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terça-feira, 25 de novembro de 2014

"Tempos de Marilyn" e "Opus 12 para vozes humanas" têm únicas apresentações no Galpão Gamboa


Espetáculos têm direção de Roberto Jardim e texto de Sérgio Roveri

Em uma temporada relâmpago no Galpão Gamboa, os cariocas terão a chance de assistir os dois mais recentes trabalhos que reúnem a dupla José Roberto Jardim e Sérgio Roveri. "Tempos de Marilyn", um poema cênico inspirado na vida da atriz Marilyn Monroe, será apresentado nos dias29 e 30 de novembro (sábado e domingo), enquanto que "Opus 12 para vozes humanas", espetáculo que retrata o isolamento social e incomunicabilidade mesmo quando o diálogo é possível, terá apresentações nos dias 01 e 02 de dezembro (segunda e terça).

OPUS 12 e Tempos de Marilyn são, respectivamente, o quinto e sexto trabalho de uma parceria que já dura dez anos entre Roveri e Jardim. Na primeira semana de novembro, Jardim viaja a Florença para iniciar o processo de direção da versão italiana de "Tempos de Marilyn", que terá no elenco a atriz italiana Giusi Merli, estrela do filme "A Grande Beleza", do diretor Paolo Sorrentino, ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro de 2013. "É um grande desafio porque, na montagem nacional, Tempos de Marilyn é feito por três atrizes", diz Jardim. "E a versão italiana, a pedido da própria Giusi Merli, será feita no formato de monólogo".

O convite para trazer os dois espetáculos ao Rio foi feito por Carolina Tavares, produtora do Galpão Gamboa. "Eu vejo com muito entusiasmo esta possibilidade de levar ao Rio justamente estes dois trabalhos, que têm em comum a recente pesquisa de linguagens que estou desenvolvendo ao lado do diretor", diz o dramaturgo Sérgio Roveri, que este ano recebeu sua terceira indicação ao Prêmio Shell de melhor autor pela peça "Os que vêm com a Maré", apresentada no Espaço dos Satyros no primeiro semestre - ele ganhou o prêmio, em 2007, com a peça "Abre as asas sobre nós". "São espetáculos que, de alguma maneira, estabelecem entre si um diálogo consistente ao conferir um valor imenso à musicalidade da palavra". Roveri teve, ao longo de 2014, cinco textos encenados em São Paulo. Além de "Os Que Vêm com a Maré", "Opus 12" e "Tempos de Marilyn", ele também escreveu "Palavra de Rainha" e "Medeia: 1 Verbo", este último a pedido do Grupo Folias D’Arte.

Para o diretor José Roberto Jardim, estas quatro apresentações no Rio representam a possibilidade de mostrar em outras praças sua recente busca pela paisagem sonora e pela preponderância da palavra em cena que possibilite gerar no imaginário do público imagens diversas. "Criei estes espetáculos para serem tanto ouvidos quanto vistos, com o objetivo de criar um terceiro efeito quando esses dois pontos são somados", revela.


TEMPOS DE MARILYN

A partir de um encontro hipotético entre o mito Marilyn Monroe e a mulher Norma Jean, nome de batismo da estrela, o espetáculo procura traçar um quadro íntimo e pouco explorado da atriz mais famosa do cinema americano

Cinco de agosto de 1962: o mundo recebia, com surpresa e incredulidade, a notícia de que Marilyn Monroe, uma das maiores estrelas do cinema americano, havia sido encontrada morta em sua casa de Beverly Hills, na Califórnia. Aos 36 anos de idade, no auge da beleza e da popularidade, Marilyn, mais do que qualquer uma antes ou depois dela, tinha sim saído da vida para entrar para a história. Suas constantes crises de depressão, o romance-relâmpago com o homem mais famoso do mundo, o presidente americano John Fitzgerald Kennedy, o casamento com Arthur Miller, o dramaturgo mais prestigiado dos Estados Unidos, os filmes de sucesso, o tardio reconhecimento da crítica, as imagens inesquecíveis e icônicas exploradas impiedosamente até hoje, o incomparável apelo sexual e principalmente as circunstâncias misteriosas de sua morte, jamais esclarecidas, alimentam até hoje a sobrevida do maior mito que a indústria do show business foi capaz de produzir.

