Atualmente discutem-se todos os dias assuntos relacionados a queimadas, desmatamento, sustentabilidade e aquecimento global. Todos dizem que devemos salvar o planeta reduzindo isso e plantando aquilo. Isso é muito bom, mas o que isso tem a ver com o cidadão comum? A primeira resposta óbvia que vem a mente é: O clima vai ficar mais quente! Bem a resposta não esta totalmente correta!!! A temperatura média do planeta realmente vai aumentar, contudo estará ocorrendo também em alguns lugares um aumento nos extremos de temperatura, isso significa dizer que onde é quente ficará mais quente, e onde é frio ficará mais frio, além de diversas irregularidades no clima. Mas o mais importante e pouco mencionado na mídia é o impacto que o aquecimento global pode causar em nossa economia.
Até o final da década passada o mundo estava extremamente homogêneo com produtores e consumidores tendo basicamente como vantagem competitiva apenas “know how” e mão de obra barata a oferecer.
Em 1992 alguma coisinha começou a mudar no Brasil, o Rio foi sede da ECO-92 um encontro organizado pela Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a fim de estabelecer metas para o desenvolvimento sustentável, em 1997 os leigos começaram a ouvir falar de um tal de Protocolo que Kyoto, o qual estabelece metas de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) onde entre eles o principal é o CO2 .Em 2001 Estados Unidos deixou de cumprir este acordo alegando que implicaria em seu crescimento econômico. Mas tudo bem, isso foi em 2001 e ninguém se preocupava muito com meio ambiente... E outra coisa, o que isso tem a ver com o nosso bolso?
No próximo mês, dezembro, ira acontecer a chamada COP 15 (15ª Conferência das Partes, da ONU) em Copenhague, onde será definido novas metas de redução de GEE, e como os países deverão agir a fim de atingir suas metas de redução de emissões. Porem diferentemente de 2001, devido a pressões em várias esferas os Estados Unidos estará marcando presença neste encontro, e como foi dito pelo Obama em conversa com o primeiro ministro Lars Løkke Rasmussen da Dinamarca, este encontro é “criticamente importante” e ele estará “ativamente considerando sua presença”.
Atualmente as reduções de GEE são impulsionadas basicamente por duas iniciativas: Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e Mercado Voluntário.
O MDL é um dos instrumentos do protocolo que Kyoto onde estabelece limite de emissões de GEE para os países desenvolvidos que aderiram a este protocolo. As indústrias destes países possuem metas para a emissão destes gases, e uma vez ultrapassada essa meta é necessário que estas indústrias paguem por este volume na forma de “créditos de carbono”. Para os países que se enquadram neste programa, é uma solução interessante, uma vez que o custo pago pelos “créditos de carbono” é mais baixo do que investimentos e alterações nas linhas de produção e no modelo econômico do pais.
Estes créditos são criados por países em desenvolvimento que geram projetos, de forma a reduzir a emissão deste gás. Por exemplo, uma indústria em um país desenvolvido tem a cota de produção hipotética de 100 toneladas por ano, porem produz 120 toneladas, esta indústria terá de comprar 20 toneladas de “crédito de carbono” de algum projeto de um pais em desenvolvimento.
Este regime tem funcionado muito bem pelo mundo, exceto pelo Estado Unido, que criou um mercado próprio, chamado Mercado Voluntário. As regras são semelhantes, contudo as empresas aderem ao limite de emissões por mero desejo, atualmente não há nenhuma obrigação neste sentido.
Com a COP 15 isso tende a mudar, é muito provável que os Estados Unidos queiram aderir a redução destes gases de um modo formal, caso isso ocorra há indícios que haverá impactos em diversas áreas da economia.
