Os principais temas energéticos no mundo são a segurança de suprimento de energia e a mudança climática. O Brasil está em uma situação privilegiada no que se refere à segurança de suprimento: as descobertas do Pré-Sal asseguram a auto-suficiência e até mesmo a possibilidade de exportação de óleo e gás natural. Há um amplo leque de opções de geração de energia elétrica local, incluindo energia hidrelétrica, termelétrica (gás natural, carvão, nuclear e biomassa) e, mais recentemente, energia eólica.
Quanto às mudanças climáticas, o Brasil está bem posicionado para uma sociedade de baixo carbono, pois 45% de sua matriz energética provêm de fontes que não emitem CO2 (renováveis e energia nuclear), contra menos de 20% na média mundial. Adicionalmente, o país dispõe de diversas opções de geração de energia limpa e competitiva para sua expansão, incluindo a hidroeletricidade, a co-geração a biomassa e a energia eólica.
A energia eólica é uma engrenagem primordial para o crescimento do setor de energia renovável. É a opção mais limpa para a produção de energia disponível comercialmente hoje no Brasil com baixo impacto ambiental, visto que não gera poluentes, nem demanda a utilização de água para resfriamento ou para limpeza do processo. O potencial eólico brasileiro é estimado em 300GW possuindo alta relevância face à necessidade de aumento da capacidade instalada nacional. Os leilões de energia nova possuem o objetivo de contratação da energia para suprir o crescimento da demanda nos próximos anos e o potencial eólico disponível deve ser explorado para atender esta demanda.
A hidroeletricidade é responsável por 91% da geração de energia elétrica no Brasil, uma fonte renovável e encontrada em abundância na matriz energética nacional, contudo, possui uma sazonalidade natural. É neste ponto que a energia eólica também oferece seus benefícios. Com sazonalidade complementar à hidroelétrica, a energia eólica exercerá forte papel na segurança do suprimento através de uma fonte renovável que cresce ano a ano.
A energia eólica tem experimentado um rápido crescimento no país. Durante o PROINFA – Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, a capacidade instalada desta tecnologia aumentou de menos de 30 MW em projetos experimentais para mais de 1 GW em operação no final de 2011. Pela promoção de um ambiente de baixos riscos para a tecnologia ainda incipiente, o PROINFA alavancou o aprendizado de investidores e empresas do setor no Brasil, e atraiu diversas empresas internacionais. O Primeiro Leilão de Energia Eólica, realizado em 2009, firmou o potencial da tecnologia na matriz elétrica, e mostrou a sua competitividade. Dois anos depois, olhamos para um cenário onde a energia eólica tornou-se competitiva, com maior eficiência dos projetos, e uma cadeia de suprimentos desenvolvida. A partir de 2009 até 2011, os seis leilões onde a fonte eólica participou, foram contratados 6,8 GW de novos projetos desta tecnologia. Estes projetos elevarão o volume de instalações de energia eólica no País para mais de 8,2 GW até 2016, que é 5,5 vezes maior do que a capacidade atual, e atrairá mais de 20 bilhões de dólares em investimentos.
Até meados de 2008 havia uma única empresa fabricante de aerogeradores no Brasil. Hoje, temos sete fábricas de aerogeradores em operação, duas em construção, e ainda outras fábricas planejadas ou em estudo. Hoje contamos com a presença de treze empresas fabricantes de aerogeradores atuando no mercado nacional. O setor conta ainda com seis fábricas de torres eólicas em operação, uma em construção, e a segunda maior fabricante de pás eólicas do mundo, a Tecsis, empresa totalmente brasileira, atuando no mercado de energia eólica desde 1995, antes focada apenas para exportação. Em recente levantamento da consultoria internacional Ernst & Young, o Brasil é hoje o 10º país mais atrativo para o investimento nesta tecnologia. Até o fim do ano, a produção de equipamentos eólicos deve
exceder o consumo interno, tornando o país um potencial exportador de aerogeradores, e portanto, um mercado central na América Latina.
No entanto, para a consolidação da indústria eólica no país, é fundamental a continuidade de contratação de um volume expressivo de energia eólica, de 2 GW por ano, com o fim de elevar a capacidade instalada para 20 GW em 2020, o que representaria cerca de 20% da capacidade de geração de energia brasileira – hoje esta participação é de 1,26%.