A partir de um encontro revelador entre o mito Marilyn e a mulher Norma Jean, seu nome de batismo, a história pode se localizar naquela que seria a última noite de Marilyn, quando a atriz de clássicos como "Quanto mais quente melhor", "Adorável pecadora" e "O pecado mora ao lado" surpreende-se com a visita de uma Norma Jean disposta a cobrar tudo aquilo de que abriu mão, incluindo aí o próprio corpo, a história pessoal e as feições do rosto, em prol do surgimento e manutenção da estrela. "Tempos de Marilyn", assim, pode ser visto como um comovente embate entre criadora e criatura, sem que estejam estabelecidas as fronteiras que determinam onde começa uma e onde termina a outra.

"Acredito que não exista outra estrela de cinema sobre a qual possam ser encontrados tantos livros, álbuns de fotos, filmes, peças, quinquilharias, teses de mestrado e até tratados psicanalíticos. Nenhuma outra mulher ofereceu tanto combustível à cultura pop quanto Marilyn", diz Sérgio Roveri que, nesta sexta parceria com o diretor José Roberto Jardim, preferiu se afastar das amarras biográficas na hora de escrever a peça. "A imagem de Marilyn é tão conhecida quanto a embalagem da Coca Cola e o logotipo do McDonald’s. É muito difícil encontrar um viés desta estrela que ainda não tenha sido explorado. Aparentemente, tudo já foi dito sobre ela. Por isso optamos por uma leitura pessoal, poética e emotiva do mito". Ainda que a peça faça referência a dados robustos da biografia da atriz, como seus incorrigíveis atrasos aos sets de filmagem, o incontrolável consumo de barbitúricos e a histórica noite em que, num Madison Square Garden lotado, ela cantou Parabéns a Você na cerimônia de aniversário de Kennedy, a grande preocupação do texto é a de tentar revelar uma faceta de Marilyn que os holofotes não conseguiram iluminar.

"Meu desafio como diretor foi o de enfrentar sem receio o mito de Marilyn Monroe para extrair dele um olhar que fugisse do ícone já estabelecido no imaginário de todas as pessoas", diz o diretor José Roberto Jardim. "Os que virão nos assistir seguramente chegarão com uma visão e conceito a respeito de quem foi e de como viveu esta mulher. Então meu percurso se iniciou pela contramão desta expectativa coletiva. Parto do jogo entre as palavras do texto e a feminilidade das minhas próprias atrizes. Com isso evitei a esterilidade do "folclore Marilyn" para me concentrar no que transbordava dolorosamente de sua alma".

Este conceito proposto pela direção é acompanhado pelo tratamento sofisticado que o espetáculo recebeu da direção de arte e figurinos criados por Caio Tarquino da Rocha e pela fotografia conceitual de Victor Affaro, em seu primeiro trabalho como fotógrafo de teatro. Rocha e Affaro também procuraram fugir de todas aquelas imagens que fazem remissão direta ao mito: o cabelo platinado, os lábios vermelhos, as formas exuberantes e provocativas. A Marilyn que brota do ateliê de Caio da Rocha e das lentes de Victor Affaro é uma mulher fragmentada, feita de pequenas partes de corpos que tentam vencer a escuridão para ganhar a luz.

"Como tive três atrizes para representar uma única personagem, o caminho pela busca da personalidade multifacetada de Marilyn foi a parte mais saborosa da minha direção", acrescenta José Robero Jardim. "Não trabalhei com a ideia da personificação desta grande mulher, mas sim com a presentificação de suas pulsões e medos. Todas as três atrizes são Marilyn e paradoxalmente nenhuma delas o é. Desta forma, acredito que criamos uma obra mais instigante, que convidará a todos para compartilhar conosco do mistério que foi, e continua sendo, a sua breve vida."

