FOTOGRAFIAS

AS FOTOS DOS EVENTOS PODERÃO SER APRECIADAS NO FACEBOOCK DA REVISTA.
FACEBOOK: CULTURAE.CIDADANIA.1

UMA REVISTA DE DIVULGAÇÃO CULTURAL E CIENTÍFICA SEM FINS LUCRATIVOS
(TODAS AS INFORMAÇÕES CONTIDAS NAS PUBLICAÇÕES SÃO DE RESPONSABILIDADE DE QUEM NOS ENVIA GENTILMENTE PARA DIVULGAÇÃO).

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Escolas de Samba do Rio de Janeiro: Mangueira

Mangueira Samba Enredo

Mangueira Escola de Samba Bandeira

 Mangueira

Rua Visconde de Niterói 1072 Mangueira

Ensaios: Sábados 22:00

Cores: verde e rosa
Fundada em 1928




Escola de samba carioca fundada em 28 de abril de 1928, no morro da Mangueira. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Estação Primeira de Mangueira se orgulha de ter como fundadores; Carlos Cachaça, Cartola e Zé Espinguela.

Antes da fundação da escola, no morro da Mangueira já haviam cordões de carnaval, dentre os quais se destacavam "Guerreiros da Montanha" e "Trunfos da Mangueira". Além dos cordões, haviam os ranchos que permitiam a participação das mulheres nos cortejos, o uso de alegorias, enredos e porta estandarte. Na história do carnaval carioca, foi a primeira a manter uma única marcação do surdo de primeira na bateria.
No símbolo da escola, o surdo representa o samba; os louros, as vitórias; a coroa, o bairro imperial de São Cristóvão; e as estrelas, os títulos. A escola possui em sua história, 18 títulos e um supercampeonato conquistado no ano da inauguração do Sambódromo em 1984. O cantor Jamelão, que não gostava de ser chamado de puxador, foi o intérprete dos sambas da escola de 1949 a 2006. Uma das mais antigas (embora não a primeira) das escolas de samba do Rio.

Enredo: Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira.

Compositores: Igor Leal, Lequinho, Junior Fionda e Paulinho Carvalho

Samba Enredo

Salve a tribo dos bambas!
Onde um simples verso se torna canção...
Salve o novo palácio do samba!
O “Doce refúgio” pra inspiração
Debaixo da tamarineira
Oxóssi guerreiro me fez recordar
Um lugar... O meu berço num novo lar
Seguindo com os “pés no chão”
“Raiz” que se tornou religião
Da boemia, dos antigos carnavais
Não esquecerei jamais!
Firma o batuque, quero sambar...
Me leva!
A Surdo Um faz festa!
Esqueça a dor da vida...
Caciqueando na avenida


Sim...
Vi o bloco passando, o nobre rezando e o povo a cantar
Sim...
Era um nó na garganta ver o Bafo da Onça desfilar...
Chora, chegou a hora eu não vou ligar
Minha cultura é arte popular
Nasceu em Fundo de Quintal...
Sou Imortal e vou dizer
Agonizar não é morrer
Mangueira, fez o meu sonho acontecer... (hey, hey, hey)
O povo não perde o prazer de cantar
Por todo universo minha voz ecoou
Respeite quem pôde chegar
Onde a gente chegou!
Vem festejar, na palma da mão
Eu sou o samba, “a voz do morro”!
Não dá pra conter tamanha emoção
Cacique e Mangueira num só coração

Enredo de 2012

"Vou Festejar! Sou Cacique, Sou Mangueira."

Sinopse


Tudo começou na África, num tempo em que eu era ainda moço e minha tribo estava a mercê do perigo e os sacerdotes cuidavam de expulsar com reza forte as vibrações de má sorte que rondavam nossa morada.
Lembro-me que os mensageiros da morte vieram de longe, do outro lado das águas, talvez, não tivessem sequer no corpo o bronze da nossa pele, não tinham os lábios carnudos, eram estranhos em tudo! E até mesmo esses detalhes que constroem a nossa face, neles eram diferentes. Juro que inocente, pensei até em disfarce.
Conduzido pela dor, fui levado prisioneiro ao traiçoeiro Negreiro, o reino da apatia. Lá, sujeito às doenças e a fome que habitavam aquele porão sombrio, caí no mais denso e frio estado de melancolia.
E era como um açoite, a escuridão da noite, toda vez que ela chegava. E eu sofria pesadelos, acordava assustado. Ainda na inocência, confundia a luz da vidência com as trevas dos maus presságios.
Ao desembarcar, os pés feridos, descalços, vi quando o sal do oceano espalhou-se sobre o chão molhado desenhando uma linda concha do mar e, ouvi a voz de Iemanjá me falar: este "Mundo" é o teu "Novo" lar! Prepara-te, o teu futuro te reserva coisas lindas, surpresas te virão ainda.
Já em terra firme, nos primeiros anos depois que saí da minha terra, suportei a mão pesada da escravidão e as feridas da solidão.
Certa vez, escondido pelo breu da noite, resolvi caminhar na mata. Eu já andara bastante. Com a respiração ofegante, parei pra descansar um instante.
E o sono foi me apagando, a cabeça meio tonta, eu já nem me dava conta do perigo de dormir longe da senzala, do povo da minha tribo, sem a proteção de um abrigo.
E ali sonhei meu destino. No sonho um guerreiro caçador, o cacique dos índios, passeava naquelas terras e me viu sentado sob uma tamarineira que ele havia plantado no seu tempo de menino.
Sentou-se ali, ao meu lado, desenhou com seu arco, no chão, uma pequena flecha e, com amabilidade, perguntou a minha idade, quis saber em que cidade eu havia nascido.
E eu, me sentindo à vontade lhe falei dos deuses iorubás, da minha terra natal, do cordão umbilical, do rio da minha aldeia.
E ele, com calma, me falou do poder das folhas e das raízes que transformam em cicatrizes ferimentos e mordeduras de aranhas e de serpentes; dos banhos quentes de algumas ervas e sementes, que curam até os doentes de alma.
Ao voltar pra senzala era como se meu coração tivesse fala. O Rio de Janeiro era o meu novo terreiro e nas batucadas, nas festas, na alegria das ruas, nas brincadeiras do povão, encontrei meu destino e enganei a solidão.
Quando o Entrudo chegava uma maravilha de ruídos invadia as ruas, um barulho encantador que contrastava com a sujeira reinante. Divertidas batalhas com limão de cera, água e farinha branca atiradas sobre os participantes aconteciam a todo instante.
Zé-pereira, bumbos, rostos e bumbuns de negros azucrinando nas praças e no passeio público, zombando, se divertindo, enquanto a viola chorava e espinoteava espantando a tristeza. E tudo era instrumento, flauta, violões, pandeiros, latas, gaitas, frigideiras de ferro, caixotes e trombetas. Instrumentos sem nome, inventados subitamente no delírio da improvisação, do ímpeto musical, na força do sentimento.
Já que batucar na cozinha Sinhá não deixava, o nosso canto ecoava nas senzalas e invadia as ruas. Aliás, na rua do Ouvidor, na rua Direita ou no Largo de São Francisco tudo era canto e os sons sacudiam e movimentavam as vestimentas de cores vivas, ardentes, dançando e tateando os corpos que exalavam o doce perfume da alegria.
A elite fazia biquinho e implicava, chamava nossa festa de selvagem e brutal e que o verdadeiro carnaval estava nos salões da nobreza de Paris e Veneza.
Discriminada e com as autoridades policiais no encalço, a turma dos descalços e descamisados tratou de arrumar um jeitinho para continuar festejando.
Com um olho no padre e outro na missa lutamos dançando, dançamos rezando e rezamos cantando. As festas, celebrações e procissões dos brancos, agora, serviam como máscaras e disfarces. Por trás delas festejávamos nossas entidades sagradas e batucávamos até o sol raiar.
