O presente artigo trata-se de uma avaliação de resultados do projeto “Com vivência” desenvolvido ao longo do ano de 2012. O projeto buscou desenvolver nos estudantes noções de ética e cidadania, promover o autoconhecimento e o respeito às diferenças. Enfatizando temas como cidadania, identidade, drogas e sexualidade, pretende desenvolver nos alunos a capacidade de responsabilizar-se pelas suas escolhas e pela transformação do mundo ao seu redor. Assim é possível aliar cidadania e convivência na construção da identidade.
Identidade é tudo aquilo que somos. Nossas qualidades, nossos defeitos, nosso modo de ser e de pensar. É a nossa maneira de ver o mundo e se relacionar com as pessoas que estão a nossa volta. É a nossa história de vida, relacionada com a história de nossa família, nossa cidade, nosso país. Enfim, é aquilo que nos torna únicos e especiais.
Conforme Serrão e Baleeiro (1999) em um país como o nosso, repleto de desigualdades e contradições a educação aparece como fator de esperança e transformação para a sociedade. Sua função não é apenas permitir acesso ao conhecimento, mas propiciar condições para que o indivíduo construa sua cidadania.
Ser cidadão é ser um agente de mudança e de transformação. É perceber a realidade ao seu redor e fazer a sua parte para tornar a sua comunidade melhor. É acreditar que todos somos iguais e temos nossos direitos e deveres no exercício de nossa cidadania. Acreditamos na força de cada um para a construção de um mundo melhor. Por isso temos a certeza de que são esses alunos que irão transformar a nossa realidade e a de nosso país.
O projeto “Com Vivência” foi desenvolvido em parceria com a coordenação pedagógica e as professoras, com os alunos do quinto ano do ensino fundamental da Escola Municipal “Padre Aristides Queiroz”, no município de Pimenta, MG, buscando desenvolver nos alunos noções de ética e cidadania, além da construção da identidade, o autoconhecimento e a autoestima. Foi efetuado no decorrer do ano de 2012 e contou com 81 alunos, com uma faixa etária de 10 anos.
Em uma sociedade onde os valores estão em plena decadência é função da escola ir além da práxis acadêmica. É função da escola desenvolver nos alunos noções de ética, de cidadania, de solidariedade. Educar para a vida, para o mundo, deixando pessoas melhores para a sociedade, capazes de serem agentes da mudança, capazes de transformar a realidade ao seu redor.
Nesse sentido esse projeto pretendia despertar nos alunos a noção de identidade e de como a história de cada um está intimamente ligada a história do mundo ao nosso redor. Dessa forma podem perceber que são as suas atitudes que vão possibilitar um mundo melhor desenvolvendo assim as noções de cidadania e sustentabilidade.
Além disso, o projeto objetivava promover o respeito às diferenças, discutir os papéis de gênero, desmistificar dúvidas e tabus associados à sexualidade. Possibilita que os alunos percebam seu corpo e sua sexualidade com naturalidade e respeito, criando novas referencias do que é ser homem e ser mulher em uma sociedade que banaliza o sexo e as relações afetivas.
Buscou ainda a construção da autonomia e a reflexão sobre as conseqüências de cada escolha, analisando diferentes decisões e posicionamentos diante de situações que envolvam o uso de drogas.
Ao final do trabalho o aluno pode integrar-se e fazer parte do grupo sem perder sua identidade. Pode perceber como parte integrante de um todo sem perder a noção de ser quem é.
Assim sendo o objetivo geral desse projeto era levar os alunos a vivenciar as relações interpessoais, construindo sua identidade a partir do autoconhecimento e da convivência com o outro.
Na definição de Togatlian (2004) a revisão de literatura é um processo no qual as bases teóricas são estabelecidas e orientam a pesquisa por meio da conceituação de elementos científicos. É a parte do trabalho que permite ao autor do estudo sair do conhecimento empírico para encontrar pressupostos teóricos que sustentem suas ideias, favorecendo o encontro das respostas ao problema.
A realização de um trabalho científico requer o uso de fontes bibliográficas confiáveis. É fundamental na realização desta pesquisa a discussão de teorias e conceitos de diversos. Assim sendo na revisão de literatura traremos conceitos relacionados a cidadania e a educação, indicando como a escola pode ser uma promotora da democracia e formadora de cidadãos conscientes.