Com as indústrias americanas tendo suas emissões de GEE limitadas, haverá uma maior demanda de “créditos de carbono” no mercado internacional, conseqüentemente empresários no Brasil (atualmente o 3º maior produtor destes créditos no mundo) passarão a investir ainda mais nesta atividade aquecendo o mercado, principalmente nas áreas de engenharia ambiental, química, tratamento de lixo, melhoria da eficiência energética em linhas de produção e em mais investimentos em energias renováveis como a eólica e PCHs (Pequenas Centrais Hidroelétricas). O que seria ótimo, especialmente pela fase em que estamos passando.
Há ainda rumores de que com a limitação de emissões dos Estados Unidos, este somente importará produtos com certificação de redução de emissão de gases, como forma de proteger seu mercado interno. Isso quer dizer que quando os Estados Unidos importarem um objeto da China ou do Brasil, não importará simplesmente qual processo de produção (e/ou mão de obra) será mais barato, mas a aplicação de tarifas na importação se dará sobre o quanto de gás carbônico foi produzido na elaboração do produto. Quanto mais GEE for emitido durante o processo de fabricação, maior será a taxação. Desta forma as linhas de produção nos Estados Unidos terão um eventual investimento em redução de GEE protegidos. Isso poderá criar barreiras de mercado internacional, especialmente o mercado Chinês como é hoje; neste caso que ocorrerá? A China irá melhorar seus processos e potencialmente aumentar seus custos? Deixará de exportar para os Estados Unidos? Vai baixar seus custos ainda mais para aumentar as vendas para seus atuais países clientes? Ainda não há como saber, contudo uma mudança no volume de exportação da China poderá impactar na cotação internacional do dólar, refletindo na cotação do nosso Real (R$).
Se levarmos em conta ainda que a matriz energética americana é uma das mais sujas do mundo, onde segundo o Institute for energy research 2009, o consumo de derivados de petróleo corresponde a 39,2%, de carvão mineral a 22,4%, somando 61,6% de fontes de GEE e que a iniciativa brasileira de utilizar bagaço de cana na geração de energia é reconhecida até mesmo pela OECD, isso nos da mais uma grande vantagem em relação ao resto do mundo do ponto de vista de venda de “créditos de carbono” podendo até mesmo gerar pressão para baixar a atual alíquota sobre o álcool brasileiro nos Estados Unidos. Isso significa aquecimento no mercado sucroalcooleiro seguido pelo mercado de fertilizantes, maquinas e geração de mais empregos no setor.
Há ainda impactos econômicos indiretos, difíceis de ser mensurado com precisão porem extremamente relevantes em nossas vidas, como as catástrofes naturais.
Eventos extremos como as chuvas torrenciais que ocorreram recentemente no Rio de Janeiro, e geraram milhões de reais de prejuízo a milhares de pessoas, são prováveis conseqüências do aquecimento global. Relatórios de empresas internacionais de seguros sugerem que entre 1970 e 1980 o valor de prejuizo decorrentes de desastres naturais foi de 3 a 4 bilhõesde dolares. Há estudos que indicam que ações efetivas tomadas hoje para a redução de GEE pode chegar a 1% do PIB de nações desenvolvidas, contudo se estas ações não forem tomadas os prejuizos podem consumir de 5 a 20% do PIB destas nações.
Com a alteração do clima há ainda o problema de uma acentuada redução na produção de alimentos, trazendo desastre econômico e social a várias comunidades. O problema se torna ainda maior se considerarmos que a produção de alimentos (agro negócio) no Brasil corresponde a uma parcela significativa do PIB brasileiro na balança comercial.
Até o momento o caminho que a COP 15 irá tomar é incerto, contudo é claro que uma vez os Estados Unidos aderindo a um programa de redução de GEE irá gerar um grande impacto na economia e no clima global. Não se trata de achar que o aquecimento global é apenas um verão mais forte, onde nós temos de por a mão no bolso apenas para comprar um ventilador, o assunto é muito mais complexo e potencialmente mais “caro” para nossos bolsos, podendo desde trazer de volta a inflação, e até mesmo devastando regiões economicamente.