SINOPSE
Um encontro entre o mito Marilyn Monroe e a mulher Norma Jean, nome de batismo da estrela, expõe um lado íntimo, frágil e humano de uma das mulheres mais famosas e copiadas do mundo.

SERVIÇO
Tempos de Marilyn
Datas: 29 e 30/11
Horário: Sábado, às 21h, e Domingo, às 20h
Local: Galpão Gamboa (Rua da Gamboa 279) Capacidade: 60 lugares Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia) Duração: 50 minutos Classificação etária: 14 anos

FICHA TÉCNICA
Texto: Sérgio Roveri
Direção: José Roberto Jardim
Elenco: Bia Borin, Débora Vivan e Priscila Oliveira
Figurino e direção de arte: Caio da Rocha
Fotografia: Victor Affaro
Trilha sonora, cenografia e iluminação: José Roberto Jardim
Vídeo: Tânia Paes
Designer gráfico: Denis Vivan
Produção: Maria Gorda


OPU2 12 PARA VOZES HUMANAS

Espetáculo reúne duas peças do dramaturgo Sérgio Roveri, com direção de José Roberto Jardim. No palco, um elenco de seis atores vive situações extremas de incomunicabilidade, alienação e indiferença

Um Dia e Uma Noite. Estas são as duas peças escritas pelo dramaturgo Sérgio Roveri que compõem o espetáculo Opus 12 Para Vozes Humanas. A direção é de José Roberto Jardim. No elenco, os atores Alex Gruli, Anna Cecília Junqueira, Felipe Folgosi, Janaína Afhonso, Munir Kanaan e Zé Geraldo Jr. dão vida a personagens que transitam por situações nas quais os diálogos, ainda que apareçam em demasia, perderam sua função básica de comunicar e aproximar as pessoas. As duas histórias trazem personagens fechados em universos particulares, presos em cotidianos indevassáveis nos quais a existência de um interlocutor não é apenas dispensável, ela é praticamente impossível.

Em Um Dia, texto que abre o espetáculo, os atores Zé Geraldo Jr. e Janaína Afhonso elaboram um retrato altamente fragmentado de situações ao mesmo tempo caóticas e delicadas, em que personagens surgem e desaparecem de maneira vertiginosa na narrativa. "Em Um Dia, Sérgio Roveri explode os caminhos comuns e apresenta uma dramaturgia inclassificável e poderosamente singular", escreveu sobre o texto o dramaturgo e diretor Ruy Filho.

A crueza e os recursos minimalistas de Um Dia estão presentes também na condução de Uma Noite. Dois casais, vividos pelos atores Felipe Folgosi, Anna Cecília Junqueira, Alex Gruli e Munir Kanaan, se encontram para um jantar numa noite de sábado. Durante o jantar, eles discorrem com certa propriedade a respeito de vinhos caros, saladas de batatas orgânicas, viagens e transplante de órgãos, enquanto se enredam em um universo de egos e individualismos.

SINOPSE
Opus 12 Para Vozes Humanas é um espetáculo composto por duas peças que retratam a incomunicabilidade e a as situações de isolamento social mesmo quando o diálogo é possível. A primeira delas, Um Dia, mostra um casal refém de situações caóticas e delicadas, que são expostas de maneira muito fragmentada. A segunda, Uma Noite, reúne quatro personagens que, em um momento que deveria ser de troca e comunhão, conseguem exibir apenas seus egoísmos e indiferenças.

SERVIÇO
Opus 12 Para Vozes Humanas
Datas: 01 e 02/12
Horário: segunda e terça, às 20h
Onde: Galpão Gamboa (Rua da Gamboa 279)
Capacidade: 60 lugares Ingressos: R$ 30 e R$ 15 (meia) Duração: 50 minutos Classificação etária: 14 anos