2.1 Revisão de literatura
O papel ocupado pela escola em nossa sociedade é de extrema importância haja vista ser a responsável pela transmissão e acumulação de conhecimentos e constituir-se como principal afirmadora dos direitos humanos. Porquanto pode colaborar para a construção de uma sociedade cidadã e atuar também de forma a negar alguns desses princípios. A escola, em geral, deveria apresentar um discurso favorável à democracia. Mas para isso é necessário que nossas falas sejam corporificadas pelo exemplo, ou seja, que nossas práticas não sejam negadoras daquilo que defendemos. (FREIRE, 2000).
Para Beluzzo (2012) não há como existir cidadania sem educação universal e pública. Sem ela estariam seriamente arriscadas a liberdade e a igualdade. “O ideal da educação para todos nasceu comprometido com o projeto de autonomia do indivíduo, o que supõe capacidade de compreensão do cidadão, enquanto titular de direitos e fonte do poder republicano.”
De acordo com nossa Constituição Federal (1998, Artº 205):
A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Silva (2000) destaca que no Brasil, muito se tem falado em educação nessa perspectiva e essa temática tem servido de base para campanhas políticas, programas de governos, programas de instituições não-governamentais e partidos políticos dos mais diversos âmbitos. É a partir desse movimento no conjunto da sociedade que a educação para a formação da cidadania tem se constituído em diretriz dos principais documentos legais e orientadores de políticas públicas do nosso país, a exemplo da Constituição de 1988, da Lei de Diretrizes e Bases-LDB-1996, do Estatuto da Criança e do Adolescente-ECA- 1990, dos Programas Estaduais e do Programa Nacional de Direitos Humanos- 1996, das Propostas de Políticas Educacionais.
Silva (2000) observa que em termos de políticas em âmbito nacional, o Ministério de Educação e Desporto–MEC coordenou o processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais – PCNs. Um dos objetivos dos PCNs é atender ao preceito Constitucional de oferecer uma proposta de reorientação curricular para a Educação Básica às Secretarias de Educação, escolas, instituições formadoras de professores, instituições de pesquisa dos diferentes Estados e Municípios brasileiros. Um dos eixos norteadores dos PCNs é o fortalecimento da Educação Básica voltada para a cidadania como uma das formas de contribuir para a melhoria da qualidade do ensino.
Essa diretriz visa, também, atender ao que determina a Lei de Diretrizes e Bases – 1996, no Artº 27: “os conteúdos curriculares da Educação Básica observarão: a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática”
De acordo com Reis (2000) a educação para a cidadania representa um desafio e um compromisso para todos os responsáveis na formação dos públicos escolares. Um desafio que está longe de se tornar uma realidade.
A considerável unanimidade em torno da importância da educação para a cidadania e do reconhecimento da escola como lugar privilegiado para o seu desenrolar, parece não ter ainda equivalência nas práticas de trabalho e de relação que se estabelecem nas comunidades escolares. Estamos perante um desafio que consiste em tornar realidade uma questão que surge como consensual na sociedade. (REIS, 2000).
Para Antunes (2005) a escola não pode abstrair da democracia, da cidadania, da participação, da autonomia. Caso ela se proponha a ser um espaço educacional por meio do qual educandos e educandas se apropriam do conhecimento historicamente acumulado, partindo para tanto da prática social concreta e a realidade onde ela acontece, a escola não pode estruturar seu trabalho e as relações humanas em bases autoritárias.
Gadotti (2000) acredita que uma educação voltada para o futuro deve ser contestadora, capaz de superar os limites impostos pelo Estado e pelo mercado, estando mais voltada para a transformação social do que para a transmissão cultural. Assim a pedagogia da práxis apresenta-se como uma pedagogia transformadora, em suas várias manifestações, oferecendo um referencial geral mais seguro do que as pedagogias centradas na transmissão cultural.
A escola pode contribuir para a análise da prática cotidiana e da realidade concreta vivida pela comunidade, criando condições para que ela entenda a realidade mais imediata como manifestação das contradições macroestruturais. Esse processo permitirá construir um conjunto de explicações, de elementos de fundamentação sobre essas contradições e, também, propostas e possibilidades para sua transformação, para sua superação. A escola pode ser a grande mediadora do conhecimento necessário à comunidade, para que ela possa construir realidades mais humanas para viver. (ANTUNES, 2005).
Acreditamos que a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a sociedade muda. Se a nossa opção é progressiva, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho se não viver a nossa opção. Encarná-la, diminuindo, assim, a distância entre o que dizemos e o que fazemos. (FREIRE, 2000, p. 53).
