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segunda-feira, 20 de junho de 2016

ENSP e população LGBT rompem barreiras em busca da equidade

Em julho, a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, por intermédio de uma parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e o Grupo Conexão G de Cidadania LGBT de Favelas, iniciará projeto de extensão pioneiro, no qual seus discentes e da UFRJ poderão fazer estágio docente ministrando aulas no Prepara, Nem! - curso preparatório para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) destinado à população LGBT moradora de favelas do Rio de Janeiro. As aulas gratuitas serão realizadas nas dependências da ENSP, e as alunas do curso usarão crachás com seus nomes sociais. “Com essa ação, pessoas Trans, Travestis, Lésbicas, Gays e Bissexuais em situação de vulnerabilidade social, estudarão em uma das maiores e melhores instituições de Saúde Pública da América Latina. Assim, a ENSP mostra todo seu pioneirismo ao abrir as portas para lutar contra o preconceito existente em nossa sociedade”, disse Monica Malta, pesquisadora da Escola, coordenadora de uma nova pesquisa na área e entusiasta do projeto.
 
Segundo Monica, o curso surgiu a partir da demanda feita por lideranças e representantes de ONGs que participam da Pesquisa Divas - Diversidade e Valorização da Saúde, projeto nacional que irá abordar mulheres transexuais e travestis brasileiras, coordenado por ela. Tal solicitação foi encaminhada ao diretor da ENSP, Hermano Castro, que prontamente ofereceu todo apoio institucional. Para o curso, com início previsto para o começo do mês de julho, os participantes terão crachá com nome social, receberão auxílio para passagem e serão recebidos sempre com lanche preparado pela equipe do projeto. Os professores serão alunos das duas instituições com interesse em fazer estágio docente como professores do Prepara, Nem!.
 
“Diante do apoio institucional da ENSP, foi desenvolvido e apresentado o Plano de Sensibilização, Acolhimento e Respeito à População LGBT da ENSP para cerca de 80 funcionários da área de infraestrutura (recepcionistas, telefonistas, porteiros, ascensoristas, equipe de manutenção e profissionais de limpeza). No encontro, realizado em 6 de junho, foram abordadas diversas questões; entre elas, a importância de respeitar a identidade de gênero das alunas referente a aspectos importantes, como utilização do nome social e uso do banheiro.
 
A ENSP é a primeira unidade da Fiocruz a realizar essa atividade, que faz parte de ampla gama de ações voltadas para favorecer o acolhimento, inserção e permanência da comunidade LGBT na Escola e na Fundação em sua totalidade. “A oficina tem a proposta de sensibilizar os funcionários sobre os direitos da população LGBT, legislações específicas e importância do respeito à identidade de gênero. Em parceria com a Vice-Presidência de Ensino, Informação e Comunicação da Fiocruz, posteriormente essa sensibilização será compartilhada com as demais unidades da Fiocruz”, anunciou Monica. 
 
Segundo a pesquisadora, existe amplo conjunto de ações voltadas para toda a comunidade da Escola – alunos e alunas, docentes, técnicos e técnicas e equipe da infraestrutura. “Essa é uma política que objetiva tornar os ambientes da ENSP, e futuramente toda a Fiocruz, mais acolhedores, inclusivos e adequados à comunidade LGBT”, garantiu ela. 
 
A pesquisa Divas
 
A pesquisa Divas é um estudo desenvolvido por meio de uma parceria entre a ENSP, a Universidade Johns Hopkins, o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Trata-se de uma pesquisa social que tem como principal objetivo conhecer melhor a realidade individual e coletiva das mulheres transexuais e travestis no Brasil. Ao acessar diferentes redes sociais, a pesquisa se propõe a conhecer a dinâmica de interação social desse grupo e o contexto no qual se inserem essas pessoas. A pesquisa estudará aspectos relacionados aos direitos humanos, experiências de discriminação e violência, acesso a serviços de saúde, comportamentos, redes de apoio, qualidade de vida e saúde mental, orgulho Trans e resiliência, entre outros assuntos.
 
Durante a pesquisa, será oferecido às participantes a possibilidade de realizar testes rápidos para detecção de HIV, Hepatite C, Hepatite B e Sífilis. Todas que quiserem fazer os testes e receberem resultados positivos serão encaminhadas para tratamento pelo SUS. Participantes que desejarem também poderão solicitar encaminhamento para outros serviços de saúde mental, assistência social, apoio jurídico etc.
 
A pesquisa Divas é resultado de um trabalho coletivo e compartilhado entre pesquisadores, representantes de ONGs e lideranças da comunidade Trans do Brasil. Trabalham juntos pesquisadores de diversas áreas – Ciências Biológicas e da Saúde, Exatas e Tecnológicas; Humanas e Social – ativistas, representantes da sociedade civil organizada, formuladores de políticas e gestores. A proposta desse trabalho é coletar informações de qualidade, com rigor científico e que dê voz às necessidades das mulheres transexuais e travestis. Objetiva-se, principalmente, que os resultados da pesquisa sejam utilizados na intenção de propor políticas públicas mais adequadas às realidades da população T*.
 
Os resultados da pesquisa serão amplamente divulgados em meios científicos e extracientíficos. A equipe de pesquisa promoverá encontros nacionais e locais a fim de apresentar os resultados do estudo para os mais diferentes parceiros: ONGs, lideranças locais e nacionais, representantes de órgãos vinculados à Justiça, Direitos Humanos, Saúde, Educação, Trabalho etc.
 
A pesquisa Divas abordará 4.700 mulheres transexuais e travestis que morem, estudem ou trabalhem nos seguintes municípios: Belém (PA), Belo Horizonte (MG), Brasília (DF), Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), Manaus (AM), Porto Alegre (RS), Recife (PE), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP).