Nesta sexta-feira (15/7), a Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca promoverá o seminário Desigualdades sociais e tuberculose. Coordenado pelos pesquisadores Paulo Cesar Basta e Reinaldo Souza dos Santos, o evento apresentará os resultados do projeto "Desigualdades sociais e tuberculose: dinâmica de transmissão, condições de vida e interfaces entre biomedicina e medicina tradicional indígena", desenvolvido no âmbito do edital Inova ENSP. O seminário reunirá palestrantes de instituições parceiras na elaboração do estudo, além de membros da Associação Jovens Indígenas Guarani-Kaiowá em Ação (Jiga), que intermediaram o contato e a consequente integração entre pesquisadores e os membros da comunidade. "A pesquisa gerou diversos produtos institucionais, como projetos de iniciação científica, dissertações de mestrado e teses de doutorado que estão em desenvolvimento, bem como artigos publicados e a criação do grupo de pesquisa Epidemiologia e Controle da Tuberculose em Áreas Indígenas, certificado pela ENSP no CNPq, e que desenvolve projetos relacionados à temática. Observamos que as incidências de tuberculose no Estado do MS são mais elevadas nas populações indígenas, em particular na região do Cone Sul, onde vivem os Guarani-Kaiowá. Cada colaborador envolvido contará em detalhes os componentes de seu trabalho, no contexto de nosso projeto”, antecipou Paulo Basta.
O atual projeto é um desdobramento da pesquisa aprovada na primeira etapa do edital Inova ENSP. Naquela ocasião, o trabalho desenvolvido pelo pesquisador Paulo Basta, intitulado Desigualdades sociais e tuberculose: distribuição espacial, fatores de risco e farmacogenética na perspectiva da etnicidade, teve o propósito de identificar grupos populacionais e áreas geográficas sob maior risco de ocorrência da tuberculose, além de fatores de risco relacionados ao adoecimento e efeitos adversos do tratamento da TB. Agora, o grupo de pesquisa ampliou as análises.
“O primeiro edital do Inova nos permitiu conhecer a realidade das populações indígenas no Mato Grosso do Sul, entender a magnitude do problema da tuberculose naquela região e reconhecer a concentração da doença no Cone Sul. A pesquisa a ser apresentada, agora, possibilitou que nos aprofundássemos nas investigações, seguindo não só a vertente da epidemiologia, mas também outras dimensões de análise e outros elementos que incorporaram abordagens qualitativas. Também tivemos a felicidade de encontrar o grupo que forma a Jiga”, afirmou Basta.
Presentes na reunião de planejamento do seminário, Aparecida Benites (Kuña Jeguaka’i em Guarani) e Cleimar Alves (Ava Apyka Rory), membros do grupo Jovens Indígenas Guarani-Kaiowá, destacaram a importância do trabalho da Fiocruz na região e a oportunidade de resgatar antigos hábitos da etnia.
“Meu nome quer dizer “mulher enfeitada”, e todos nós temos nomes batizados pelo pajé. Falaremos sobre o grupo de jovens ao qual pertencemos e das dificuldades para manutenção da nossa cultura nos dias de hoje. A parceria com a Fiocruz nos motivou a retomar a nossa língua. Tinham termos que nem nós sabíamos, mas aprendemos após as conversas com os pajés. Falaremos desse momento espetacular que passamos durante a pesquisa”, revelou Aparecida.
Cleimar, que atuou também na transcrição das gravações e tradução das entrevistas realizadas nas aldeias na língua indígena, detalhará o processo. “Tivemos algumas dificuldades na tradução das palavras antigas utilizadas pelos rezadores e falaremos sobre essa aprendizagem.”
Além dos participantes da Jiga, haverá apresentação da pesquisadora Islândia Maria Carvalho Sousa, do Centro de Pesquisa Ageu Magalhães da Fiocruz, da pesquisadora Verônica Marques Zembrzuski, do Laboratório de Genética Humana, do Instituto Oswaldo Cruz e da pesquisadora dinamarquesa Ida Viktoria Kolte, bolsista de pós-doutorado pelo programa Ciências Sem Fronteiras/Capes. Também participarão ativamente do seminário os alunos da Pós-Graduação em Epidemiologia em Saúde Pública Jocieli Malacarne, Laís Freitas e Melissa Heinrichi, orientados pelos coordenadores do projeto.
Confira a programação completa:
9h - Abertura e apresentação dos participantes
9h10 - O projeto “Desigualdades sociais e tuberculose” e seus desdobramentos: 1) Distribuição espacial, fatores de risco e farmacogenética na perspectiva da etnicidade;
2) Dinâmica de transmissão, condições de vida e interfaces entre biomedicina e medicina tradicional indígena – concepção da proposta de trabalho; trajetória dos trabalhos de campo; envolvimento de alunos da pós-graduação; parcerias com outras instituições; resultados/produtos obtidos; perspectivas futuras – Paulo Basta
9h30 - A experiência de integrar o grupo de pesquisa da ENSP e os impactos desse processo para os membros do grupo Jovens Indígenas Guarani-Kaiowá em Ação (Jiga) – Aparecida Benites e Cleimar Alves
9h50 - Atenção aos pacientes indígenas com tuberculose do Distrito Sanitário Especial Indígena Mato Grosso do Sul (DSEI-MS) – Laís Freitas
10h10 - Fatores associados ao adoecimento por TB entre indígenas do Estado do Mato Grosso do Sul: um estudo de caso-controle – Jocieli Malacarne
10h30 - Intervalo
10h40 - Fatores associados com hepatotoxicidade relacionada às drogas anti-TB e polimorfismos genéticos em populações indígenas e não indígenas no Brasil – Verônica Zembrzuski
11h - Dinâmica de transmissão nas aldeias do Polo Base de Amambai, Mato Grosso do Sul – Melissa Heinrich
11h20 - Estigma de tuberculose e condições de vida nas aldeias do Polo Base de Amambai, Mato Grosso do Sul - Ida Kolte
11h40 - Interfaces entre biomedicina e medicina tradicional indígena – Islândia Carvalho de Sousa
12h - Debate / Encerramento – Moderador: Reinaldo Souza-Santos
Serviço
Local:
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Sala 410
Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP)
Rua Leopoldo Bulhões, 1.480 - Manguinhos