Organizados em Cordões carnavalescos, cantadores e dançarinos, palhaços, a morte, os diabos, os reis, as rainhas, as baianas, os morcegos e os índios também entraram na dança e colocaram a polícia pra dançar.
No noturno da Praça Onze, ali mesmo na nossa "Pequena África", os desfiles do Pastoril e dos Maracatus em louvor à Ciata D'Oxum, a tia-mãe-baiana dos festejos, se tornaram a sensação e os luxuosos Ranchos cantadores, dominados pelos negros e castanhos, rompiam a massa colorida em grande animação. Para matar a sede dos cantadores e dos berradores, os refrescos de coco, os gelados de abacaxi e limão. Para a fome, bolos de fubá, pé-de-moleque, alcaçuz, tapioca, manauê e feijoada no caldeirão.
Mascarada, a elite branca se esbaldava no luxo dos salões, nos desfiles dos corsos e das grandes Sociedades. O povo negro e pobre, barrado no baile burguês, continuou dono das ruas e vielas como legítimos senhores da folia.
Música, fanfarra, préstito, maxixe e, finalmente, de semba se fez samba. Abençoadas por Nossa Senhora do Rosário, na Festa da Penha, as negras suspendiam as saias rodadas e dançavam, nos requebros das ancas, no arranco das umbigadas. Enquanto os senhores rezavam na parte alta das escadarias, na parte de baixo, a sensualidade era religiosa, o ritmo dos batuques era sacerdotal e feiticeiro. Ali desaguavam os cantos e as melodias de todo o povo brasileiro e os compositores da primeiríssima geração de sambistas, testavam a popularidade do seu cancioneiro.
O tempo passou. A cidade se transformou em uma selva de pedra onde a "Onça" reinava absoluta e era a principal atração. "Vejam todos presentes, olha a empolgação, este é o Bafo da Onça que eu trago guardado no meu coração". Até que um dia, um "Cacique" bamba entrou na folia e dividiu a tribo do samba sem vacilação. "Foi lá no fundo do seu quintal que o samba pegou moral e agitou a massa, e o povo voltou a cantar e sorrir, caciqueando aqui e ali, abrindo o coração pro amor".
De repente as ruas esvaziaram-se! Será que a "Onça" vacilou, foi beber água de cheiro e se afogou?! Até mesmo o bravo "Cacique" parecia cansado das batalhas de confetes e desanimou! Para onde teria ido a alegria? Onde estaria a espontaneidade que transformava cem pessoas saídas de um bairro em quinhentas, em mil, sem ninguém se conhecer?
Mas o samba é eterno, não tenho medo de responder! Ele até pode agonizar, mas jamais irá morrer! A "Onça" marcou bobeira e não mais saiu da toca, mas o "Cacique", malandro, mudou de oca, foi fazer morada à sombra de uma tamarineira e ali no subúrbio da Leopoldina, abençoado por Oxossi, o pagode ecoou vindo do "Fundo do Quintal" e embalado por banjos, repiques, tantãs e pandeiros conquistou o Brasil inteiro.
"Batam palmas, gritem, soltem a voz. Pra manter o pique só depende de nós"!
O carnaval, a partir daí, não terminava mais na quarta-feira de cinzas. Quase sem querer, ele se fragmentou em diversas festas nos lares das famílias simples, em animadas rodas de samba, em batuques sobre mesas de bares, confirmando que a tribo do samba ainda queria apito, sem necessariamente o pau ter que comer!
Isso tudo já faz muito tempo. Hoje eu chego com o vento e volto aos pés da velha tamarineira, sento-me novamente ao lado do guerreiro e de Oxossi em saudação ao meio século de história do Cacique de Ramos. Nós somos as raízes e o Cacique é o tronco desta árvore que deu frutos como Jorge Aragão, Almir Guineto, Arlindo Cruz, Dicró, Mauro Diniz, Zeca Pagodinho, Luis Carlos da Vila e Neguinho da Beija-Flor, entre outros nomes, além da dindinha Beth Carvalho um bendito fruto feminino entre tantos homens.
Salve a tribo dos bambas; esse "Doce Refúgio" de pagodeiros e malandros no bom sentido da palavra.
A tribo que bate tambor e faz ecoar o surdo de primeira pra saudar a sagrada tamarineira e confirmar que o bom samba também mora em Mangueira.
Afinal, "onde eu cheguei, nem um mortal chegou, modesta parte nessa arte, Deus me consagrou e o meu canto ecoou por todo universo, até em Marte o meu samba fez sucesso!"
Por tudo isso vou festejar, pois sou Cacique, sou Mangueira!