É essencial investir na capacitação de mão-de-obra para todas as atividades do setor. A capacitação de trabalhadores em áreas com alto potencial eólico deverá aumentar os benefícios de locais, ao aumentar a oferta de trabalhadores e trazer desenvolvimento econômico e social para as comunidades onde os geradores eólicos atuam. Além disso, a produção de energia eólica é uma fonte socialmente justa, capaz de harmonizar-se com as atividades econômicas nos locais onde os parques são instalados, proporcionando benefícios socioeconômicos diretos para a comunidade em seu entorno. O pagamento referente aos arrendamentos é feito diretamente aos proprietários das áreas, representando geração e injeção de renda, por no mínimo 20 anos, em regiões que em sua maioria são bastante carentes, com suas economias estagnadas, inclusive no semi-árido brasileiro. A regularização fundiária, as averbações das reservas legais conforme determina o Código Florestal brasileiro, as oportunidades de emprego, infraestrutura derivada da construção e operação e diversificação das atividades econômicas regionais, com a geração de empregos qualificados, são outros benefícios da atividade eólica.
O ano de 2011, em especial, marcou a efetiva inserção da fonte eólica no Brasil, diante da forte contratação, da disposição de investir, e dos preços competitivos. Os próximos anos serão fundamentais para a sustentabilidade do setor, consolidando a indústria e assegurando o domínio tecnológico desta fonte de geração de energia. O crescimento virtuoso da indústria de energia eólica brasileira nos últimos três anos traz também muitos desafios associados, cita-se aspectos associados a logística e infraestrutura, como a logística do transporte interno de equipamentos e de transmissão. A ABEEólica, como instituição que representa o setor eólico no Brasil, está comprometida com essas questões e tem se empenhado em promover a geração eólica de forma competitiva e consolidada.
O ano de 2012 representa um ano de grande desafio para esta indústria, uma vez que se faz necessário discutir alguns aperfeiçoamentos no modelo no que se refere, por exemplo, às metodologias de leilão. Questões como transmissão (ICGs), logística, meio ambiente e financiamento deverão continuar na pauta de assuntos a serem discutidos para um melhor aprimoramento do setor. O Mercado Livre será outra questão muito relevante, sendo o principal desafio desenvolver um modelo regulatório-comercial para a comercialização da fonte neste ambiente, com o fim de mitigar os altos riscos devido à sazonalidade. A ABEEólica está estudando modelos para atingir tal objetivo, como o MRE hidroeólico, o Modelo de Portfólio de Contratos, e os Certificados de Energia Limpa.
Cabe destaque o projeto da Rede Nacional de Pesquisa em Energia Eólica (RNPEE), Rede de Pesquisa que terá como objetivo a inserção e o fortalecimento da Pesquisa e Desenvolvimento na Cadeia Produtiva da Indústria de Energia Eólica que permita: i) impulsionar a inserção e consolidação da energia eólica na matriz elétrica brasileira, de maneira sustentável e competitiva; ii) promover a inovação e a transferência de conhecimento para o setor industrial e para a sociedade; iii) promover a capacitação profissional dos recursos humanos necessários nesse segmento.
O Projeto tem como foco a pesquisa aplicada, o desenvolvimento acadêmico e a qualificação da mão de obra. A rede de pesquisa vai atuar como um mecanismo de conexão entre as necessidades da indústria e as soluções que possam ser desenvolvidas no âmbito da pesquisa, facilitando a cooperação e o compartilhamento dos recursos entre as instituições, a ser feito através da expansão da pesquisa nas áreas afins, de maneira coordenada em âmbito nacional considerando as iniciativas de pesquisas já existentes e ampliando as oportunidades de novos projetos. A Rede de Pesquisa deverá também trabalhar para criar um centro de certificação de aerogeradores e, no futuro, um campo de testes de aerogeradores.
O Brasil é destaque com geração de energia elétrica limpa e renovável, preponderantemente, hídrica, onde a eólica é complementar. Utilizando como referência o Plano Decenal de Expansão de Energia – PDE 2011-2020 publicado pela Empresa de Pesquisa Energética – EPE, a inserção da energia eólica em uma simulação substituindo a geração de energia com base em termelétricas a carvão, haverá uma redução de emissão da ordem de 17,5Mton de CO2 equivalente, ou seja, 51% de toda a emissão no período. O enorme potencial eólico do Brasil e o recente crescimento da energia eólica com suas características adicionais de ser socialmente justa, nos coloca em destaque na RIO + 20 pelo fato da nossa capacidade de implantar no segmento eólico uma atividade econômica viável, não emissora, com a capacidade de atuar em regiões carentes contribuindo para a erradicação da pobreza.