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sábado, 4 de abril de 2015

Pesquisador equatoriano aborda relação entre ciência e luta

"Utopia e consciência, no campo e na cidade, a saúde se conquista com luta e liberdade". Foram com essas palavras que os alunos do mestrado profissional Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais encerram a mística - uma pedagogia dos gestos com símbolos, por meio da expressão cultural, como parte da educação do campo -, que deu início a palestra do médico equatoriano, mestre em Medicina Social, Jaime Breilh, que esteve na ENSP em 26 de março. A relação entre ciência e luta foi um dos temas abordados por Breilh, que ressaltou a importância de uma ciência crítica para a construção de práticas emancipadoras. Segundo o epidemiologista, para tenhamos uma sociedade verdadeiramente saudável, é necessário uma profunda reforma no sistema de saúde, além de transformações na agricultura e no modelo de produção vigente.

Breilh trouxe para palestra o conceito da medicinal social, uma vertente que busca superar os limites da medicina clínica, voltada apenas para indivíduo adoecido. A proposta é ir além dos problemas enfrentados pelos trabalhadores e entender a origem do processo de adoecimento, demonstrando sua determinação social e a necessidade de transformação nas condições de produção de vida. “A ideia é romper o modelo biomédico e pensar a saúde em toda sua complexidade, com seus diferentes significados e sentidos. Temos que ver a saúde como uma campo de ação”, descreveu ele.

Entrando na temática do mestrado profissional Trabalho, Saúde, Ambiente e Movimentos Sociais, a relação da ciência crítica com os movimentos sociais foi abordada pelo equatoriano. De acordo com ele é preciso pensar como queremos impactar a realidade, e para isso é necessário ter conhecimento da saúde e abordar paradigmas emancipadores para discutir a epidemiologia crítica. ”Se a luta popular morre a epidemiologia crítica morre também”, afirmou. Sobre o conhecimento em saúde, Jaime destacou três dimensões: objeto, sujeito e campo. O objeto seria a definição do ‘o que é’, o sujeito, a definição de ‘como pensamos’ e o campo, a definição de ‘como atuamos’.

Para falar sobre a questão da determinação social versus a medicina clínica, o médico usou como exemplos a nutrição infantil e problemas de desenvolvimento infantil, como o autismo. Apontou dados como prevalência de desnutrição e peso, principais causas de mortalidade infantil e elementos da patogenia do autismo. Porém, segundo Breilh, apenas dados epidemiológicos não demostram a realidade, para ele, há necessidade de se abordar profundamente a determinação social como um modelo abrangente que liga os processos de massa para os quais já existem evidências científicas.

Revendo os conceitos de saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS), lançou há algumas décadas uma definição de saúde que pretende superar uma visão restrita e a conceituou como ‘o completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença’. De acordo com o professor, ao falar sobre o completo bem-estar está se reforçando a perspectiva da percepção individual, pois somente as pessoas podem julgar e perceber esse determinado bem-estar. “É necessário superar a explicação individual e biológica da origem das doenças e adentrar num campo muito mais amplo”, analisou.

Por fim, Jaime Breilh expôs os conceitos de determinação e indeterminação e citou três aspectos da ciência sobre determinação: propriedade ou atributo (características definidas); conexão necessária (vínculo causal); e processo (modo de definição). Para ele, no entanto, a determinação não significa variações quantitativas e não se resume a uma relação única e constante.

“A sociedade é um produto humano criado por meio de um processo de autocriação ou auto instituição. A produção de coisas, valores e linguagens, têm origem na dimensão imaginária. Nesse aspecto o papel dos movimentos sociais é vital e as discussões promovidas nesse curso são peça fundamental para uma visão ampla de saúde que vá muito mais além do que apenas o modelo biomédico vigente”, alertou o professor.