Dessa forma a escola precisa ter projeto, fazer sua própria inovação e planejar-se a médio e a longo prazo, reestruturar seu currículo e reelaborar seus parâmetros, enfim, ser cidadã, pois as mudanças que vêm de dentro das escolas são mais duradouras. Assim sendo, é da sua capacidade de inovar, registrar, sistematizar a sua prática/experiência que dependerá o seu futuro. (GADOTTI, 2000).
Delors (1998) aponta que aprender a viver juntos faz parte dos pilares que devem orientar o futuro da educação. Aprender a compreender o outro, desenvolver a percepção da interdependência, da não-violência, administrar conflitos. Descobrir o outro e ter prazer no esforço comum e na cooperação. Com a inclusão dos temas transversais nos Parâmetros Curriculares esse assunto é enfatizado na educação formal, propondo uma atitude de respeito pelas diferenças e uma atitude de empatia e solidariedade.
Freire (2000) aponta que o conhecimento não é neutro, possuindo uma função social. Na perspectiva emancipadora, ele deve contribuir para compreender mais criticamente a realidade vivida, agindo sobre ela, transformando-a para melhor. Nesse sentido, o ponto de partida do processo de construção de conhecimento será a prática social concreta e a realidade onde ela acontece.
Perrenoud (2005) assinala que o ensinar deve permitir a cada um construir os conhecimentos e as competências para fazer frente à complexidade do mundo e da sociedade, oferecendo meios intelectuais para se informar, formar opinião e defender um ponto de vista através da argumentação.
Antunes (2005) observa que quando buscamos a formação do sujeito histórico, que seja capaz de gerir a mudança e de ser promotor da democracia, da convivência com justiça social, da solidariedade e da sustentabilidade, a educação que promovemos na escola precisa ampliar sua atuação para muito além de atender as exigências do vestibular ou do mercado de trabalho. “O papel da escola cidadã e democrática é criar condições para o bem viver.” (ANTUNES, 2005).
Para Peruzzo (2002) educação significa educar para a sociedade através da socialização do patrimônio de conhecimento acumulado, do saber sobre os meios de obter o conhecimento e as formas de convivência social. É também educar para a convivência social e a cidadania, para a tomada de consciência e o exercício dos direitos e deveres do cidadão.
A centralidade da educação para a cidadania é, em grande medida, determinada pelas perplexidades e desafios do nosso tempo que exigem a revitalização dos laços de cidadania, no sentido da maior participação na vida social e política, num contexto de abertura pessoal aos valores cívicos. (REIS, 2000).
Segundo Galvão (2012) através do conhecimento transmitido pela escola, que o aluno irá se preparar para a vida. Passa a ter o poder de se transformar e de modificar o mundo onde vive. Assim a educação deve visar à convivência social, a cidadania e a tomada de consciência política. A educação escolar, além de ensinar o conhecimento científico, deve assumir a incumbência de preparar as pessoas para o exercício da cidadania.
A escola deve aparecer com um espaço de formação dos sujeitos que não apenas serão inseridos na sociedade, mas que precisam estar preparados para transitar nesse mundo de forma crítica. Nesse sentido, é preciso definirmos que tipo de sociedade, de ética, e de relações queremos desenvolver e construir com os sujeitos do processo educativo. (GADOTTI, 2000).
De acordo com Antunes (2005) a Escola é um espaço de convivência onde os alunos devem construir uma relação com a diversidade, por isso todos devem ter o direito de falar, opinar e participar nos processos decisórios. Na medida em que os alunos são despertados para uma participação com autonomia e respeito às diferenças, então começa a existir a possibilidade de uma formação cidadã. Para que haja uma educação de cidadãos, é preciso que acima de tudo, os indivíduos vistos como iguais, tenham a oportunidade de dialogar, expor suas opiniões.
Assim nos lembra Freire (1981, p. 71):
Não é possível respeito aos educandos, à sua dignidade, a seu ser formando-se, à sua identidade fazendo-se, se não se levam em consideração as condições em que eles vêm existindo, se não se reconhece a importância dos conhecimentos de experiência feitos com que chegam à escola. O respeito devido à dignidade do educando não me permite subestimar, pior ainda, zombar do saber que ele traz consigo para a escola.
