia, trazendo por slogan a frase "Aqui, mosquito não se cria", a intenção é que seja feita uma grande mobilização de diversos setores do saber e da sociedade para juntos combaterem o Aedes aegypti.
Na mesa de abertura do evento, estiveram presentes a presidente eleita da Fiocruz, Nísia Trindade, Hermano Castro, diretor da ENSP, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, o secretário municipal de Saúde do Rio, Carlos Eduardo de Mattos, o secretário de Educação, Esportes e Lazer, César Benjamin, e a secretária de Assistência Social e Direitos Humanos, Maria Teresa Bergher. Em seguida, o seminário foi composto de duas mesas, que contaram com falas de cientistas e funcionários da prefeitura.
Primeira a falar, Nísia Trindade lembrou que a luta da Fiocruz no combate ao Aedes aegypt, ao longo dos anos, vem se dando em diversas frentes.
- Nossa ação se dá desde a pesquisa, passando, a seguir, pela produção de vacinas, controle de vetores, promoção da saúde e educação da população.
Em seguida, falou Marcelo Crivella. O prefeito do Rio enalteceu o papel da Fiocruz no combate às arboviroses e se mostrou otimista quanto à mobilização que vem acontecendo em torno do tema, entre a população.
- Além da campanha que será feita nas escolas, nas primeiras semanas de aula dos próximos meses, 20 mil jovens estão se mobilizando para participar de ações no combate ao Aedes aegypti. Estamos contando com a participação das igrejas, com apoio dos pastores e também do cardeal-arcebispo do Rio, Dom Orani Tempesta.
O secretário de Saúde do município do Rio, Carlos Eduardo de Mattos, começou sua fala informando que o Índice Rápido do Aedes aegypti, (LIRAa) medido entre os dias 1º e 7 de janeiro, foi de 0,97 – o menor desde que foi criado esse indicador que aponta o grau de infestação do mosquito transmissor da dengue, zika e chikungunya na cidade. Apesar da queda, há áreas com alto índice de infestação. O secretário lembrou que o combate ao Aedes tem que estar atento às especificidades de cada região.
- Temos informação de que o mosquito tem usado diferentes tipos de depósito. Na Zona Sul, é o ralo, em Madureira e Cascadura, o vaso de planta, em Bangu é o lixo. Temos que colocar todos os setores da sociedade civil organizada para atuar juntos. As ações de combate ao vetor se faz no dia a dia, na busca dos criatórios, com campanhas educativas.
César Benjamin, secretário de Educação, Esporte e Lazer do Rio, começou sua fala lembrando do tempo em que trabalhou na ENSP, nos anos 1980. Da época, ficou uma lembrança especial da atuação dos guardas da antiga Sucam, a "Superintendência de Campanhas da Saúde Pública", extinta nos anos 1990, atuando no combate a vetores nos lugares mais ermos. O secretário também falou sobre a crise política e econômica atual e da importância da mobilização popular neste momento.
- Todas essas crises parciais, no fundo, são uma crise só: a crise do nosso projeto nacional. Nenhuma dessas crises vai ter uma solução isolada. Ou seremos capazes de retomar um projeto nacional no século XXI ou estaremos sempre correndo atrás do prejuízo. Cada um no seu posto, cada um no seu trabalho, não tem milagre, o que precisamos é de um enorme esforço coletivo para que possamos retomar nosso caminho como país.
Depois de César Benjamin, falou Teresa Bergher, secretária de Assistência Social e Direitos Humanos da cidade do Rio. Ela explicou como a Secretaria atuará na campanha de combate ao Aedes.
- Estão sendo mobilizados 50 funcionários da área de assistência social para discutir juntos as formas de prevenção nas escolas, nas ruas, nos bairros, em toda a cidade, para que, em bom tom, possamos dizer: "Aqui o mosquito não se cria".
Encerrando a primeira parte do seminário, o diretor da ENSP, Hermano Castro, lembrou que a Escola e seu conhecimento técnico e científico estão à disposição da sociedade.
- A Escola tem muito a oferecer nessa parceria, contem sempre conosco, com a expertise da Fiocruz, que pertence ao povo brasileiro.
Hermano fez, ainda, uma reflexão sobre uma possível, mas nem sempre visível, causa para as atuais epidemias urbanas.
- Nós deixamos de fazer o dever de casa lá nos anos 1980, quando deixamos de fazer reforma agrária, fazendo com que a população tivesse que vir para as cidades, com crescimento desordenado. Deixamos de investir em escolas, em educação. Descuidamos do ambiente, descuidamos das cidades e pagamos o preço. Acho que estamos aqui para tentar, minimamente, impedir que isso avance.
Seminário mostra situação epidemiológica do Rio e apresenta campanha contra o Aedes
Cristina Lemos, Superintendente de Vigilância em Saúde do Município do Rio de Janeiro, mostrou alguns dos dados e alertou para o fato de que neste ano, o número de casos de dengue e zika tendem a ficar estáveis, mas há preocupação quanto a chikungunya. Cristina também mostrou como são divididas as subáreas do Rio de Janeiro e atentou para aquelas que merecem mais atenção.
- Entre as áreas que tiveram maior ocorrência da doença, estão os bairros de Manguinhos, Méier, Madureira, Bangu. São áreas com maior população e maiores complexos da cidade e é onde precisamos reforçar o combate ao Aedes.
Depois de Cristina Lemos, Renato Castiglia, pesquisador do Departamento de Saneamento, Saúde e Ambiente da ENSP, falou sobre o papel do saneamento no controle das doenças. Renato ressaltou que a compreensão de "saneamento" vai muito além da coleta de esgoto. Saneamento não é só esgoto: é gestão de bacia, drenagem urbana, coleta de resíduo, abastecimento de água. E a gente chega até nas questões de segurança urbana. Entre esses fatores, no que diz respeito ao combate ao Aedes aegypti, o abastecimento de água é o principal foco.
- O principal problema do combate à dengue é o abastecimento irregular de água, porque leva a população a acumular água em caixas d`água, barris etc. Não vamos resolver o problema só com os vasos de planta. Temos também a questão do lixo doméstico, lugares onde o gari não consegue trabalhar por causa da violência urbana. É preciso entender que os sistemas são interligados. Você pode ter o melhor sistema de drenagem urbana do mundo, mas não tem coleta de resíduo e, na primeira chuva, acabou.
Na segunda mesa, a superintendente municipal de Promoção da Saúde, Cristina Buaretto, mostrou os resultados dos estudos feitos pelo Grupo de Trabalho Intersetorial Municipal, responsável pelo Programa Saúde nas Escolas. Finalizando o seminário, foram apresentadas experiências bem-sucedidas de comunicação realizadas pelo município do Rio. De um samba sobre o combate ao Aedes, passando pelo slogan: “Mosquito aqui não se cria”, a proposta é usar essas experiências para estreitar a comunicação com a população. Num esforço conjunto das grandes áreas da saúde, direitos humanos e educação, entre dados e trocas, a conclusão foi a de que somente com a ação unificada de órgãos do governo, cientistas e da população terá sucesso o combate ao mosquito Aedes aegypti, de maneira segura, humanizada e de acordo com as reais necessidades de saúde da população do Rio de Janeiro.