Segundo Antunes (2005) é preciso pensar a escola como um espaço de transformação e não de alienação. Levar à discussão, a escola como um todo e suas relações com a sociedade. Perceber o que considera fundamental e trabalhar para despertar em seus educandos, a curiosidade e o prazer de aprender, exercendo a prática da discussão e da participação, fazendo da escola um espaço de cidadania.
Gadotti (2000) define cidadania como a consciência de direitos e deveres da democracia e defende uma escola cidadã como a realização de uma escola pública e popular, cada vez mais comprometida com a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Para isso, a escola deve propiciar um ensino de qualidade, buscando a formação de cidadãos livres, conscientes, democráticos e participativos.
Peruzzo (2002) aponta que no que concerne ao direito internacional cidadania diz respeito à nacionalidade: o direito de pertencer a uma nação. Transcendendo essa idéia cidadania congrega ainda a garantia de se ter a proteção legal, em termos de igualdade (todos são iguais perante a lei), o direito de locomover-se, de ir de um lugar para o outro livremente; a participação política e o direito de expressão.
Peruzzo (2002) destaca também outra concepção de cidadania, desenvolvida por Rousseau, no século XVIII, e originária da noção grega de “polis” (cidade), à qual se liga “politikos” (político = ser social). Porquanto a cidadania pode ser apontada como um direito coletivo, que, beneficiando o desenvolvimento da individualidade, pressupõe a ação política e sua socialização. “Tendo como suporte uma legislação que procura levar em conta os princípios de igualdade e de liberdade, ela implica não só direitos do indivíduo, mas também seus deveres na sociedade.” (PERUZZO, 2002).
Outrossim, Martins (2010) assevera que a educação para a cidadania refere-se a aquisição não só de conhecimentos mas também de competências práticas que permitam aos educandos exercer os seus direitos e responsabilidades, além de conhecer as suas consequências. Implica coerência entre teoria e práticas, a transmissão de valores e a oportunidade de colocá-los em prática.
O educando deve sentir-se integrado na sociedade de maneira mais ampla e estar em articulação com os contextos local e global, tomando consciência da realidade vivida pelos seus semelhantes, de forma a estimular um sentido de corresponsabilidade e de solidariedade. (MARTINS, 2010).
Perrenoud (2005) destaca que escola ideal é aquela que possibilita o pleno exercício do oficio do aluno como figura principal, que não busca uma formação por adestramento persistente, e sim é capaz de ensinar a aprender fazendo. O papel da escola é estabelecer ambientes favoráveis ao desenvolvimento racional aliado com o saber.
A educação para a cidadania deve estar inserida no cerne das disciplinas e ser assumida pelos educadores. A sociedade é parte do problema e não pode transferir suas responsabilidades para o sistema educacional. São necessários professores confiáveis, mediadores interculturais, coordenadores de uma comunidade educativa. Deve-se privilegiar a figura do professor como: organizador de uma pedagogia construtivista, criador de situações de aprendizagem. A educação cidadã opera-se no debate que é fundamental em sala de aula, no campo da didática das disciplinas. Isso exige dos professores novas competências, uma nova identidade profissional. (PERRENOUD, 2005).
Moretti citado por Peruzzo (2002) aponta que a escola, além de ensinar os saberes científicos e habilitar as pessoas para a vida profissional, deve ter um objetivo maior, o de preparar as pessoas para o exercício de seus direitos. Dos direitos humanos, dos direitos de cidadão, ou seja, dos direitos civis, sociais e políticos.
Precisamos contribuir para criar a escola que é aventura, que marcha, que não tem medo do risco, por isso, que recusa o imobilismo. A escola em que se pensa, em que se atua, em que se cria, em que se fala, em que se ama, em que se adivinha, enfim, a escola que apaixonadamente diz sim à vida.
(FREIRE, 1981, p.45).
Para Perrenoud (2004) a reflexão sobre cidadania e sua aprendizagem não pode ser fruto do pensamento mágico, mas é preciso admitir as contradições de nossas sociedades e não esperar que a escola as assuma sozinha. Cada escola está inserida em um contexto social, político e econômico. Por isso é preciso que ao planejar suas atividades de aprendizagem, os professores dêem importância a formação ética e política no processo de conscientização das novas gerações com relação aos problemas a serem enfrentados.
De acordo com Freire (2000) ensinar é algo profundo onde a questão da identidade cultural atinge a dimensão individual e a classe dos educandos, é essencial à prática educativa. Freire salienta que educar não é a mera transferência de conhecimentos, mas sim conscientização e testemunho de vida, senão não terá eficácia. Para o autor educar é promover a capacidade de ler a realidade e de agir para transformá-la, dando sentido a vida cotidiana. Para isso, a educação não pode se dar alheia ao contexto do educando, nem o conhecimento pode ser construído ignorando o saber dos alunos. Daí a importância da leitura do mundo.
Se, na verdade, não estou no mundo para simplesmente a ele me adaptar, mas para transformá-lo; se não é possível mudá-lo sem um certo sonho ou projeto de mundo, devo usar toda possibilidade que tenha para não apenas falar de minha utopia, mas participar de práticas com ela coerentes. (FREIRE, 2000, p. 61).
Segundo Freire (2000) a educação deve deixar transparecer aos educandos as bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo, como seres históricos, e a capacidade de intervindo no mundo, conhecer o mundo. Ensinar, para Freire, requer aceitar os riscos do desafio do novo, enquanto inovador, enriquecedor, e rejeitar quaisquer formas de discriminação que separe as pessoas em raça, classes. É ter certeza de que faz parte de um processo inconcluso, apesar de saber que o ser humano é um ser condicionado, portanto há sempre possibilidades de interferir na realidade a fim de modificá-la. Acima de tudo, ensinar exige respeito à autonomia do ser do educando.
Entretanto a educação para a cidadania só terá chance de produzir efeitos se for um problema de todos e se perpassar todas as disciplinas e todos os momentos da vida escolar. Levá-la a sério significa, portanto, ir além das boas intenções e dos discursos, significa transformar profundamente os programas, as atitudes e as práticas. (PERRENOUD, 2005).
2.2 Metodologia
O público alvo desse projeto referiu-se aos alunos do quinto ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Padre Aristides Queiróz, do município de Pimenta – MG. Era realizado uma vez por semana e as atividades tinham duração de uma hora.
Em um primeiro momento foram realizadas dinâmicas de grupo e atividades com vistas a definir as regras e combinados do trabalho, fortalecer o vínculo entre os participantes, refletir sobre o trabalho em equipe, promover o respeito ao outro e otimizar a convivência em grupo.
Buscando identificar qualidades, habilidades e limites pessoais e possibilitar o auto conhecimento foi realizada a dinâmica “Minha Bandeira Pessoal” o que facilitou aos alunos um conhecimento mais aprofundando acerca de si mesmo e sobre o grupo, introduzindo as questões relacionadas a identidade.
Enfatizando a relação entre identidade e identidade cultural foi confeccionada uma colcha de retalhos. O objetivo era que os alunos percebessem que nós somos aquilo que vivemos. Somos um pouquinho da vida de nossos pais e avós, somos também um pouquinho da nossa vida, do nosso bairro, das pessoas que estão à nossa volta, seja na cidade ou no país onde vivemos.
O próximo tema enfatizado foi “Cidadania e Sustentabilidade”, desenvolvido através das seguintes atividades: Leitura e estudo do texto “Eu etiqueta” (Carlos Drummond de Andrade), recorte de rótulos e etiquetas citados no texto e divisão dos rótulos em bens necessários e supérfluos. Depois foi realizada uma aula expositiva associando os temas sustentabilidade e Consumo Consciente e foi aplicado o questionário: Você é um consumidor consciente? Posteriormente os alunos realizaram a construção do cartaz: Mundo que temos versus Mundo que sonhamos. Em seguida propôs-se a realização de uma dinâmica associando cidadania e sustentabilidade, direitos e deveres da Criança seguida de um debate sobre a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20). Após esse debate os alunos produziram um texto intitulado Carta ao Rio + 20. Os melhores textos foram publicados em jornal de circulação regional.
O próximo tema enfatizado referia-se a sexualidade, interligando o projeto ao conteúdo de ciências (aparelho reprodutor). Com esse tema buscou-se promover o questionamento sobre a identidade de gênero, entender a sexualidade como expressão de carinho e afeto, desconstruir mitos e tabus acerca do tema. Primeiramente foi realizada uma reunião com os pais dos alunos para discussão do tema que posteriormente foi desenvolvido através de dinâmicas (Eu gosto de ser homem/mulher), “caixinha de perguntas” e palestras.
Com a temática das drogas proporcionou-se uma reflexão sobre o que o grupo sabia a respeito de drogas, seu entendimento do problema e o que o individuo pode fazer, como estudante e cidadão, para evitar o uso. Para tanto foram usadas diferentes dinâmicas de grupo: Júri Simulado, Estudo de Caso, Verdades versus Mitos.
Para encerramento do projeto foi produzido um portfólio com as atividades realizadas ao longo do ano e as produções de texto acerca dos temas trabalhados. Além disso, a turma foi dividida em cinco grupos e cada um desenvolveu uma temática diferente (convivência em grupo, identidade, cidadania, sexualidade, drogas). Podiam desenvolver os temas através de teatros, cartazes, paródias, maquetes… As produções foram apresentadas para toda a comunidade em uma festa de encerramento realizada no Auditório da Prefeitura Municipal.
2.3 Análise de Resultados
Percebemos que com o Projeto “Com Vivência” os alunos desenvolvem uma melhor percepção acerca de si mesmo e do outro. Houve uma melhora nas relações interpessoais e na convivência do grupo, um fortalecimento dos vínculos afetivos, aumento do nível de confiança, da capacidade de resolução de problemas e conflitos e da habilidade de lidar com as diferenças.
Em relação a construção da identidade os alunos puderam apropriar-se de sua história e perceber como esta história está relacionada a do seu bairro, seu país, seu planeta, ampliando o conceito de identidade cultural. Desenvolveram ainda o auto conhecimento, reconhecendo suas características, qualidades e habilidades que os diferenciam dos demais. Assim podem se reconhecer como únicos, mas partes de um todo.
Na construção da cidadania os alunos aliaram sustentabilidade e responsabilidade social percebendo-se como autores da transformação e responsáveis pelas mudanças em sua realidade. Desenvolveram o conceito de consumidor consciente descobrindo que cidadania relaciona-se aos pequenos gestos diários capazes de criar um mundo melhor.
Em relação a sexualidade foram desconstruídos mitos e tabus acerca do tema, alargando a percepção das diferenças entre gêneros e aproximando sexualidade e afeto. Com o esclarecimento das dúvidas surgidas os alunos puderam tratar o assunto com naturalidade e respeito, utilizando-se dos termos corretos e respeitando as particularidades de cada um.
Dessa forma os alunos estão preparados para responsabilizar-se por suas escolhas. Se conhecendo melhor tomam decisões mais conscientes e podem agir com autonomia diante de situações de pressão. Nesse caso percebem os riscos que as drogas apresentam e descobrem-se como responsáveis por seu futuro e por suas escolhas.
3 CONCLUSÃO
Com esse projeto percebemos que função da educação vai muito além de ser a transmissora de conteúdos. Além de desenvolver os conteúdos acadêmicos cabe ao educador desenvolver nos alunos noções de ética e cidadania, possibilitar a construção da auto estima e do autoconhecimento.
Em uma sociedade onde os valores estão cada vez mais esquecidos, onde o “Ter” impera sobre o “Ser”, a escola deve possibilitar uma formação capaz de formar cidadãos conscientes de seu papel social, de sua responsabilidade por um mundo melhor, autores de sua própria história.
E é nas relações interpessoais que o ser constrói sua própria história, é construindo sua identidade que é capaz de compreender-se como único e diferente, mas como parte de um grupo, de um todo.
A busca por um futuro melhor para nossas crianças é de fato uma ação a ser consumada no presente. E muito mais do que palavras, precisamos ensinar com atos e exemplos. Se buscarmos realmente a felicidade, a justiça e a paz é fundamental iniciarmos uma reconstrução dentro de nossas escolas. E transmitirmos essa descoberta diariamente para as novas gerações.
Abstract
This article comes up a review of project results "Com Vivência" developed during the year 2012. The project sought to develop in students notions of ethics and citizenship, promote self-awareness and respect for differences. At the end of the work the student can integrate and be part of the group without losing its identity. May notice as part of a whole without losing track of who he is. Thus the overall goal of this project was to get students to experience interpersonal relationships, building its identity from self-knowledge and familiarity with each other. We realized that the project "Com Vivência" the students developed a better understanding about oneself and the other. There was an improvement in interpersonal relations and coexistence in the group, a strengthening of emotional bonds, increased level of confidence, the ability to solve problems and conflicts, and the ability to deal with differences. With this project we realized that the function of education goes far beyond being the bearer of content. In addition to developing academic content lies with the educator to develop in students notions of ethics and citizenship, enabling the building of self esteem and self-knowledge.
REFERENCIAS
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